As variações de curto e médio prazo no
PIB real costumam ser chamada de ciclo de negócios. Apesar do nome ciclo, esses
movimentos não seguem um padrão periódico ou mecânico. Cada país apresenta uma
tendência de crescimento do PIB ao longo do tempo e os ciclos ocorrem em torno
dessa tendência, chamada de produto potencial. Alterações no ciclo estão
atreladas, prioritariamente, a fatores conjunturais, tal como taxa de juros,
taxa de câmbio, safras, etc. Por outro lado, as alterações na tendência (as
mais importantes) devem-se a fatores estruturais, tais como o sistema
tributário e trabalhista, direitos de propriedade e, principalmente, questões
relacionadas à produtividade.
Flutuando em torno dessa tendência, a
economia passa por momentos de expansão, onde o produto supera o seu valor
potencial, e por momentos de recessão, onde o produto fica abaixo do potencial.
Em ambos casos, o formulador de política econômica se defronta com problemas. Com
o produto acima do seu potencial, a demanda é maior do que a oferta, o que pode
resultar em pressão inflacionária. Assim, parte da demanda interna será
atendida por importações e a sustentabilidade das contas externas, bem como o
nível da taxa de câmbio, dependerá da entrada de capitais no país. Além disso,
a taxa de juros costuma ser usada como forma de interromper a formação da
espiral inflacionária, tendo como conseqüência um desaquecimento da atividade
econômica no país, em virtude do mais alto custo do crédito. No caso oposto,
quando o produto fica abaixo do potencial, o formulador de política deve
enfrentar os problemas relacionados ao baixo crescimento e o desemprego.
À luz da teoria, o papel dos
formuladores de política econômica seria fundamentalmente reduzir a amplitude e
a freqüência desses ciclos, assim como possibilitar que os momentos de expansão
sejam mais extensos do que os de recessão. A preferência por uma menor
variabilidade no PIB ao longo do tempo se fundamenta no fato de que a volatilidade
aumenta o grau de incerteza, e essa reduz o horizonte de planejamento dos
agentes da economia, inibindo o investimento, com conseqüências importantes
sobre o crescimento de longo prazo.
O melhor dos mundos seria alcançar um
ponto em que o produto real crescesse na mesma magnitude que o potencial. Dessa
forma, haveria crescimento sem pressão inflacionária nem desemprego, entretanto
essa situação é mais fácil de ser verificada nas páginas dos manuais de
macroeconomia, restando ao formulador de política econômica a incessante busca
pelo equilíbrio. Nesse sentido, todos os responsáveis pela condução das
políticas fiscais, monetárias e cambiais dos países deveriam saber que momentos
de expansão, assim como de recessão, são transitórios, para poderem “consertar
o telhado nos dias de sol e ficarem mais tranqüilos nos dias de chuva”.
Em alguns casos, o ciclo de negócios é
altamente correlacionado ao desempenho de uma mercadoria. Dessa forma, tanto o
produto real quanto as receitas do governo depende das vendas dessa mercadoria
no mercado externo. Esse é o caso do Chile (cobre), Peru (pérolas) e muitos
países exportadores de petróleo. O problema é que por serem commodities, esses
produtos tem seu preço fixado no mercado internacional e, assim, os ciclos
ficam muito vulneráveis à volatilidade das condições de oferta e demanda no
mercado internacional. Uma prova do amadurecimento da idéia de responsabilidade
econômica, “o consertar o telhado no dia de sol”, tem sido a constituição de
diversas regras de política fiscal, que consistem, basicamente, em poupar uma
fração do valor arrecado nos momentos de expansão para dinamizar a economia
durante as recessões.
No caso brasileiro, tanto a variedade de
setores industriais, quanto a diversificada pauta de exportações de commodities
tornam os fatores que impulsionam os ciclos mais complexos do que nos países
citados acima. Entretanto, tem-se observado propostas para aproveitar o bom
momento econômico para “consertar o telhado”. Os recentes debates sobre a
necessidade de ajuste do gasto público, sobre o montante acumulado de reservas
internacionais e a proposta de formação de fundo soberano consistem em
mecanismos que forçam poupança num momento de alta prosperidade para amortecer
os impactos das recessões.
Entretanto, cada uma dessas medidas
apresenta custos e benefícios que devem ser pesados. O ajuste nas despesas do
governo e as reformas previdenciárias e trabalhistas, apresentariam os melhores
benefícios no longo prazo, pois possivelmente promoveriam um aumento no nível
de crescimento potencial do produto. Contudo, essa contenda é a de maior custo
político, além de impopular, de forma que exigiria um grande esforço e desgaste
do Governo.
Por outro lado, o acumulo de reservas
internacionais é realizado com o argumento de que o país estará blindado a
crises internacionais. Contudo, caso isso o ocorra, a demanda de divisas será
maior que a oferta e então haverá uma desvalorização do real. Porém, a
necessidade de divisas em uma economia com cambio flutuante deve ficar em
segundo plano.
De fato, medidas que busquem ajustar a
trajetória de crescimento de longo prazo para evitar grandes oscilações no
produto são válidas. No atual momento econômico é bom que seja guardado um
espaço para discutir como minimizar os impactos de uma desaceleração.
Publicado no Informe Econômico de 02/06/2008
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