Em qualquer relatório financeiro que
possa influenciar a decisão de alocação de recursos, apresenta, em sua nota de
rodapé, o alerta que “retornos passados não são garantia de retornos futuros”.
Em todo caso, os investidores olham para o retrovisor para traçar um norte do
comportamento do mercado para as próximas semanas ou meses. O mesmo vale para a
análise do lado real da economia quando o assunto é inflação, crescimento,
produção industrial, vendas, nível de emprego ou qualquer outra variável.
Porém, há diversas pesquisas que ajudam a direcionar essa previsão, uma delas é
a sondagem industrial do Rio Grande do Sul, feita a cada trimestre pela FIERGS.
A parte da pesquisa que mostra a
percepção do empresário sobre o passado recente, converge com os números da
economia. O nível de atividade no setor continua aquecido e os reflexos sobre o
mercado de trabalho são perceptíveis. Desde 2001, quando a pesquisa foi
iniciada, que as variáveis que medem o desempenho do mercado de trabalho não
apresentam resultados tão satisfatórios. Há aumento tanto do emprego quanto do
salário pago, o que resulta em forte aumento da massa de salários em circulação
na economia, dinamizando a demanda nas diferentes regiões do Estado onde a
indústria está localizada.
No mesmo sentido, o grau médio de
utilização da capacidade instalada (77,6%) demonstra o menor nível de
ociosidade no setor dos últimos quatro anos para o trimestre, apesar de uma
ligeira alta no estoque de produtos finais, que ficaram acima do planejado. Um
fator importante assinalado pelos resultados da pesquisa foi as melhores
condições de crédito. Nesse campo, contribui tanto o menor patamar de juros
reais quanto a maior oferta de recursos que foi direcionada para essa categoria
pelo segmento financeiro.
Mas, quando se afirma que os juros reais
estão mais baixos, na ordem de 6,5% ao ano, é importante deixar claro que é
diante de uma perspectiva histórica. De maneira relativa, com nossos
concorrentes no cenário internacional, o Brasil continua ser o campeão de juros
reais. Naturalmente, custo financeiro maior resulta em menores margens para o
setor. De fato, as respostas relativas à lucratividade e condições financeiras
das empresas revelam o impacto dos juros em patamares elevados. De acordo com
os empresários o indicador que mede a lucratividade evidencia que a maioria das
empresas considerou suas margens de lucro ruins. Da mesma forma, o indicador de
satisfação com a situação financeira da empresa registrou patamar que demonstra
uma situação regular. Portanto, as empresas gaúchas estão produzindo, vendendo
e empregando em níveis recordes, mas esse desempenho não tem sido suficiente
para gerar bons resultados financeiros. Uma das implicações mais importantes
desse cenário é a redução da capacidade do setor de usar recursos próprios para
financiar investimentos em expansão, tão necessários nesse momento de
crescimento da demanda e criação de oportunidades no mercado.
Mesmo diante dessa conjuntura, não foram
poucos os problemas enfrentados pelas empresas. A carga tributária continua
liderando a lista de obstáculos a serem superados pelo setor privado de todos
os portes, com cerca de 70% das respostas dos industriais gaúchos. A competição
acirrada de mercado (50,6%) e o alto custo da matéria-prima (34,9%) foram o
segundo e terceiro maiores problemas enfrentados no trimestre, especialmente,
pelas empresas de pequeno e médio porte cujos percentuais alcançaram,
respectivamente, 54,1% e 58,6%. Vale ressaltar que, há um ano, o alto custo dos
insumos era apenas o sexto maior problema da indústria gaúcha. As respostas
atuais refletem a alta dos preços internacionais de commodities metálicas,
agrícolas e de energia. Nas grandes empresas esse quadro é um pouco diferente.
A taxa de câmbio (70,6% das respostas) é o maior problema enfrentado, junto com
a carga tributária. As taxas de juros elevadas situam-se no terceiro lugar
desse ranking com 41,2% das assinalações. Além disso, a falta de qualificação
do trabalhador (22,9% das assinalações, o dobro do mesmo período do ano
passado) vem ganhando importância relativa, independentemente do tamanho da
empresa.
Apesar disso, a pesquisa registrou a
expectativa otimista dos empresários gaúchos para o próximo semestre, tanto do
ponto de vista da manutenção de uma demanda aquecida, quanto para a compra de
matérias-primas. Para atender a este esperado aumento de demanda, os
empresários deverão expandir ainda mais o quadro de empregados, conforme sugere
o valor do respectivo indicador. A percepção dos empresários, porém, não é a mesma
quando a Sondagem Industrial enfoca as vendas externas. Prejudicadas pela
continuidade da trajetória de valorização cambial o indicador de exportações
atingiu 52 pontos, revelando um quadro de quase estagnação da variável para os
próximos seis meses. Dessa forma, a perspectiva positiva do empresário gaúcho
deriva, em grande medida, do dinamismo do mercado doméstico. De uma forma
geral, os resultados da pesquisa refletem o sentimento de que a conjuntura
econômica atual segue positiva. A despeito dos obstáculos referidos, as
expectativas dos empresários apontam claramente para a continuidade do
crescimento da produção e do emprego industrial no Estado.
Publicado no Informe Econômico de 26/05/2008
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