terça-feira, 12 de agosto de 2014

Estamos em recessão!

          Que a atividade econômica no Brasil está mais baixa, o mercado de trabalho não evolui da forma generosa que anteriormente, quando as estatísticas se beneficiaram do processo de formalização do emprego, e que os níveis de confiança de consumidores e empresários estão lá em baixo, tal qual os investimentos, não é novidade para analistas, desde que não estejam institucionalmente comprometidos. Nesse caso, qual seria a dificuldade em afirmar que estamos em recessão?
                Talvez por ser ano eleitoral e isso soar como um discurso oportunista. Ou então porque, como é a crença popular, a recessão só é configurada quando se tem dois trimestres consecutivos de queda no PIB. Ou ainda, porque não juntamos a peça do quebra-cabeça de economia. Arrisco afirmar que é um pouco de tudo isso. Alguns analistas preferem não tocar no termo, que tem o poder de gerar mais expectativa negativa. Outros porque acreditam mesmo nessa crença popular e talvez emitam opinião apenas depois que o Papai Noel deixar os presentes na lareira. Me encaixo no terceiro grupo e me redimo com o leitor nesse momento, após ter completado a junção de peças.

O Brasil "Estado"

            A dificuldade que temos para crescer de forma continuada e estável está relacionada à baixa produtividade da economia. Em alguns setores essa deficiência se manifesta de forma mais cruel, como é o caso do setor industrial, muito exposto à concorrência externa. Mas também podemos ver diversas outras ineficiências e que impactam desde a empresa que nos atende no estacionamento, nos serviços de restaurante e até nas transações na internet. O que não faltam são exemplos  de baixa produtividade, em especial do fator mão-de-obra.
Na maioria das vezes podemos superar as dificuldades com uma educação mais rígida e a imposição de meritocracia. Mas, por maior que seja o esforço do lado de cá, iremos esbarrar em um muro que consome recursos e energia e, pelo visto, tende a piorar com o tempo. Falo exatamente da enorme presença do Estado nas nossas vidas.
                Os números assustam, mesmo que essa análise seja ponderada pelo aspecto cultural, onde a todo momento se vê demanda por algo gratuito e fornecido pelo Estado.  Parece que o Brasileiro quer sempre o Estado. Algo interessante e ambíguo com a declaração de que não se quer pagar imposto. Vamos aos dados.

Flertando perigosamente

         A inflação continua a surpreender a todos os agentes econômicos: i) as famílias que, ao se depararem com os preços altos começam a reduzir o consumo; ii) as empresas que flertam com a retração da demanda, de um lado, e a continuidade das pressões salariais de outro, pisam no freio da produção e, por tabela, postergam investimentos; iii) e o governo que também fica surpreendido, mas não parece preocupado.
                A ciência econômica nos mostra que há, fundamentalmente, dois canais de combate aos preços, o fiscal e o monetário (sim, também é possível usar o câmbio e fazer congelamento de preços, mas não são medidas eficientes). O primeiro canal é direto. Na medida em que o governo segura gastos, para um dado nível de arrecadação, contribui para retrair a demanda agregada da economia (não se preocupe, esse é o nome técnico dado pelos economistas para o PIB). O segundo não é direto, são ações paulatinas, demora um pouco mais de tempo para se materializarem e geram diversos outros impactos não desejados na economia. Vamos analisar um pouco de cada um.

O que é de fora não me atinge

            Os últimos dados referentes à Balança de Pagamentos do Brasil levantaram a opiniões diversas de analistas econômicos. Alguns otimistas com o fato do envio de rendas ao exterior mostrar resultado “menos pior” que o esperado, outros ainda pessimistas com tamanho déficit nas transações com o resto do mundo.
Há duas importantes fontes de desequilíbrio no setor externo que devem ser melhor entendidas. A primeira está relacionada à perda de dinamismo na receita com exportações e, a segunda, naturalmente, com importações.

PIBinho, PIB, PIBão!

           A divulgação, na semana passada, dos dados de fechamento do PIB do Brasil em 2013 coloca em perspectiva o melhor adjetivo a utilizar. Para alguns, o resultado de 2,3% pode se interpretado como PIBinho, também havendo aqueles que acreditam em um número mais bem relacionado com PIB e os otimistas, que preferem o PIBão.
               Porque PIBinho? Pelo fato de, comparativamente ao mundo, com expansão de 2,4% e também em relação aos nossos pares, crescemos pouco. A média dos países em desenvolvimento foi de 4,8% e regionalmente também decepcionamos, uma vez que na Europa emergente o resultado é de 3,4% e na América Latina e Caribe de 2,4%. Além disso, é um resultado insuficiente para resolver nossas necessidades sociais. Porque seria PIB?  Pelo fato de que o nosso resultado de 2013 está dentro da nossa capacidade histórica. Entre 1997-2013, acreditando que ainda estamos sob o regime do Plano Real, o país cresceu 2,9% ao ano. Portanto, apesar de 2,3% estar um pouco abaixo dessa média histórica, ainda é um resultado mais em linha com nossa realidade. Por fim, há quem defenda o PIBão? Talvez sim, principalmente em Brasília. Desculpe, torturei bastante os dados, mas infelizmente não consigo achar subsídios para sustentar esse adjetivo.  Talvez se compararmos com o resultado pífio de 2012, que foi de 1%, ou com o de 2009 de –0,3%. Ah, também é um PIBão relativamente ao desempenho de 0,7% na Venezuela no ano passado.

Juros e inflação: casamento perfeito.

          A dúvida sobre a possibilidade dos juros básicos no Brasil atingir novamente os dois dígitos foi substituída pela eficácia e impactos que o mesmo pode produzir nos próximos meses. Ou seja, será que a Selic a 10% será o suficiente para segurar a inflação? E mais, isso irá prejudicar o crescimento econômico em 2014?
                No País do “jeitinho”, até em economia tentamos adaptar os modelos propostos e ensinados nas melhores Universidades mundo afora.  O que funciona nos Estados Unidos, países Europeus, Japão, Chile e México, não necessariamente terá o mesmo efeito no Brasil. O melhor exemplo é o da Política Monetária. A ciência nos ensina que aumentos de juros são feitos com o objetivo de promover o equilíbrio monetário, independente se a origem da inflação é de demanda ou oferta.  Claro, há outras ações que podem ser feitas para complementar e que são vistas mais como pontuais, como os depósitos compulsórios e redução de prazos de financiamento. Em tese, juros maiores irão restringir a demanda por crédito, em especial no financiamento de bens duráveis e, com isso, segurar o ímpeto de consumo das famílias. 

Como está o crédito no Brasil?

           Um dos vetores mais importantes do modelo de crescimento da economia brasileira nos últimos quatro anos foi o crédito, tanto para empresas quanto para famílias. Porém, de uma expansão de 24% em 2009 registrou, no mês de setembro, crescimento de 9,6% acumulado em 12 meses. À primeira vista o número pode parecer robusto, ainda mais se comparado com o desempenho das vendas do comércio, que crescem 5,1%, e se mostram com tendência de queda, e também da indústria, que praticamente se estabilizou em uma taxa de 1,1% para o mesmo período.
                Nesse sentido, o que explica ainda verificarmos expansão do crédito e a economia não produzir o efeito desejado? A resposta está na sua composição. A engenharia desse sistema no Brasil envolve, de um lado, o crédito direcionado, onde estão tanto as aplicações do BNDES, que desde 2010 já aumentou sua carteira em R$ 165 bilhões, quanto as operações feitas por bancos públicos e privados ao setor rural e habitacional (esse com acréscimo de R$ 247 bilhões desde 2010) e, de outro, o crédito livre, onde a instituição financeira escolhe se quer realmente destinar crédito, para onde e a qual taxa e prazo.

O cenário econômico não está bom

         O cenário macroeconômico prospectivo para a economia brasileira em muito será influenciado pelos resultados de indicadores de fechamento do terceiro trimestre que estão em fase de divulgação. Nesse caso, o mais recente e que serve muito mais para traçar um comportamento cíclico do que em termos de magnitude, é o comportamento da indústria.
        O terceiro trimestre de 2013 se encerra com –1,41% sobre o segundo trimestre, e é o pior resultado desde o último trimestre de 2011, quando a queda foi de 1,69%. A despeito do número negativo, a avaliação em 12 meses ainda mostra um avanço da indústria  em 1,1%, como pode ser visto no gráfico, e deixa  claro que o novo ciclo, iniciado nesse ano, é de retomada.

E o câmbio?

             A taxa de câmbio continuou a ser uma das variáveis mais importantes no acompanhamento do cenário econômico brasileiro durante o mês de setembro. A despeito do forte recuo da cotação, de R$/US$ 2,39 para R$/US$ 2,20, na esteira das ações do Banco Central do Brasil e da dissipação com as incertezas sobre a mudança de política monetária nos Estados Unidos, o fato é que, do ponto de vista estrutural, ainda persistem desequilíbrios importantes, e que pode resultar em volatilidade nos meses seguintes.
                Um desses desequilíbrios pode ser visualizado nos dados do Balanço de Pagamentos onde o déficit em conta corrente, a diferença entre o que enviamos do que captamos de dólares com o exterior pela via comercial e de serviços, continuou a dar sinais de deterioração. No acumulado dos oito primeiros meses do ano atingiu os 4% do PIB, US$ 58 bilhões, contra 2,1% verificados para o mesmo período de 2012, um nível considerado elevado, mesmo para os nossos padrões históricos brasileiros.

domingo, 10 de agosto de 2014

O caso Ford

Lá se vão 14 anos de um caso que ficou emblemático para a economia do Rio Grande do Sul, a desistência da Ford em construir uma fábrica no Estado Gaúcho. Não deixamos de existir nem de tocar as nossas vidas depois do episódio. Mas é preciso esclarecer os custos econômicos dos atos impensados. Até o ano de 2001, o Estado da Bahia praticamente não tinha um setor de veículos. Eram 27 empresas que empregavam apenas 570 funcionários que, em média, recebiam R$ 419 por mês. Claramente micro e pequenos fabricantes de peças e acessórios em um setor que representava somente 0,1% da indústria local. O que aconteceu desde então é de encher os olhos de qualquer um. Os últimos dados disponíveis mostram um setor com 89 empresas que empregam mais de 10 mil funcionários. Aquele salário pequeno ficou no passado. Atualmente, a média é de R$ 2,5 mil por mês e a indústria de veículos passou a representar 7,4% do PIB da indústria da Bahia. Isso é mais do que o PIB de toda a indústria de calçados do Rio Grande do Sul.

Soja Grande do Sul Até quando iremos depender desse ciclo?

Em que pese o bom resultado da economia do Rio Grande do Sul no ano de 2013, há poucos elementos a favor da tese de que trilhamos uma trajetória de crescimento sustentado. Esse filme já é antigo e conhecido de todos nós. A cada ciclo de queda acentuada na produção agrícola, que acaba por dar bastante trabalho ao Governo do momento para justificar que rezou e fez todo o possível, mas que, infelizmente, não foi atendido por São Pedro, segue-se outro de euforia e discursos sobre o sucesso da política econômica do momento. Mas, nessa última década o que se percebe é que mudamos várias vezes o lado da política, mas nada fizemos para resolver o econômico e minimizar os impactos negativos das oscilações no setor no Estado.

2013 – ainda não é o ano do país do futuro

Passados quase cinco anos desde os primeiros sinais da crise internacional em 2007, ainda é possível ver a grande heterogeneidade presente nos diversos indicadores macroeconômicos em vários países.
De um lado a Europa ainda se debate com a dificuldade em solucionar o problema no setor financeiro, potencializado pelas dificuldades fiscais dos Governos. O tão esperado benefício do tempo para solucionar a crise não veio. Aliás, as projeções para 2013 são de mais um ano ruim, só que, desta vez, em um cenário mais disseminado dentre os países da região.

Construção Civil: Um novo ciclo?

Nos últimos anos um dos setores econômicos que mais chamou atenção de analistas no Brasil, com forte apelo na sociedade, foi a Construção Civil. Fonte de desestabilização no cenário internacional a partir de 2007 e importante vetor do crescimento econômico nacional, o mesmo mostrou-se exuberante na criação de empregos, realização do sonho da casa própria, melhorias na infraestrutura urbana e a alegria dos agentes financeiros, isso sem falar nos impactos na sua longa cadeia de fornecedores. Essa expansão foi tamanha que, por vezes, se discutia a formação ou não de uma bolha no mercado de imóveis com o aumento de preços em várias capitais. 

Essa segunda crise é diferente.

Em primeiro lugar, não há um risco sistêmico no setor financeiro da mesma dimensão do presenciado na “crise do subprime”, a despeito da presença de vários títulos em carteira que podem não valer tanto quanto se contabilizava. A comparação entre os testes de stress feitos nos EUA e na Europa irá permitir apenas inferir que os bancos americanos estão mais bem posicionados que seus pares europeus, porém, líquidos o suficiente para enfrentar novas turbulências.
O segundo fator de diferença é a origem das “dúvidas”. Anteriormente, estas pairavam sobre o crédito e seu colateral. Agora, questiona-se a capacidade dos diversos governos em honrar seus compromissos de curto e médio prazo. Ou seja, é um problema fiscal, típico de governos acostumados a gastar mais que arrecadam. Isso não é novidade, e esse desequilíbrio foi, durante muitos anos, facilmente administrado com crescimento econômico. Ao romper esse lastro, expõem-se as fragilidades e a necessidade de ajuste estrutural dos gastos públicos. Uma medida que tem custos políticos que já fazem suas vítimas nos dois continentes. Daí a dificuldade em solucionar de vez essa crise, criando um impasse que apenas serve de mais combustível para aumentar a incerteza nos mercados de ativos.
A aprovação de ampliação do limite de dívida do Governo nos EUA é o exemplo mais recente. Criado em 1917, o limite estatutário foi revisto mais de 100 vezes, principalmente em recessões, onde aumenta a necessidade de se usar a política fiscal, junto com a monetária, para impulsionar a economia. A última aprovação, feita no final do mês de julho, é a que carrega o maior valor financeiro e, ao mesmo tempo, uma exigência de contrapartida sem precedentes para sua liberação. É nesse ponto que reside parte da volatilidade dos mercados. Ao apontar a necessidade de cortes orçamentários para um prazo de 10 anos, e o custo político da negociação para aumentos posteriores nesse limite, a economia americana perde o apoio fiscal para enfrentar a crise no curto prazo. Em um cenário com juros próximos a zero, a consequência imediata, e que os mercados colocaram no preço dos ativos, foia previsão de menor crescimento até o final de 2012. Nota-se que esse quadro é muito diferente dos problemas financeiros de 2008.  Sendo assim, o nome mais correto para essa segunda onda seria “crise fiscal”.

O Brasil se insere nesse contexto de maneira singular não só em relação a outros países, mas, também, em relação ao passado. É claro que vamos sentir seus efeitos, ainda mais se o preço de importantes commodities continuar a cair e a nossa demanda por exportações retrair-se. A principal argumentação para o enfrentamento dessa crise é que temos reservas de dólar em caixa, sendo uma parte substancial desse recurso em títulos de dívida dos EUA (cerca de US$ 205 bilhões) e também um sistema financeiro capaz de dar sustentação a um possível cenário de liquidez. O diagnóstico está correto, mas, o que preocupa é o remédio que está sendo prescrito: mais crédito. Uma vez que se entenda que a natureza dessa segunda crise é outra, o governo deve ter a clareza de oferecer um tratamento diferente: controle do gasto público, como forma de abrir espaço para redução dos juros. Certamente os benefícios irão aparecer ao fim desse ciclo de ajuste no cenário internacional.

Publicado no Jornal do Corecon 16/agosto/2011

EUROPA: UMA INTEGRAÇÃO LENTA QUE PODE PREJUDICAR O BRASIL

A constituição de um mercado comum, onde há mobilidade de fatores como capital e trabalho, tem gerado muitos ganhos econômicos para a União Européia. Em 1995, as exportações intra-bloco eram de 1 trilhão de euros, no ano passado chegaram a 1,6 trilhões. A taxa de investimento na região permanece na casa dos 19,5% do PIB, impulsionada pelo baixo nível dos juros, que em 1998 era de 3,95% a.a. e atualmente está em 2% e da própria intensificação do comércio intra-bloco.
         Além de alavancar o consumo, os juros menores permitiram que os governos fizessem um ajuste na dívida pública. Apesar de ter sido verificado um superávit primário no setor público em toda a região apenas no ano 2000 (0,1% do PIB), a dívida total (governo central, estados e governos locais) caiu de 73% do PIB em 1999 para cerca de 71% no ano passado. Nesse cenário, as maiores reduções de dívida ocorreram na Itália, de 115% do PIB em 1999 para 105% em 2004, Holanda, de 63% para 55%, Espanha, de 63% para 49%, e Irlanda, de 48% para 29%, no mesmo período. Por outro lado, outras economias importantes como Alemanha, França e Portugal experimentaram leve aumento da relação dívida/PIB.

A PPP é uma alternativa, não a solução definitiva dos investimentos no país

Por mais paradoxal que possa parecer, a recuperação da economia acabou trazendo consigo diversas questões que ainda não estão equacionadas e, dentre estas a que mais tem chamado a atenção é justamente a necessidade de investimentos em infra-estrutura, principalmente de transportes e de energia.
De forma recorrente temos escutado diversas colocações acerca desta deficiência no país mas hoje, de maneira diferente que no passado, o que se nota é que esta é uma preocupação tanto de ofertantes quanto de demandantes de infra-estrutura.
            Uma das variáveis mais importantes é definir a participação do setor público e do privado neste projeto de "blindagem" da economia brasileira com uma estrutura capaz de manter taxas de crescimento compatíveis com o aumento da demanda social nos próximos anos. Na medida em que esta discussão se tornou mais intensa, veio à tona a idéia de colocar em prática a parceria público-privado. Vale destacar que esta não é uma idéia nova, porém, no Brasil teremos a vantagem de evitar os erros de outros países, o que aumenta a probabilidade de majorar o benefício de tal medida. Apesar de ainda precisar de uma formatação mais clara no que se relaciona aos direitos e obrigações das partes envolvidas e de gerar mais garantias no cumprimento dos contratos, uma coisa é certa, a parceria público-privada (PPP) é uma alternativa inteligente, e não excludente, às tantas outras já existentes como as privatizações, os consórcios, terceirização dentre outras.
Em alguns casos como bancos e empresas não-financeiras públicos, a melhor opção é realmente privatizar, eliminando de vez a interferência do Estado na formação de preços de mercado mas, em outros, pode ser que diante do desconhecimento sobre os benefícios com a administração eficiente do setor privado, ou então até o medo da mudança, a PPP passa a ser uma boa opção. As PPP's se aplicam às mais diferentes situações, desde a parceria na construção e exploração de uma estrada até na administração de uma escola, passando por hospitais e presídios, podendo ser feita tanto pela União, Estados quanto pelos Municípios. Entretanto, é importante destacar que as PPP's não são uma solução definitiva de todos os problemas de investimento e administração dos bens públicos no país. De um lado, os investimentos marginais feitos por parte do Estado no últimos anos e, de outro, a ausência de um ambiente macroeconômico que permitisse ao setor privado avançar sobre a economia, geraram um enorme descompasso entre oferta e demanda de infra-estrutrura, que não será corrigido apenas com a adoção da parceria público privada.

A discussão, tal como está sendo colocada, parece ter o intuito de transferir para o setor privado toda a responsabilidade pela continuação dos investimentos no país, uma vez que o Estado, por mais que os números de arrecadação desmintam, está "quebrado".  O governo tem em mãos uma boa ferramenta para equacionar o problema da infra-estrutura e, cabe a nós, contribuintes ou não, impedir que esta estratégia resulte em álibi para a ineficiência do gasto público. Se o Estado tem menos atribuições, por exigência terá mais foco em suas ações, podendo melhor administrá-las e mais facilmente ser monitorado. Pelo menos um ponto é positivo neste processo, o reconhecimento de que o setor privado consegue administrar certos tipos de empresas de forma mais eficiente que o Estado.

Publicado no Jornal do Corecon 04/outubro/2004 

Os seus problemas não acabaram

Em uma ação prudencial, em 30 de novembro de 2011, o Banco Central dos EUA e mais cinco outros Bancos Centrais anunciaram medidas para facilitar as transações com moedas estrangeiras. Essa ocorreu via uma linha de swap de liquidez de dólares. Na prática, as linhas de swap entre os diferentes mercados de moedas existem entre instituições privadas, mas, com o agravamento da crise, seu custo ficou elevado, o que demandou ações por parte da autoridade monetária.

Crise na Europa: seria mais fácil sem a política

Para muitos países a crise internacional de 2008 já teve seus efeitos minimizados, em especial nos mercados emergentes. Porém, na Europa, seus impactos ainda se fazem sentir e, com o andamento das discussões e a falta de empenho político, é de se esperar que a segunda crise se materialize.
Dentre as economias emergentes da Europa, três obtiveram pacote de ajuda financeira de instituições multilaterais. Primeiro foi a Grécia, ainda em maio de 2010, com um pacote de ajuda de € 110 bilhões com a participação do FMI e a União Europeia. A seguir veio a Irlanda, ao final do mesmo ano, com um pacote de € 85 bilhões que também contou com a participação do FMI e de mais recursos de dois fundos de estabilização criados para esse fim, o EFSF – European Financial Stability Facility e o EFSM – European Financial Stabilization Mechanism. Por fim, em maio de 2011, veio Portugal, com um total de € 78 bilhões e a participação dos mesmos agentes que formataram o pacote de ajuda à Irlanda.

Os meandros do Orçamento Americano

No início de agosto, o parlamento americano chegou a um acordo para a elevação do teto da dívida, dando fim ao imbróglio político em torno do tema. O consenso foi alcançado através de uma proposta de austeridade fiscal que envolve o corte nos gastos do governo num horizonte de 10 anos e que pode chegar a US$ 2 trilhões. Assim sendo, o impacto dessa medida pode trazer importantes implicações para as camadas da população mais dependentes das verbas governamentais.

Jogaram areia no ventilador

Apesar do envoltório político sobre a
aprovação do último acordo de ampliação do limite
de dívida dos EUA, o ponto principal a ser
destacado, e que veio à tona na última semana, foi a
dificuldade da economia americana em se recuperar
no curto prazo. Desde o agravamento da crise
financeira, em outubro de 2008, já foram feitos
quatro outros aumentos do limite de endividamento,
totalizando US$ 4,4 trilhões. O acordo fechado na
semana passada é o 5º em um espaço de três anos, e
também o de maior volume da história e que mais
carrega a exigência de contrapartidas.

Política Monetária não convencional: o Quantitative Easing (QE)

O debate sobre política industrial envolve a
compreensão de diversos temas que se interrelacionam,
formando uma teia de diferentes ações.
Na primeira parte desse informe, ficaram evidentes
as discrepâncias da produção da indústria nas
regiões do Brasil, com alguns estados concentrando
determinados tipos de atividades. Porém, esse ponto
não pode ser considerado de forma isolada. Há
questões importantes como, por exemplo, a visão de
cadeia produtiva, os aspectos de competitividade, as
regras de tributação sobre a produção e a influência
do setor externo sobre o perfil de produção da
indústria local.

Muito além

O debate sobre política industrial envolve a
compreensão de diversos temas que se interrelacionam,
formando uma teia de diferentes ações.
Na primeira parte desse informe, ficaram evidentes
as discrepâncias da produção da indústria nas
regiões do Brasil, com alguns estados concentrando
determinados tipos de atividades. Porém, esse ponto
não pode ser considerado de forma isolada. Há
questões importantes como, por exemplo, a visão de
cadeia produtiva, os aspectos de competitividade, as
regras de tributação sobre a produção e a influência
do setor externo sobre o perfil de produção da
indústria local.

A Europa sacudida

mundo e, principalmente, dos membros da
União Européia, estão voltadas para a Grécia. O país
enfrenta uma severa crise econômica desde o ano
passado, em função da deterioração de suas finanças
públicas. Caso essa situação se agrave, os efeitos
dessa turbulência podem se alastrar para outros
integrantes do bloco, como Portugal, Irlanda e Itália
colocando em risco a credibilidade do Banco Central
Europeu e piorando as condições necessárias para
investimentos internacionais na área do Euro.
Como principal causa da tragédia grega,
pode-se apontar a irresponsabilidade fiscal do
governo na última década. Nesse período, a elevação
dos gastos públicos – que, entre outros efeitos,
resultaram na duplicação do salário dos servidores
públicos – foi financiada através da emissão de
dívida. Conseqüentemente, houve uma majoração
significativa em um importante indicador de
solvência dos países: a razão dívida/PIB. A partir
desse aumento, a Grécia começou a enfrentar
dificuldades para a obtenção de empréstimos junto
ao mercado, pois os juros exigidos pelos
financiadores da dívida eram cada vez mais altos
devido à possibilidade de default. O esgotamento
dessa fonte obrigou a Grécia a recorrer ao FMI e a
União Européia.

Chegou a conta da festa.

Na última quarta-feira o Banco Central
anunciou a elevação da taxa básica de juros em 50
pontos base (p.b.), passando esta para 11,75% a.a..
Esse aumento já era esperado pela maioria dos
analistas, que também já precificaram que a taxa de
inflação no final do ano ficará próxima ao limite
superior do intervalo de tolerância para a meta em
2011 (6,5% a.a.), sendo que, em algum momento do
segundo ou terceiro trimestre, ela romperá esse
limite, podendo aproximar-se de 7,5%. Mesmo a
elevação na taxa básica de juros e os cortes previstos
para os gastos do governo sobre o orçamento de
2011. Serão incapazes de evitar a escalada da
inflação. O aumento dos preços, que inicialmente
acreditava-se que seria temporário e concentrado no
segmento de alimentos, está se disseminando na
economia e já apresenta um caráter mais
permanente.

Depende do ponto de vista

Durante muitos anos, a classificação de risco
feita por agências independentes ajudou investidores
a melhor selecionar ativos de empresas e títulos
soberanos. Porém, a eclosão da crise financeira
internacional em 2008 suscitou o debate sobre essa
independência e a veracidade da avaliação dos
títulos privados e públicos. Isso porque boa parte dos
títulos que foram utilizados em garantia de
empréstimos e que faziam parte de diversos fundos
de investimento espalhados pelo mundo, eram
considerados como de baixo rating enquanto que, na
verdade, ofereciam elevados riscos de default. O que
realmente acabou por se concretizar. A despeito das
críticas, o ponto central é que os investidores
precisam de parâmetros de comparação para
selecionar os diferentes ativos e, dessa forma, irão
continuar a usar essas avaliações. O caso mais
recente foi a revisão da nota de classificação de risco
soberano do Governo Brasileiro feita por uma dessas
agências, a Moodys, que revisou a mesma para
Baa2, se igualando a revisão feita anteriormente pela
Fitch. Com isso, ambas estão em um “degrau” acima
da nota atribuída para o Brasil pela S&P. Como é
difícil achar quem emita opinião diferente, é natural
esperar num futuro próximo, que essa agência
também modifique a classificação do Brasil, que
atualmente está em BBB-, para BBB, completando o
ciclo de revisões e ficando todas as agências com a
mesma nota de risco para o país.

O que diz a "Bola de Cristal"?

Até o início do ano, havia uma forte
convergência entre os analistas internacionais de que
o mundo estaria caminhando para a recuperação
econômica. Porém, desde então, uma série de
eventos colocou em cheque esse cenário. Em
destaque: (i) o aumento do preço do petróleo e de
importantes commodities, que contribuíram para
turbinar a inflação mundial e reduzir o poder de
consumo; (ii) A catástrofe natural no Japão que se
repercutiu na cadeia produtiva mundial; (iii) o aperto
monetário nas economias emergentes como forma
de combater a inflação e que tiveram como resultado
a desaceleração nesse grupo de países e; (iv) o
agravamento da questão fiscal em alguns países
europeus, com elevação do temor de uma nova onda
de problemas no sistema financeiro. Para reforçar
essa percepção, os indicadores relacionados ao
mercado de trabalho nos países desenvolvidos e
também os índices de atividade nos emergentes,
vieram abaixo das expectativas de analistas.

Não olhe para o retrovisor

Os números recentes da atividade industrial,
divulgados pelo IBGE na semana passada, permitem
antecipar que tanto o setor quanto a economia
brasileira estão em ritmo forte de desaceleração nesse
segundo trimestre, um cenário que também deve
perdurar para todo o ano de 2011. O resultado da
produção de abril, que teve uma queda de 1,2%
relativamente a março, se soma à retração de 6,2% de
março sobre fevereiro, contribuindo para que a taxa de
crescimento de doze meses diminuísse para 5,2%, o
menor resultado em um ano.

A cidade "calçado" perde competitividade

Não é novidade, pelo menos para quem se
mantém informado sobre o desempenho da economia
do Rio Grande do Sul, que há claramente uma perda
de competitividade setorial que se arrasta há vários
anos. Porém, existem outros fatores que podem estar
tanto associados a questões locais, como: (i) os baixos
investimentos públicos em infraestrutura de estradas,
portos e aeroportos (o RS é o 22º no Brasil quando o
assunto é gasto estadual na função transporte); (ii) a
pesada carga de impostos (cada gaúcho paga R$ 1,6
mil em ICMS ao ano para o governo) e; (iii) os
elevados custos do fator trabalho, tanto em nível
quanto em relação aos reajustes que vem sendo
concedidos; ou então, de um arcabouço
macroeconômico, como: (iv) uma taxa de câmbio
excessivamente valorizada; (v) legislação trabalhista e
tributária que penaliza a produção e; (vi) a
instabilidade das leis.

Quem paga a conta?

A recente discussão sobre cortes no
orçamento do Governo Federal nos EUA, e que
resultou na definição dos parâmetros de arrecadação e
de gasto para o período 2012-2021, contém elementos
importantes, e que servem de aprendizado para a
sociedade brasileira. Nesse caso, o foco dessa análise
é a situação da infraestrutura naquele país, seja em
rodovias, aeroportos ou ferrovias, que se encontra em
um nível de qualidade aquém do desejado e que
fomentou debates econômicos interessantes, em
especial diante da necessidade de aumentar os
investimentos.

Desequilíbrio à vista

Não há dúvidas sobre a importância em se
analisar o mercado de petróleo no mundo, que
representa cerca de 10% de todas as exportações
realizadas, US$ 1,8 trilhão por ano, e é responsável
por 33% do total de energia primária utilizada.
Sendo assim, mudanças de preços e quantidade terão
não só apenas impactos sobre o custo de transporte,
mas também, na inflação, crescimento econômico,
transações correntes, fluxo de capitais, taxas de juros
e na formação de riqueza.

Não é apenas o preço do petróleo

Muitas vezes o debate no Brasil acerca do
aumento do preço do petróleo, e seus impactos sobre a
economia, ficam restritos a avaliações sobre a
possibilidade ou não de termos maiores preços de
derivados como a gasolina. A preocupação tem sua
justificativa, uma vez que essa possui o poder de
incendiar a inflação ao consumidor. Considerada de
forma isolada, a gasolina tem o segundo maior peso
na composição do IPCA, 3,95%. Ou seja, se a mesma
aumentar 10% e assim permanecer, seu impacto direto
sobre a inflação agregada será de 0,395 pontos
percentuais, isso sem considerar seus efeitos indiretos
na cadeia produtiva.

2011 é diferente de 2010

O cenário que se desenha para a atividade
industrial no Rio Grande do Sul em 2011 é o mesmo
que encerrou o ano passado: retração. Repercutindo
o comportamento das horas trabalhadas (-0,9%) e a
da massa salarial (-1,1%), o Índice de Desempenho
Industrial (IDI/RS) registrou nova redução (-0,5%)
em janeiro relativamente ao mês de dezembro na
série livre de influências sazonais.
A nova queda, quinta nos últimos seis
meses, demonstra que a trajetória recente da
indústria gaúcha é preocupante. O setor passa por
um inequívoco processo de desaquecimento desde
março de 2010, quando o cenário de recuperação da
crise mundial de 2008 foi interrompido, o que
coincide com o fim das desonerações tributárias
feitas pelo Governo Federal. Os indicadores
associados mais diretamente à produção
apresentaram queda nesse período. O faturamento,
as compras industriais e as horas trabalhadas
recuaram, respectivamente, 5,2%, 4,6% e 3,8%. Da
mesma forma, a produção física, na série
dessazonalizada pelo IBGE, apontou uma redução
de 3,5%. O desempenho do setor só não foi pior
devido aos resultados positivos apresentados pelas
variáveis relacionadas ao mercado de trabalho para o
mesmo período: o emprego cresceu 2,7% e a massa
salarial real, 2,1%.

Nunca na história desse país se teve tanta violência

Recentemente o IBGE divulgou pesquisa que
levanta dados nacionais relacionados à vitimização no
ano de 2009. Os resultados agregados apenas
comprovam, com números, aquilo que a população
brasileira percebe no cotidiano: o aumento da
violência, e deixa clara a necessidade de resolver um
dos principais entraves à melhora da qualidade de vida
da nossa sociedade nos próximos anos: a segurança.
Os resultados da pesquisa são divididos em três
modalidades: (i) tentativa; (ii) roubo e furto; (iii)
agressão; e podem ser abertos entre zona rural e
urbana, sexo, cor ou raça, grupo de idade e anos de
estudo. Em qualquer uma das modalidades
pesquisadas houve expansão da violência na
comparação com mesma pesquisa realizada em 1988.

Estamos crescendo menos

Na década de 2000, a economia brasileira
alcançou maior estabilidade e, consequentemente,
atingiu maiores taxas de crescimento. Uma das
conseqüências mais notáveis e mais comentadas
recentemente deste processo foi a expansão do
mercado de trabalho formal brasileiro. Dados
fornecidos pelo Ministério do Trabalho e do
Emprego mostram que, em 2000, o Brasil contava
com 26,23 milhões de trabalhadores formais. Em
2009, este número passou a ser de 41,2 milhões.
Assim, observa-se que nestes 9 anos, a mão-de-obra
formal do País se expandiu em quase 60%, numa
média anual de crescimento de cerca de 5%.
Claramente, o ritmo de expansão do
mercado de trabalho não foi uniforme ao longo de
todas as regiões do País. Em 2000, as regiões Sul e
Sudeste respondiam, juntas, por 71,2% da mão-de-obra
formal brasileira. Embora o número de
trabalhadores nestes locais não tenha deixado de
crescer, o fez em ritmo consideravelmente inferior
em comparação ao observado nas demais regiões.

A boca do Jacaré

Os dados referentes à atividade econômica
no Brasil no ano de 2010 ainda não se encerraram,
mas é possível notar os impactos do modelo de
crescimento escolhido nos últimos anos sobre os
setores. Não é novidade que os bons resultados
alcançados em termos de PIB nesse período foram,
em grande medida, impulsionados pelo consumo,
em especial nos últimos quatro anos. As famílias
foram às compras e vendemos mais de tudo no
mercado interno, de calçados a automóveis,
passando por móveis e artigos de residência e
eletrodomésticos diversos.
Os primeiros quatro anos da era Lula,
compreendidos entre 2003 e 2006, havia uma
conjunção de fatores positivos nos países
desenvolvidos que contribuía para manter a taxa de
juros naquelas economias em níveis baixos,
juntamente com uma inflação controlada e aumento
do salário médio e do emprego, com impactos
diretos sobre o consumo das famílias. Isso se refletia
nas exportações dos países emergentes, dentre os
quais se destaca o Brasil. Àquele momento,
flertávamos com a perspectiva de atingir, ainda em
2008, o patamar de US$ 200 bilhões em
exportações.

Não tem problema, eu te carrego.

Uma das questões centrais no cenário
prospectivo para 2011 no Brasil diz respeito à
performance da economia. Essa expectativa cresce
quando se anuncia que o ano de 2010 deverá se
encerrar com uma das maiores taxas de crescimento
dos últimos 30 anos. Pouco mais de 7% de
crescimento sobre uma baixa base de comparação que
foi o ano de 2009. Ao olharmos no retrovisor, e ver
um resultado tão “pomposo”, é natural esperar que
isso se prolongue por mais tempo. A sociedade
brasileira se acostumou, nos últimos meses, com a
divulgação de números recordes, seja no mercado de
trabalho, com a geração de empregos, seja nas vendas
do comércio e, porque não dizer, até nos resultados da
indústria.

Mais do mesmo: Quantitative Easing II

A crise de 2007 foi a segunda maior da
história da economia norte-americana, com duração
de 18 meses, ficou atrás apenas da crise de 1929,
que durou 43 meses. Porém, ainda há o risco de uma
nova crise antes mesmo que o nível de atividade
anterior seja recuperado. Mesmo que os
especialistas em ciclos econômicos, dêem por
encerrada a crise ainda em 2009, há riscos de uma
nova retração na atividade e início de um novo
período de recessão.

O gato subiu no telhado!

O título do texto refere-se a uma paródia
bem conhecida. Ao ficar sozinho em casa após a
viagem dos pais, o filho organiza uma festa e, por
descuido, coloca fogo na residência, levando a
mesma a perda total e, inclusive, matando o gato de
estimação da família. O pai liga para o filho para
saber se está tudo em ordem durante esse período de
ausência. O mesmo diz que está tudo bem mas,
como forma de introduzir o acontecimento, inicia
dizendo que o gato de estimação subiu no telhado.
Sabe-se que há diferentes formas de se
relatar acontecimentos. Uma muito comum é fazer
uso de pesquisas de opinião. Desde 2004 que a
FIERGS, em parceria com a CNI, avalia junto aos
empresários diversos pontos relacionados à atividade
industrial. Nessa pesquisa, de periodicidade
trimestral e abrangência nacional, os mesmos são
perguntados sobre os principais entraves aos seus
negócios. Uma lista de 13 opções é fornecida e três
devem ser escolhidas.

Crescimento mundial: capenga

O último relatório do FMI sobre a atividade
econômica mundial traz informações interessantes
sobre as perspectivas e os principais riscos que
envolvem os países para os próximos meses. Dois
pontos merecem destaque. Em primeiro lugar, o
cenário heterogêneo de crescimento econômico, com
maior peso para os emergentes. Já para os
desenvolvidos, os dados mais recentes e os
fundamentos macroeconômicos deixam antever uma
estabilidade no processo de recuperação da crise que
pode resultar em um novo ciclo de recessão. Nesse
caso, o segundo ponto a ressaltar está relacionado
aos riscos no front externo. Esses estão concentrados
em quatro fatores: (i) o desequilíbrio externo; (ii) o
problema do crédito; (iii) a difícil recuperação do
mercado de trabalho; (iv) as elevadas dívidas.
O mesmo problema de antes da crise de
2008 persiste na relação comercial e financeira
internacional: os elevados déficits externos de
alguns países vis-a-vis os elevados superávits de
outros, em especial na Ásia. Esse cenário impõe a
necessidade de uma taxa de câmbio mais fraca para
incentivar as exportações. E isso já vem sendo
tentado pelos EUA, artifício sem o qual a saída da
crise será cada vez mais difícil. Ressalta-se que essa
não é uma solução fácil e rápida e, por mais que se
tenha em curso um processo de inversão no vetor de
crescimento da China – das exportações para o
consumo interno – bem como de outros países, entre
os quais se insere o Brasil, o processo de ajuste dos
desequilíbrios externos será lento e gradual.

Índia: a China do futuro?

Na última década o mundo assistiu a China
ganhar espaço no cenário econômico internacional.
Com custos de mão-de-obra consideravelmente
baixos, o País gerou ganhos de competitividade, o
que, por sua vez, contribuiu para que alcançasse
altas taxas de crescimento do produto.
Recentemente, o Goldman Sachs realizou um estudo
sobre outro importante País, a Índia, com foco no
aumento esperado da força de trabalho indiana nas
próximas décadas. Estima-se que, entre os anos de
2010 e 2020, deverão entrar para a população
potencialmente ativa (PPA) deste País cerca de 110
milhões de pessoas. Entre os anos de 1991 e 2010, a
China teve um aumento de 141 milhões de pessoas
nesta parcela da população. Esta similaridade, dentre
outras, sugere que a Índia pode ter desempenho
econômico similar à China nos próximos anos.
Para que se tenha ideia da real magnitude do
número projetado para a Índia, basta que seja feita
uma comparação com o aumento esperado para
outros países. No mesmo período, as estimativas
populacionais indicam que cerca de 16 milhões de
pessoas entrarão para esta parcela da população no
Brasil e na China (em cada um destes países). Nos
Estados Unidos, espera-se que o aumento da PPA
seja menor, de aproximadamente 10 milhões. No
mesmo grupo populacional, estima-se que, no Japão,
haverá uma queda da ordem de 3 milhões de
pessoas.

A função social da indústria: existir!

As grandes decisões de investimento em
atividades produtivas têm o poder de modificar a
estrutura econômica de municípios, regiões e até de
Estados. No ambiente industrial, há diversos exemplos
espalhados pelo Brasil. Foi assim com os
investimentos siderúrgicos em Ipatinga, Minas Gerais,
no início da década de 1960; com o Pólo
Petroquímico de Triunfo, no Rio Grande do Sul, no
início da década de 1980; com os investimentos na
indústria de celulose no município de Aracruz, no
Espírito Santo, ao final da década de 1980; e também
com a indústria de veículos automotores em São
Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Paraná e Rio
Grande do Sul. Isso sem falar em diversos outros
empreendimentos industriais que continuam a
modificar o “perfil econômico” de regiões no Brasil.

Nova recessão ou só uma desaceleração?

O exercício da atividade de vidente em
economia, como que se estivéssemos visualizando
em um computador o futuro da produção, empregos
e salários, é tentador. Porém, há momentos em que
fazer essa previsão é mais fácil, como, por exemplo,
durante o ciclo de prosperidade de 2003-2008,
quando todas as variáveis sinalizavam na mesma
direção e vários países estavam envoltos em
perspectivas de continuidade do crescimento. O
exercício de previsão também é fácil quando o
cenário negativo se torna difundido, como foi o caso
dos últimos meses do ano de 2008 e durante boa
parte de 2009.

Não pesquise, fiscalize!

A resposta que vários debatedores no âmbito
político e econômico procuram é qual o formato e
tamanho do Estado na economia brasileira no futuro.
Uma avaliação dos últimos sete anos sobre o perfil
da contratação de servidores públicos, lança uma luz
sobre essa dúvida.
O ciclo de “exuberância” que o Brasil viveu
de 2003 até agora, contribuiu para criar um cenário
que pode ser considerado, no mínimo, estranho, para
um país que almeja ter status de desenvolvido e quer
ser respeitado como potência no ambiente
internacional. Nesse ponto, focando apenas na
rubrica “pessoal”, o aumento do gasto foi da ordem
de 5,6% ao ano, passando de R$ 108 bilhões para R$
158 bilhões, descontados os efeitos inflacionários.
Uma expansão muito acima da verificada no PIB,
que foi de 3,5% ao ano, ou da população, que foi de
1,1%. Atualmente, para cada 95 brasileiros, há 1
servidor público federal atuando, seja no executivo,
militar, legislativo, ministério público ou judiciário.

A indústria nacional nos últimos doze anos.

O IBGE divulgou, recentemente, a PIA -
Pesquisa Industrial Anual de 2008. Esse é um
importante instrumento para compreender como é
distribuída a riqueza produzida pelo setor industrial no
Brasil, a incidência de custos de produção, a receita
obtida e os investimentos realizados. Em uma
avaliação preliminar sobre os resultados globais, o ano
de 2008 revela aspectos interessantes relacionados aos
custos quando comparados com os números
históricos.

China: desaceleração, sim. Recessão, não!

Uma breve revisão sobre a conjuntura
econômica da China indica que o ritmo de
crescimento será menos intenso nos próximos
meses. O relatório com desempenho da economia
em maio, registrou indicadores de atividade mais
fracos em relação a abril. Essa deve ser a tônica para
os próximos meses, um crescimento mais moderado,
principalmente, dos investimentos. Porém, esse
resultado está longe de representar um esgotamento
do modelo de desenvolvimento chinês, mas tem um
caráter de adequação da atividade para evitar
distorções, como, por exemplo, as provocadas pela
inflação e excesso de liquidez.

Quem paga a conta? Você!

A crise internacional, iniciada em 2007, em
muito deverá contribuir para um novo desenho da
economia e do modo de vida em vários países. E
essa avaliação pode ser feita em dois atos. No
primeiro, quando da iminência de um colapso no
sistema financeiro, os governos logo se apressaram
em dar suporte ao setor privado para evitar um
cenário pior. A despeito da flexibilidade que as
regras utilizadas pelas autoridades monetárias deram
às instituições financeiras ao longo dos anos, tanto
nos EUA quanto na Europa, e também da pouca
habilidade em detectar o tamanho da intervenção, o
fato é que os dois primeiros anos da crise serviram
para criar um consenso sobre a necessidade de se
adotar regras mais críveis. E essa deve ser a herança
para os próximos anos. Um mercado mais “vigiado”.
E impactos positivos podem emergir dessa
reestruturação se não perdermos de foco a
manutenção da livre iniciativa e da concorrência.
Ao fim desse ato, o segundo momento veio
para equilibrar a balança das opiniões ideológicas.

PIB para Chinês ver

Os dados do PIB do Brasil no primeiro
trimestre desse ano, divulgado na semana passada,
permitem fazer importantes interpretações. De um
lado, avaliando apenas os números, tivemos o
segundo melhor resultado, para esse período,
expansão de 2,7% sobre o último trimestre de 2009
(dessazonalizado), dentre todas as principais
economias mundiais, ficando apenas atrás da China,
que cresceu 2,9%. Destaca-se que é comum no
mercado financeiro internacional, avaliar o PIB em
termos anualizados. Nesse sentido, a taxa desses
primeiros três meses equivale a um crescimento de
11,4% ao ano. Além disso, é o segundo melhor
resultado dos últimos quinze anos, ficando atrás
apenas do desempenho do 1º trimestre de 2004,
quando crescemos 2,8%. Completa um ciclo de
quatro trimestres consecutivos de expansão, após a
queda do fim de 2008 e início de 2009. E, pavimenta
o terreno para que o Brasil tenha seu maior
crescimento, em um ano, desde o início do Plano
Real, podendo ficar acima de 7%.

A economia está "superaquecendo"?

O dados oficiais de crescimento do PIB do
Brasil no 1º trimestre de 2010, devem ser
conhecidos na semana que vem. Porém, não é
necessário esperar a divulgação para confirmar o que
já se suspeita: em vários ramos de atividade
produtiva estamos crescendo além da capacidade. E
diversos são os indícios de que cada vez mais
devemos ter um cenário de desaceleração para o ano
de 2011.

A Grécia e o primeiro grande desafio do EURO

O mercado financeiro mundial balançou na
semana passada como as dificuldades fiscais da
Grécia. O país declarou não ter recursos para pagar a
parcela da dívida, de cerca de € 8,5 bilhões, que vence
no próximo dia 19 de maio. Para isso, solicitou ao
FMI e aos outros países-membro ajuda de crédito que
veio na forma de um pacote de € 110 bilhões para os
próximos 3 anos. Porém, esse não foi suficiente
afastar a desconfiança dos investidores de que a crise
grega contamine outros membros do grupo, sobretudo
Portugal, Irlanda, Itália e Espanha. Para tentar reduzir
de vez esse risco, nesse final de semana foi criado um
fundo de suporte ao Euro que contará com € 500
bilhões vindos dos países-membro e € 250 bilhões do
FMI.

Nunca na história "daqueles países".

A história é pródiga em revelar fatos que acabam
por contestar afirmações que foram feitas no presente.
Em economia isso é muito comum. Pergunte a um
profissional da área sobre sua avaliação da conjuntura
no curto prazo e as previsões sobre a economia, anote
o resultado e, depois de um par de anos, marque uma
reunião para discutir os números. Errar as previsões
em economia é tão ou mais comum do que prever
clima. O ponto central é que essa ciência trabalha com
o aleatório, o amanhã não necessariamente será igual
ao hoje e, com certeza, muito diferente de ontem.
Entretanto, errar a avaliação da história
econômica já é algo um pouco mais difícil de aceitar.
Apesar de se poder falar sobre o passado a partir de
diferentes pontos de vista, não há como contestar fatos
e números. Pergunte a um profissional de economia
uma opinião sobre os resultados dos últimos oito anos
no Brasil. Compare essa avaliação com os dados reais
e veja como podemos ter diferentes abordagens. Por
exemplo, se ele for alguém relacionado ao mercado
financeiro, é quase certo que irá dizer que: “nunca na
história desse país ganhei tanto dinheiro” - mesmo
considerando as perdas com a crise de 2008. Por outro
lado, se ele estiver ligado ao setor empresarial irá citar
a maior dificuldade no ambiente de negócios no país,
com o aumento de impostos, as dificuldades logísticas
com os baixos investimentos em infraestrutura e a
perda de competitividade externa, em especial devido
a rápida valorização do câmbio no período. Se for um
economista que trabalha com dados do mercado de
trabalho, irá dizer que nunca tivemos reajustes reais
de salário em tamanha intensidade e tão disseminado
entre os setores de atividade produtiva. Ainda, se for
um analista de finanças públicas, irá afirmar que
“nunca na história desse país o governo gastou tanto
com folha de pagamento e custeio da máquina
administrativa”. Também poderemos encontrar
relatórios que irão dizer “nunca na história desse país
crescemos tanto, geramos tantos empregos e
exportamos tanto”.

A crise volta à cena

Nas últimas semanas, o mundo voltou a falar
em crise de uma forma mais enfática, como se ela
estivesse viva, presente no meio de nós, e não mais
como eco de um passado recente. Todavia, muito
diferente do que aconteceu em 2008 e que se arrastou
ao longo do primeiro semestre de 2009, a crise não
está mais no sistema financeiro, mas sim nos Estados,
isto é, é uma crise dos países. Basicamente a situação
mais preocupante é a dos europeus. Irlanda, Portugal,
Espanha, Itália e Grécia passam por uma conjuntura
de aperto financeiro ímpar na sua história recente. A
Espanha atinge níveis recordes de desemprego e a
Grécia anunciou que apenas tem recursos para um
horizonte inferior a 30 dias, e, nessas condições,
precisa (com urgência) que o restante da Europa lhe
ajude com um volume significativo de recursos, a
juros baixos. Não é nem preciso muitas linhas para
explicar quão difícil de resolver essa situação. Quem
estaria disposto a emprestar a juros baixos a um país
em situação de default? Talvez quem quisesse salvar a
unicidade da Europa e a força do Euro. O problema é
que os que apóiam esses objetivos se escasseiam a
cada dia. Aos poucos, a Europa rica (especialmente a
Alemanha) se vê cada vez mais na posição de
questionar a transferência unilateral de recursos para
países como a Grécia que teimam em não fazer sua
lição de casa.

O Fundo Soberano do Brasil - FSB

Apesar da expectativa de que a moeda
brasileira deverá apresentar uma tendência de
desvalorização leve, tendendo a terminar o ano por
volta de R$1,80/US$, o governo deverá contar em
2010 com mais um instrumento de controle na
dinâmica do câmbio: o Fundo Soberano. Criado em
fins de 2008, mas regulamentado apenas em 29 de
dezembro do ano passado, o Fundo Soberano do
Brasil (FSB) já conta com R$ 16,2 bilhões que
poderão ser usados tanto para o financiamento de
empresas públicas brasileiras no exterior (através da
compra de ações, entre outras medidas) como para
intervenção direta no mercado cambial. O FSB, apesar
de regulamentado, ainda não está “pronto para a
ação”, pois falta a constituição formal do conselho
deliberativo que deverá ser composto, entre outros
agentes, pelos ministros da Fazenda e do
Planejamento, bem como pelo presidente do Banco
Central.

Fatos que determinam os recentes movimentos da taxa de câmbio

A divulgação de indicadores econômicos
importantes no inicio de cada ano, frequentemente,
mexe com as expectativas dos investidores, o que
resulta em maior volatilidade nos mercados
financeiros. Nesse ano, não ocorreu de forma
diferente, ainda mais diante da grande incerteza em
relação à recuperação da economia mundial. Porém,
as divulgações do resultado do PIB dos Estados
Unidos e Reino Unido, no quarto trimestre, indicaram
que a crise econômica ainda não é coisa do passado
para esses países, despertando nos investidores uma
posição mais conservadora em relação às aplicações
em ativos de risco. Além disso, outros fatores
trabalharam juntos para que houvesse essa reversão no
comportamento dos investidores. A conseqüência
desse movimento foi a saída dos investidores das
bolsas dos países emergentes, o saldo da Bovespa em
janeiro fechou negativo em US$ 2,1 bilhões, e a
desvalorização do real.

O que representa a entrada do Chile para a OCDE

Na semana passada, o Chile assinou sua
concordância de acesso para a OCDE (Organização
para Cooperação e Desenvolvimento Econômico),
instituição criada a quase cinquenta anos e composta
de 30 países desenvolvidos e que, agora, tem seu 31º
membro. Apesar do convite formal ter ocorrido em
maio de 2007, o mesmo ainda precisa ser ratificado
pelo Parlamento. Nesses dois anos, ocorreram várias
reuniões técnicas, muitas das recomendações de
reformas estruturais indicadas pela instituição foram
implementadas pelo Chile.

O que esperar da economia gaúcha em 2010

Uma previsão coerente sobre a economia
gaúcha no ano de 2010 passa, necessariamente, pelo
bom entendimento de como foi o ano que passou. De
uma forma geral, o canal de transmissão dessa crise
para a economia do Rio Grande do Sul deu-se de duas
formas. Na primeira, via efeito-renda. Nesse caso, a
menor atividade econômica no cenário internacional e
também, em menor magnitude, no Brasil, resultou em
queda da demanda por produtos exportados e as
vendas de bens intermediários para a indústria
nacional.

Quais as perspectivas para a economia mundial? EUA e Ásia

Recentemente, a economia global começou
a mostrar sinais de recuperação, e é esperado que o
crescimento comece a ser retomado a partir do
segundo semestre de 2009. A intensidade com que a
crise atingiu os diversos países foi diferente,
variando de acordo com o espaço existente para
políticas econômicas, incentivos, saúde do sistema
financeiro, grau de dependência externa, entre outros
fatores. Neste contexto, será dada uma visão geral de
quais foram as principais medidas adotadas pelas
diferentes economias no sentido de combater a crise
e quais as suas perspectivas para os próximos anos,
começando pelos Estados Unidos e Ásia.
A economia americana foi severamente
atingida pela atual crise financeira. Contudo, fortes
intervenções fiscais, monetárias e financeiras
ajudam a estabilizar os gastos dos consumidores e os
mercados financeiros, apontando para um
crescimento moderado na segunda metade do ano.

A história do setor elétrico no Brasil

A história do setor elétrico brasileiro pode
ser dividida em cinco fases, de seu surgimento, em
1879 aos dias de hoje. Entender esse processo, ajuda
a identificar os problemas estruturais no setor, seja
no fornecimento de energia ou na tarifa cobrada.
Nesse primeiro informe, de uma série de dois,
abordam-se as quatro primeiras fases.
O Brasil do início do século passado ainda
era predominantemente rural mas o rápido
crescimento demográfico nas cidades, alimentava a
demanda por energia elétrica. Nesse período,
ocorreu uma forte entrada de capital estrangeiro,
constituindo vários concessionários e produtores
independentes espalhados pelo País. A Iº Guerra
Mundial interrompeu, momentaneamente, os
investimento que só retornaram por volta de 1920
com importantes fusões e aquisição de empresas. O
País entra na crise de 1929, com duas empresas que
praticamente dominavam o mercado interno, a Light
e a Amforp.

Parece que o sol já está nascendo no Oriente

Para quem visitou a China no ano passado, mais
precisamente no primeiro semestre e, retornou àquele
país em abril de 2009, a impressão que se tem é de
uma economia que atravessa um cenário conjuntural
ruim, após a tempestade financeira do ano passado.
Essa sensação é verdadeira. É claro que a atividade
produtiva é menor, e esse sentimento se materializa
em várias empresas que atuam com um nível de
capacidade baixo para padrões históricos na China.
Porém, sob o olhar de um economista, o cenário
pode ser outro. De um modo geral, as análises em
economia podem ser feitas a partir de três prismas; (i)
como foi o passado; (ii) como é o presente; (iii) o que
se espera do futuro. Aquele visitante acima citado
pode ser referido ao primeiro ângulo de análise. E ele
não está errado. Em 2008, a atividade industrial na
China se expandia a 13% ao ano e, nos quatro
primeiros meses de 2009, essa taxa se reduziu para
5,5%. Ou seja, mesmo não cogitando o terreno
negativo, é uma desaceleração muito intensa. Assim
como em outros países, esse cenário foi bastante
diverso entre os diferentes segmentos produtivos,
como é o caso da indústria de equipamentos de
transporte, que cresceu 15% no ano passado e, no
primeiro quadrimestre de 2009 avança apenas 5% e a
produção de equipamentos de comunicação, que se
expandia 12% e agora apresenta variação de -3,7%
para o mesmo período de comparação.

A Ásia em perspectiva

Durante o período áureo de crescimento
econômico recente, o pulmão mundial era a Ásia, em
especial o grupo de países da Ásia emergente, com
destaque para a China e a Índia. A mudança no
cenário com a crise, reduziu a taxa de crescimento da
região para o próximo biênio à metade do verificado
nos outros anos. Devido à importância que esse grupo
de países adquiriu na economia mundial, os olhos dos
analistas e investidores voltam-se para o
comportamento dos indicadores da região. Muitos
apostam que a saída da atual recessão passa, em
grande medida, pela boa performance das economias
locais. Porém, uma avaliação sobre a resposta de
alguns países asiáticos aos impactos da crise permite
inferir que há muitas discrepâncias regionais.
Para facilitar a interpretação econômica, é
comum dividir a Ásia em dois grandes grupos: (i) a
Ásia industrial, composta por Japão, Austrália e Nova
Zelândia; (ii) a Ásia emergente, onde são agrupados
11 países, dentre os quais, a China e a Índia. Além
desses, há o grupo dos LIC (Asian Low Income
Countries), composto pelas economias mais pobres da
região, como Bangladesh, Butão, Cambodja, Lao,
Mongólia, Nepal, Sri Lanka, Mianmar (Birmânia) e
Papua Nova Guiné, e que são os mais atingidos. E é
aqui que reside a grande heterogeneidade local.
Os países industriais estão dentre os mais
atingidos. Dada a forte dependência do Japão com as
exportações para os EUA e a Europa, a indústria local
sente a retração da demanda externa. E, os impactos
sobre a economia japonesa se fazem sentir de forma
intensa. No último trimestre do ano, o PIB do país
caiu 4,3% e, já iniciou o ano indicando que a queda
para 2009 deve ser da ordem de 6,2%. No total, o PIB
do grupo de países industrializados da região deve se
retrair em 5,4% nesse ano, recuperando-se na margem
para 2010, crescimento de 0,5%.

A crise em Estágios

Em um primeiro momento, os sinais da crise no Brasil se fizeram sentir no mercado de capitais e na
maior volatilidade da taxa de câmbio. Até o início de
dezembro, era difícil apontar indicadores econômicos
que pudessem dar a sua dimensão, fora o
comportamento das vendas e a produção do segmento
de material de transporte, muito sensível ao crédito.
Por mais que a imprensa nacional buscasse dados que
pudessem refletir a crise aqui na mesma dimensão que
a verificada no exterior, não conseguia. O máximo era
uma notícia de demissões e férias coletivas em
algumas empresas em uma região, e piora no
sentimento de consumidores e investidores. Além
disso, corroborava com a tese de “marolinha” o fato
de que nem todos os setores da economia foram
afetados de imediato, e com a mesma intensidade. As
exportações continuavam a crescer e ainda havia
contratações na construção civil, aumento de vendas
no comércio, em especial com os supermercados
apresentando um bom nível de vendas, e os bancos
brasileiros estavam capitalizados para continuar a
emprestar.

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Indústria: desaceleração ou pé no freio?

Primeiro, todos acreditavam que a crise se restringiria apenas ao mercado de crédito subprime nos EUA. O desenrolar dos acontecimentos pós setembro revelou que muitos estavam errados. Mesmo depois da crise ultrapassar a esfera financeira e atingir o lado real da economia nos países desenvolvidos, a tese do “descolamento” ainda era seguida por alguns. Porém, tal como em um efeito dominó, uma a uma, as economias foram mostrando a capacidade de absorção dessa crise. A desaceleração nos países emergentes passou a ser dada como certa.
Desde então, a crise internacional ganhou destaque nos noticiários nacionais mas, sem sucesso em apontar os efeitos nocivos sobre os indicadores por aqui. Afinal de contas, emprego, renda, vendas do comércio e etc, continuavam a crescer, teimando em dizer que somos uma ilha, influenciando as projeções dos orçamentos públicos para 2009 (o governo federal ainda teima em colocar expansão de 4% do PIB para o próximo ano) e causando a sensação de proteção. Mas calma, quando vemos o depoimento de um empresário sobre a redução de sua carteira de pedidos, ou de ter encontrado dificuldades na comercialização de um produto, é questão de tempo até os indicadores revelarem. Por isso que em um momento de ruptura na economia, como o que presenciamos, é muito importante prestarmos atenção nos números que revelam as expectativas, e não os resultados apresentados pelos indicadores de atividade, que retratam apenas um movimento passado. Assim, a partir do momento que as pesquisas começarem a captar esses resultados, o que se espera é uma maior preocupação das pessoas com os impactos da crise.

Alguém viu o emprego em outubro?

Escrever novamente sobre a crise internacional e seus impactos no Brasil ou no Rio Grande do Sul pode parecer repetitivo. Mas, até o momento, os eventos mais marcantes estiveram relacionados ao mercado internacional, com uma ou outra passagem por questões de cunho financeiro no Brasil, como menor fechamento de ACC – adiantamentos de contratos de câmbio maiores taxas de juros nos empréstimos bancários e o relato de dificuldades das empresas em conseguirem recursos para financiar seu fluxo de caixa. Para muitos, a crise parecia um “ser extraterrestre” e que, olhando para o retrovisor de dados da economia brasileira, que retratam nossa solidez macroeconômica, estaríamos com escudos capazes de nos proteger do pior.

Empresas brasileiras já sentem efeitos da crise e revêem expectativas para 2009

A Confederação Nacional da Indústria divulgou na semana passada os resultados de uma consulta com 385 empresas industriais com o objetivo de avaliar a percepção dos empresários acerca da crise financeira internacional sob alguns aspectos. A consulta foi dividida em três blocos de assuntos relacionados aos impactos da crise: nos negócios, nos planos de investimentos e nos financiamentos disponíveis. Além disso, os participantes opinaram acerca das medidas tomadas pelo governo e sobre as perspectivas de duração da crise.
Em linhas gerais, os resultados demonstraram que, para 9 em cada 10 empresários consultados, a crise afetou os negócios de sua empresa. Os principais efeitos adversos foram a retração nas vendas, a suspensão dos planos de investimentos e a escassez de crédito para capital de giro. Os resultados da atuação do governo brasileiro foram considerados moderados e a percepção da maioria dos empresários é que a crise será superada em 2010.

Eu não ficaria tão feliz com os números do PIB

           Na semana passada foi divulgada uma estatística que todos sabiam que confirmaria o momento difícil que passa a atividade econômica nos EUA, uma queda de 0,3% no PIB no 3º trimestre, relativamente ao 2º trimestre. A expectativa de analistas de mercado, em pesquisa realizada dias antes, era de uma queda entre 0,5% e 1,9%. Por isso, o resultado soou como positivo. É claro que esses números ainda serão revistos no dia 25 de novembro mas, as revisões mensais sempre promovem pequenas modificações nesse resultado. Nesse caso, será tarde demais para evitar seus impactos sobre as eleições presidenciais que se encerram nessa semana. Destaca-se que o último presidente dos EUA que conseguiu se eleger em meio a uma divulgação de queda no PIB foi Dwight Eisenhower em 1956.

Mais sobre a crise

        A crise internacional começou a mostrar o seu lado mais perverso, os indicadores que refletem a fraqueza da atividade econômica nos EUA e Europa inicia a safra de divulgações negativas. Esse movimento já era esperado por diversos analistas e, deve ser questão de tempo para que os noticiários passem a confirmar o que as expectativas já indicam: o quarto trimestre do ano concretizará a recessão americana e Européia. Dos indicadores de pedido desemprego nos EUA até as novas encomendas para a indústria na Zona do Euro, passando pelo PIB do Reino Unido e as exportações do Japão, o que se vê são números negativos.
        Apesar disso, ainda é possível ver analistas que acreditam que os emergentes podem desempenhar o papel de “fiel da balança” do crescimento. Ou então, que essa crise terá impactos pequenos sobre alguns países. Os números recentes também começam a derrubar essa tese, ou então, a dúvida. Na semana passada o Governo da China divulgou os dados do PIB do terceiro trimestre, sinalizando que o crescimento nos nove primeiros meses de 2008 foi de 9,9%. Pode parecer, à primeira vista, que esse é um resultado ainda espantoso mas, não se deixe enganar, é uma taxa de crescimento cerca de 2,3 pontos percentuais menor que a verificada no mesmo período do ano passado, e ainda reflete uma boa parte do cenário positivo do primeiro semestre. 

Um pouco de história

       Alguns atores institucionais do mercado de hipotecas dos EUA, como o Federal Housing Administration (FHA), a Fannie Mae, a Federal Home Loan Banks e a Federal Savings and Loan Insurance Corporation, surgiram na década de 1930, em um momento da história conhecido como New Deal. O padrão das residências no País era de qualidade inferior, com a população tendo pouco acesso a redes de esgoto e muitas pessoas dividindo o mesmo teto. Um cenário não muito diferente da maioria das moradias existentes hoje no Brasil, em especial para as classes de mais baixa renda.
            Àquele momento, em meio ao processo de recuperação da crise de 1929, a orientação do governo americano era que essas agências servissem de impulso para o mercado imobiliário, através de hipotecas, direcionando os empréstimos e promovendo a estabilidade dos financiamentos a prazos longos, em especial a taxas fixas de 30 anos de maturidade. Algumas estimativas indicam que tal política foi responsável por metade de todos os novos financiamentos entre 1950 e 1960, contribuindo para alavancar a economia e consolidar uma classe média.

Os dominós estão caindo...

Como que reproduzindo a seqüência de acontecimentos em momentos de crise bancária, a contaminação dos problemas dos bancos de investimento para o setor comercial e de seguros era questão de tempo. Uma das primeiras vítimas foi o Northern Rock Bank da Inglaterra, nacionalizado no início desse ano. Desde então, seguradoras nos EUA, Alemanha e Inglaterra, bancos de hipoteca e demais instituições do sistema financeiro em vários países, acompanharam essa onda negativa que gerou liquidação, nacionalização e fusões. O cenário é tão incerto que até boatos ajudam a derrubar o mercado, como foi o caso, na semana passada, do Bank of East Asia em Hong Kong, que teve filas de correntistas esperando sacar recursos após boatos de que a instituição estava sofrendo perdas. Já é possível identificar, em diversos sites no mundo, dicas para correntistas sobre como se protegerem em meio a essa crise, orientando os mesmos a dividirem os recursos entre diferentes bancos para resguardar os valores que o governo garante por lei para o poupador em caso de falência de um banco.

O caso Lehman Brothers e os desdobramentos da crise financeira para o Brasil

O Lehman Brothers, instituição financeira de 158 anos, era o 4º maior banco de investimentos dos EUA, e integrava uma lista de cinco grandes instituições (Goldman Sachs, Merrill Lynch, Morgan Stanley e Bear Sterns).  Desde o início da crise de crédito subprime no ano passado, a situação da instituição começou a piorar quando se constatou que o valor da carteira de ativos do Banco, lastreada em hipotecas, era menor do que o de mercado. O resultado disso foram perdas de mais de US$ 8 bilhões no período jun/07 até ago/08, e se admitiu que ainda existe um grande prejuízo a ser reconhecido.
Cabe destacar que o Lehman Brothers, assim como outros bancos de investimentos, não recebia depósitos e não fazia crédito ao público. Apenas negociava com outros bancos e instituições de investimento vendendo carteiras de crédito. Esse é o primeiro ponto que diferencia essa crise de outras, pois ela ocorre no sistema financeiro não bancário atingindo, principalmente, as instituições voltadas ao mercado de capitais e seguradoras. Com a constatação que essas carteiras possuem um valor menor que o contabilizado, todos os que negociavam com esses bancos devem ter perdas. Porém, essas são de difícil mensuração. O certo é que deve haver uma maior restrição ao crédito para consumo e investimento, contaminando outros setores da economia dos EUA e outros países.

PIB: a demanda segue aquecida,....e agora?

Na semana passada o IBGE divulgou os dados do PIB do primeiro semestre do ano, o aumento de 6% sobre o mesmo período do ano passado, é o maior valor desde 2004. Se por um lado esse resultado merece comemoração, por outro, deixa claro o risco de esgotamento desse cenário no curto prazo.
Diversos são os motivos que nos levam a crer que essa taxa não é compatível com a situação macroeconômica interna e externa. Os números do IBGE reforçam a tese de descompasso entre oferta e demanda. O consumo das famílias expandiu 6,6% no primeiro semestre, completando vinte trimestres seguidos de desempenho acima do PIB. Isso é o equivalente a uma taxa de 5% ao ano durante cinco anos, o suficiente para dobrar o tamanho da economia em menos de 15 anos. É o maior ciclo já registrado no País na era do pós Plano Real. Para se ter uma dimensão do impacto dessa expansão basta ver que o gasto dos consumidores, no Brasil, representa cerca de 60% do PIB. Portanto, nesse primeiro semestre, somente as compras das famílias já seriam suficientes para garantir um PIB de 4%.

BRIC: a Rússia em foco

             As freqüentes análises sobre o desempenho conjuntural dos países emergentes sempre acabam por incorporar as previsões para as próximas décadas. Esse vício de economista nos dias atuais é perfeitamente justificável por pelo menos dois motivos. Primeiro que, “nunca antes na história econômica”, países fora do bloco denominado de “1º mundo” ou então “desenvolvidos” foram os protagonistas do crescimento. Não que estejamos livres do efeito contágio, mas que, as condições macroeconômicas são outras. E aqui entra o segundo motivo para o vício. Em comum, o fato de que ocorreram diversas modificações estruturais nos emergentes, da China e Chile no começo da década de 1980 à Índia e África do Sul mais recentemente. Reformas que resultaram em maior grau de abertura, acesso ao crédito, menor participação do setor público nas decisões de investimento, disciplina fiscal, transparência nas instituições e regras mais estáveis.

Orçamento Americano em perspectiva

             A cada meio de ano, o Presidente dos EUA deve remeter ao Congresso a revisão do orçamento corrente e as perspectivas para o orçamento nos anos seguintes, documento conhecido como MSR (Mid Session Review). A última revisão é especificamente importante pois, desde fevereiro, a inflação apresentou sinais inequívocos de pressão altista, o PIB respondeu de maneira negativa e ocorreu o recente pacote de estímulo econômico. Esse, com projeção de impacto de cerca de US$ 150 bilhões, tem uma parcela menor, de US$ 38 bilhões, a ser registrada no orçamento de 2009. Ressalta-se que o ano fiscal por lá é entre meios de anos, e não como no Brasil, que considera a previsão de receitas e gastos entre janeiro e dezembro.
            O MSR melhorou as estimativas para o encerramento do ano fiscal de 2008 em US$ 21 bilhões mas, piorou as projeções feitas para os próximos 12 meses, e que contempla o orçamento de 2009, em US$ 74 bilhões. Assim, o que mais chama a atenção é o aumento da projeção de déficit de 2009, de 2,7% do PIB para 3,3%, algo como US$ 482 bilhões, o pior resultado desde 2004. Se serve de alívio para os analistas de mercado, as projeções indicam que o equilíbrio orçamentário deva ser alcançado apenas em 2012.

O cenário internacional em perspectiva

           A escolha por manter a taxa de juros inalterada em 2%, na reunião da semana passada do FED (Banco Central Americano), dá o tom da preocupação da autoridade monetária. Um dos maiores temores do FED é a estagflação, uma combinação perversa entre baixo crescimento econômico com inflação alta, situação essa que limita sobremaneira os efeitos da política monetária. Por hora, a escolha em manter juros baixos indica que os riscos maiores ainda se encontram na desaceleração do PIB, apesar da ata sinalizar a preocupação com os maiores níveis de preços.
            Porém, uma análise sobre os dados macroeconômicos nos EUA sinaliza que a retração do consumo ainda está longe do fim. Em primeiro lugar, com a maior restrição ao crédito habitacional, diante do aumento do risco de default, as taxas dos empréstimos continuam elevadas, tanto em termos absolutos quanto relativamente ao mais importante colateral, que é o próprio preço dos imóveis. Ou seja, a razão custo do empréstimo e garantia, não está favorável para os consumidores. Se o preço dos imóveis estivesse em crescimento, taxas de empréstimo, mesmo que um pouco elevadas, poderiam ser compensadas. Mas, enquanto o preço dos imóveis continuar a cair, será difícil fazer esse mercado retomar.

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

BRIC: a Índia em foco.

A análise do potencial de mercado nos BRIC ainda é assunto entre investidores internacionais. Esses quatro países estão entre as 11 maiores economias no mundo. O PIB da China em 2007 se aproximou do PIB da Alemanha (US$ 3,7 trilhões), atrás apenas do Japão (US$ 4,2 trilhões) e dos EUA (US$ 13,8 trilhões). A economia brasileira é a nona maior, com um PIB estimado em US$ 1,5 trilhão, e a Rússia com US$ 1,4 trilhão e a Índia, com US$ 1,2 trilhão, logo em seguida. Ou seja, o PIB dos BRIC representa quase US$ 8 trilhões e, as projeções para 2050 são mais favoráveis ainda para esse mercado.

Cada vez mais governo e menos iniciativa privada

A “bola da vez” dos últimos meses é a preocupação com a inflação, seja no cenário externo ou no Brasil. Em qualquer canto, alguém irá dizer que sabe a causa do forte aumento dos preços de energia, metais e alimentos: uma seca ali, o uso do milho para produzir combustíveis alternativos em países desenvolvidos, os famosos especuladores, o rápido aumento da demanda nas economias emergentes, etc. Muito também se discute sobre os instrumentos que podem ser usados para evitar a perda no controle de preços, como acontece na Argentina e na Venezuela. E sempre se encontra a unanimidade do aumento dos juros, confirmado na semana passada na reunião do Copom.

Câmbio: chegamos até aqui. Mas, para onde iremos?

           A trajetória do câmbio nos últimos anos foi de forte e persistente apreciação. Desde janeiro de 2006 até junho de 2008, o câmbio sofreu uma valorização de 71% (considerando o câmbio médio do mês). Esse comportamento pode ser explicado por, basicamente, três justificativas. A primeira deriva da relação saldo comercial/ corrente de comércio. A teoria econômica afirma que quanto menor a corrente de comércio maior o impacto que o saldo comercial terá sobre a formação do câmbio e sua volatilidade. No caso brasileiro, durante um longo (e recente) período, acumulou-se grandes superávits comerciais relativos à corrente de comércio.

Fundos soberanos: a outra face da moeda

Os chamados “Fundos Soberanos” (FS) têm mais de meio século e espera-se que cresçam expressivamente nos próximos anos. Atualmente existem cerca de 50 fundos, com valor estimado de US$ 3,7 trilhões, devendo alcançar a cifra de US$ 10 trilhões em 2015.
O tema transformou-se num fenômeno graças ao longo ciclo de desenvolvimento da economia mundial, que elevou para níveis inéditos o volume de reservas financeiras globais. Os bancos centrais das nações ao redor do mundo controlam cerca de 5,6 trilhões de dólares, mais do que o dobro do número registrado há cinco anos. Com um volume tão grande de dinheiro disponível, os fundos soberanos se multiplicaram, ficaram mais agressivos e diversificaram sua carteira de investimentos. Se antigamente eles se limitavam a adquirir títulos de dívida dos países desenvolvidos, sobretudo dos Estados Unidos, hoje canalizam recursos para opções mais rentáveis, como a compra de imóveis, ouro e ações de grandes companhias.

Matei as aulas do primeiro ano de economia

Por vezes se escuta alguém dizer que o Brasil deveria seguir o exemplo da Argentina no que diz respeito à política econômica. Pois bem, por pelo menos duas vezes em menos de 10 anos, nossos vizinhos nos provam o contrário. A Argentina adotou antes do Brasil um controle cambial para dar fim às altas taxas de inflação. Funcionou lá e aqui. Mas, os políticos não conseguiram se ver livres da tentação de gastar os recursos que não tinham, e o descaso em controlar os gastos. Felizmente o Brasil aprovou a Lei de Responsabilidade Fiscal, decretou o fim do regime de câmbio fixo ao final de 2001 e silenciou os poucos que ainda defendiam o modelo Argentino. Aos que ainda nutrem alguma dúvida, de 1994 a 2008 o PIB do Brasil e da Argentina cresceram na mesma magnitude, com uma diferença, por lá a emoção foi maior, com uma queda do PIB de quase 11% em 2002.

Está cada vez mais caro produzir no Brasil

Há diversas medidas de competitividades disponíveis para os analistas de plantão. Nesse conjunto, um indicador muito conhecido na literatura internacional é a competitividade-custo, que pode ser representada a partir do custo unitário da mão-de-obra (ULC) medido em dólares. Apesar de útil, pouco se vê de comentários sobre sua evolução nos relatórios de economistas feitos para o Brasil. Dois motivos podem ser apontados pelo baixo interesse que se dá a essa medida. Em primeiro lugar, de uma perspectiva histórica, as exportações no nosso passado recente, tem uma relevância relativamente pequena, comparada com o mercado interno, o que reduzia a importância desse indicador para análises agregadas. Em segundo lugar por, sistematicamente, o País conviver com taxas de câmbio depreciadas, o que contribuía para aumentar a competitividade das empresas no cenário internacional, sem lançar mão de medidas mais detalhadas.

Tudo que sobe um dia desce.

As variações de curto e médio prazo no PIB real costumam ser chamada de ciclo de negócios. Apesar do nome ciclo, esses movimentos não seguem um padrão periódico ou mecânico. Cada país apresenta uma tendência de crescimento do PIB ao longo do tempo e os ciclos ocorrem em torno dessa tendência, chamada de produto potencial. Alterações no ciclo estão atreladas, prioritariamente, a fatores conjunturais, tal como taxa de juros, taxa de câmbio, safras, etc. Por outro lado, as alterações na tendência (as mais importantes) devem-se a fatores estruturais, tais como o sistema tributário e trabalhista, direitos de propriedade e, principalmente, questões relacionadas à produtividade.

Cenário econômico interno: ainda há muitos obstáculos no RS

Em qualquer relatório financeiro que possa influenciar a decisão de alocação de recursos, apresenta, em sua nota de rodapé, o alerta que “retornos passados não são garantia de retornos futuros”. Em todo caso, os investidores olham para o retrovisor para traçar um norte do comportamento do mercado para as próximas semanas ou meses. O mesmo vale para a análise do lado real da economia quando o assunto é inflação, crescimento, produção industrial, vendas, nível de emprego ou qualquer outra variável. Porém, há diversas pesquisas que ajudam a direcionar essa previsão, uma delas é a sondagem industrial do Rio Grande do Sul, feita a cada trimestre pela FIERGS.

Ganhamos, mas, como vamos manter?

As opiniões sobre a elevação do Brasil à categoria de menor risco, podem ser divididas em dois grupos. De um lado, aqueles que contestam a demora nessa classificação, de outro, aqueles mais céticos, que até acreditavam na melhora de avaliação do Brasil, mas que não titubeiam em apontar as deficiências de nossa economia. Partindo do ponto de vista do primeiro grupo, de fato, quase nada se modificou nos últimos cinco anos, a não ser o fato de que, “quem diria”, foi dada continuidade ao bem sucedido tripé de sustentação da política econômica: superávit primário, câmbio flexível e metas de inflação. Para não dizer que tudo é igual a antes, o mais importante fator de mudança foi o ciclo de ausência de crise no cenário internacional. Nos últimos anos tivemos crescimento econômico nos quatro cantos do mundo, e milhões de pessoas entraram no mercado de consumo, contribuindo para a melhora nas relações de troca do setor externo brasileiro. Analisando dessa forma, realmente, o selo “grau de investimento” poderia ter vindo ainda no final de 2006.

Confiança em alta na economia brasileira

O índice que mede a confiança do empresário industrial gaúcho, denominado de ICEI-RS, mantém-se positivo, e atingiu o maio patamar para um primeiro trimestre desde que a pesquisa foi iniciada em 2001. A pesquisa procura captar dos empresários os sentimentos relativos à economia brasileira e à sua empresa. Nesse caso, o índice revela que a confiança na manutenção de um cenário nacional positivo para o ano de 2008 continua elevada.
Apesar disso, o resultado do primeiro trimestre de 2008 demonstra menor confiança do que a captada na pesquisa do último trimestre do ano passado. De um total de 0 a 100 pontos, a confiança caiu de 62 para 60 pontos. Porém, é importante lembrar que é normal o indicador nesse período situar-se abaixo daquele que mede a confiança no final do ano. De fato, o indicador manteve-se acima da linha divisória dos 50 pontos, e isto sugere que os empresários ainda permanecem otimistas em relação à evolução futura de seus negócios.