Há diversas medidas de competitividades
disponíveis para os analistas de plantão. Nesse conjunto, um indicador muito
conhecido na literatura internacional é a competitividade-custo, que pode ser
representada a partir do custo unitário da mão-de-obra (ULC) medido em dólares.
Apesar de útil, pouco se vê de comentários sobre sua evolução nos relatórios de
economistas feitos para o Brasil. Dois motivos podem ser apontados pelo baixo
interesse que se dá a essa medida. Em primeiro lugar, de uma perspectiva
histórica, as exportações no nosso passado recente, tem uma relevância
relativamente pequena, comparada com o mercado interno, o que reduzia a
importância desse indicador para análises agregadas. Em segundo lugar por,
sistematicamente, o País conviver com taxas de câmbio depreciadas, o que
contribuía para aumentar a competitividade das empresas no cenário
internacional, sem lançar mão de medidas mais detalhadas.
Porém, essa realidade está se
modificando. A corrente de comércio do Brasil passou de 12% do PIB em 1995 para
21% no PIB no ano passado. A sustentabilidade e o sucesso do Plano Real está na
consolidação de uma composição entre metas de inflação, superávit primário e
câmbio flutuante. Assim, a maior abertura comercial e a estabilidade da taxa de
câmbio nos anos recentes, aumentaram a importância da medida de custo do
trabalho para as empresas exportadoras. Mas, engana-se quem pensa que o custo
medido em dólar impacta apenas os exportadores. Se a valorização da taxa de
câmbio for tal que crie uma janela de mercado para o produtor externo,
certamente seus produtos serão colocados no mercado interno. Portanto, custos
de produção maiores devem ser vistos como empecilhos para quem pretende
competir no exterior, assim como para um produtor que vende apenas no mercado
interno.
Trabalho desenvolvido por Bonelli e
Fonseca (1998), mostrou que o principal determinante da perda de
competitividade da indústria brasileira na década de 1990 foi o crescimento do
salário médio em dólares. A despeito da valorização da taxa de câmbio no
período pós Plano Real, os autores ressaltam também que tal aumento de custo
teve contribuição muito maior dos reajustes de salário em reais. Além disso,
notou-se forte relação entre os aumentos de custo unitário do trabalho e menor
rentabilidade das exportações e menor saldo comercial. Como pode ser visto,
“não há almoço de graça”. Aumentos sistemáticos de salário real, se não
compensados com maior produtividade, terão como resultado imediato uma menor
competitividade. Não acredite quem quiser.
O cenário econômico dos últimos cinco
anos enseja que essas estimativas sejam reprisadas, como forma de desmistificar
questões relacionadas à competitividade setorial. O custo unitário do trabalho
deve ser entendido como o custo total da mão-de-obra para a fabricação de uma
unidade de produto. Se as comparações são dentro do País, usar os salários
medidos em moeda nacional é suficiente. Porém, se a intenção é comparar a
evolução dos custos com o mercado internacional, então devemos usar a taxa de
câmbio. Assim, aumentos de salário quando medido em dólar, tem como resultado
uma menor competitividade setorial. Por outro lado, a produtividade tem o poder
de reduzir esse impacto. Assim, maiores reajustes de salário em reais, bem como
valorizações da taxa de câmbio, podem ser compensadas via produtividade.
Analisando os dados da indústria
brasileira para os últimos quatro anos, nota-se que o ULC está em um nível 94%
maior, representando uma taxa de crescimento de cerca de 18% ao ano. Essa seria
a magnitude de perda de competitividade a partir dessa medida. Além disso, a
decomposição do indicador revela que, no período 2004-2007, os aumentos de
salários reais na indústria só foram compensados em parte pela maior
produtividade. Portanto, podemos afirmar que o maior impacto nos custos
unitários do trabalho tem sido derivado da valorização da taxa de câmbio real.
Mas, como a indústria nacional se posicionou no cenário internacional com
tamanha perda de competitividade? Três fatores podem contribuir. Em primeiro
lugar a redução de margens de lucro na atividade exportadora, mesmo em um
ambiente de maior demanda e níveis de preços. Em segundo lugar, a rigidez de
contratos e, por fim, o fato de que o Brasil é um grande exportador de produtos
relacionados à extrativa mineral. De outra forma, para não negar os impactos
que esse maior custo produzem sobre a atividade industrial, basta ver que os
saldos comerciais setoriais já sinalizam déficits.
Projetando o ano de 2008, infelizmente
podemos ver que a medida de ULC deve continuar a aumentar. Dada uma produção
industrial de cerca de 5,8%, o aumento da força de trabalho em 2,2% deve gerar
ganhos de produtividade da ordem de 3,5%, em linha com a média dos últimos
quatro anos. Não há motivos para acreditar no inverso. Supondo uma valorização
média de 10% no ano para o câmbio, resta verificar como se comportariam os
salários médios em reais. Se esses ficarem estáveis, já teremos custos de produção
nesse ano 10% superiores ao de 2007. Está cada vez mais caro produzir no
Brasil.
Bonelli,
R.;Fonseca,R. Evolução da competitividade da produção manufatureira no Brasil,
IPEA, texto para discussão nº574, 1998.
Publicado no Informe Econômico de 23/06/2008
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