domingo, 10 de agosto de 2014

Parece que o sol já está nascendo no Oriente

Para quem visitou a China no ano passado, mais
precisamente no primeiro semestre e, retornou àquele
país em abril de 2009, a impressão que se tem é de
uma economia que atravessa um cenário conjuntural
ruim, após a tempestade financeira do ano passado.
Essa sensação é verdadeira. É claro que a atividade
produtiva é menor, e esse sentimento se materializa
em várias empresas que atuam com um nível de
capacidade baixo para padrões históricos na China.
Porém, sob o olhar de um economista, o cenário
pode ser outro. De um modo geral, as análises em
economia podem ser feitas a partir de três prismas; (i)
como foi o passado; (ii) como é o presente; (iii) o que
se espera do futuro. Aquele visitante acima citado
pode ser referido ao primeiro ângulo de análise. E ele
não está errado. Em 2008, a atividade industrial na
China se expandia a 13% ao ano e, nos quatro
primeiros meses de 2009, essa taxa se reduziu para
5,5%. Ou seja, mesmo não cogitando o terreno
negativo, é uma desaceleração muito intensa. Assim
como em outros países, esse cenário foi bastante
diverso entre os diferentes segmentos produtivos,
como é o caso da indústria de equipamentos de
transporte, que cresceu 15% no ano passado e, no
primeiro quadrimestre de 2009 avança apenas 5% e a
produção de equipamentos de comunicação, que se
expandia 12% e agora apresenta variação de -3,7%
para o mesmo período de comparação.

Os impactos verificados na cadeia de
comercialização também foram significativos, como
pode ser notado no volume de transporte de cargas.
De janeiro a setembro de 2008, a taxa de crescimento
do transporte feito pelas ferrovias era de 7,4% sobre o
mesmo período de 2007. Com o menor fluxo de
comércio, em decorrência da crise, o mercado
desaqueceu e, no primeiro trimestre de 2009 tem-se
uma queda de 6,3% no volume de cargas
transportadas pelas ferrovias. No total, considerando
também as rodovias, hidrovias e o transporte aéreo, o
volume de cargas ainda se expande em 4,4% no ano,
mas é um número bem menor que os 9,3% que se
vinha experimentando em 2008.
Os dois outros prismas dessa análise podem nos
dar outra impressão. Os sinais do movimento presente
são positivos. Em abril, a indústria cresceu 7,3% sobre
o mesmo período do ano passado e, melhorou a
performance acumulada no ano. E, o volume de
cargas movimentado no país também apresenta sinal
de melhora. Em março, última informação disponível,
houve uma expansão de 5,3% sobre março de 2008, o
maior resultado desde outubro do ano passado.
Por fim, temos a análise pelo prisma do “que se
espera para o futuro”, e é essa que torna a avaliação
um pouco mais otimista. A mesma pode ser feita de
diversas maneiras. Em alguns casos, podemos nos
valer das pesquisas de “sentimento” dos consumidores
e de empresários sobre o comportamento futuro da
economia. Uma melhora nessa percepção é um bom
sinal de que o cenário está se modificando.
Alternativamente, podemos “inferir” sobre hipóteses
de comportamento de determinadas variáveis, como
por exemplo, gasto público e investimento, para
prever e traçar esse futuro, fazendo uso de técnicas
estatísticas. O recente pacote fiscal do governo
Chinês, que já está nas ruas, tem como objetivo injetar
bilhões de dólares em um setor importante para a
economia pelo seu efeito multiplicador, a construção
civil. E os resultados já podem ser sentidos na
movimentação de compra de cimento, aço e
contratação de pessoal para a “concretização” dos
empreendimentos.
Mas, é a análise de indicadores antecedentes,
deixadas de lado nos relatórios dos últimos anos, que
mais pode contribuir para sinalizar o que está por vir.
Como descrito em “informe econômico” anterior, essa
técnica já é conhecida na literatura há muitos anos, e a
OCDE monitora a mesma para seus países membros e
mais outros seis considerados não-membros. Dentre
esses está a China. O objetivo é identificar quais são
as variáveis, dentre um conjunto de centenas
disponíveis, que podem fornecer a informação mais
precisa sobre o que irá acontecer com a economia nos
próximos meses. Para a China, a conclusão que a
OCDE chegou é que, basta analisarmos o
comportamento de seis variáveis para termos essa
informação. São elas: a produção de fertilizantes
químicos; a produção de metais não-ferrosos; o
volume de carga transportada nos portos; os depósitos
das empresas; o agregado monetário (M2) e; as
importações da Ásia.
Essas seis variáveis compõem um índice
denominado de CLI - Composite Leading Indicator e
toda a análise posterior é feita a partir desse indicador.
O último resultado divulgado refere-se ao mês de
março e, enquanto que para o grupo dos países da
OCDE, em especial os países desenvolvidos, os
números mostram que a recessão não termina antes do
final do ano, para alguns emergentes, há boas notícias.
No caso da China, os sinais se mostram bastante
promissores, e permite inferir que, em um espaço de
quatro meses, a economia mais pujante do mundo
possa estar saindo desse cenário ruim. Dentre as
variáveis que atestam essa percepção, estão o aumento
da produção de metais, a recuperação do volume de
cargas transportadas e, o que é mais sintomático, as
maiores importações da Ásia.
A recuperação econômica da China ainda no
segundo semestre será de suma importância para a
região e, mais ainda por mostrar que o sol pode brilhar
por aqui ainda esse ano.

Publicado no Informe Econômico 01/junho/2009

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