domingo, 10 de agosto de 2014

A Ásia em perspectiva

Durante o período áureo de crescimento
econômico recente, o pulmão mundial era a Ásia, em
especial o grupo de países da Ásia emergente, com
destaque para a China e a Índia. A mudança no
cenário com a crise, reduziu a taxa de crescimento da
região para o próximo biênio à metade do verificado
nos outros anos. Devido à importância que esse grupo
de países adquiriu na economia mundial, os olhos dos
analistas e investidores voltam-se para o
comportamento dos indicadores da região. Muitos
apostam que a saída da atual recessão passa, em
grande medida, pela boa performance das economias
locais. Porém, uma avaliação sobre a resposta de
alguns países asiáticos aos impactos da crise permite
inferir que há muitas discrepâncias regionais.
Para facilitar a interpretação econômica, é
comum dividir a Ásia em dois grandes grupos: (i) a
Ásia industrial, composta por Japão, Austrália e Nova
Zelândia; (ii) a Ásia emergente, onde são agrupados
11 países, dentre os quais, a China e a Índia. Além
desses, há o grupo dos LIC (Asian Low Income
Countries), composto pelas economias mais pobres da
região, como Bangladesh, Butão, Cambodja, Lao,
Mongólia, Nepal, Sri Lanka, Mianmar (Birmânia) e
Papua Nova Guiné, e que são os mais atingidos. E é
aqui que reside a grande heterogeneidade local.
Os países industriais estão dentre os mais
atingidos. Dada a forte dependência do Japão com as
exportações para os EUA e a Europa, a indústria local
sente a retração da demanda externa. E, os impactos
sobre a economia japonesa se fazem sentir de forma
intensa. No último trimestre do ano, o PIB do país
caiu 4,3% e, já iniciou o ano indicando que a queda
para 2009 deve ser da ordem de 6,2%. No total, o PIB
do grupo de países industrializados da região deve se
retrair em 5,4% nesse ano, recuperando-se na margem
para 2010, crescimento de 0,5%.

Por outro lado, a Ásia emergente tem sido o lado
mais importante dessa balança de crescimento. Nos
últimos anos, a indústria de produtos de média e alta
tecnologia ganhou espaço na conformação industrial
desses países. No ano 2000, a participação do
segmento de tecnologia participava com 22% do PIB
da indústria, valor esse que atingiu a marca de 31%
em 2005. O problema é que esse foi o principal setor a
ser atingido pelas restrições de créditos imposta pela
crise, fato esse que derrubou a indústria de vários
países. Destaca-se que a China não é o único agente
nesse mercado. É claro que o país é o centro de
produção e distribuição. Porém, observa-se a
consolidação de uma cadeia produtiva, interligando a
China com outros países fornecedores de matériaprima
e componentes, que torna os efeitos da crise
mais potenciais para a região. Em 2002, a China
importava, dos países periféricos da Ásia, cerca de
US$ 40 bilhões em partes e componentes, número
esse que saltou para US$ 170 bilhões em 2008.
Portanto, a recuperação da demanda da China é de
primordial importância para os demais países da Ásia,
que se tornaram fornecedores de peso de para aquele
país. Por fim, temos o grupo dos LIC. A conformação
dessas economias é de uma estrutura de produção em
produtos primários, dependentes de receitas de
turismo e de investimentos estrangeiros. Assim, a
queda do preço das commodities agrícolas; a perda de
renda nos países desenvolvidos reduz o fluxo de
turistas e; a incerteza no sistema financeiro e os
prejuízos das multinacionais instaladas nesses países é
uma combinação perversa que está reduzindo o
crescimento nesse grupo de países.
Um dos riscos mais importantes no cenário atual
em toda a região é a queda das ‘finanças comerciais’,
ou seja, o volume de recursos destinado ao
financiamento das exportações e importações. Nesse
grupo podem ser classificados os empréstimos entre
bancos e empresas, cartas de crédito, seguro de
crédito, dentre outras. Reduções significativas já
foram sentidas em outros momentos de crise mundial,
como em 1997-98, Rússia, Filipinas, Tailândia e
Coreia do Sul; na Turquia em 2001 e no Brasil e na
Argentina em 2002. Resultados apontados por
pesquisa do FMI indicam que, desde o inicio da crise,
tem ocorrido uma forte redução no volume de
recursos destinado ao financiamento do comércio
internacional. Porém, esse é muito mais um resultado
da queda da demanda, por parte das empresas, do que
de menores recursos ofertados pelo sistema financeiro.
Mas, o que se verifica é que, com o aumento do risco
de crédito, há uma seleção mais rigorosa, com
impactos sobre o custo dos empréstimos – há um
aumento da necessidade de se fazer seguro de crédito.
A solução proposta por vários governos na região e
implementada com vigor, é semelhante à ocorrida no
Brasil, com o suporte público a linhas de
financiamento.
Vários analistas afirmam que a economia
mundial deve começar um processo de recuperação a
partir de 2010. Porém, dada a configuração econômica
da Ásia, as perspectivas são que a região pode iniciar
um processo de recuperação mesmo antes desse
cenário ser concretizado. No passado, a superação de
crises esteve intimamente relacionada ao
comportamento das exportações, em especial pelo fato
de que os países da região possuem um mercado
interno ainda pouco desenvolvido. No atual cenário,
os vetores da recuperação devem ser as políticas
fiscais expansionistas e mais flexibilidade monetária.
Devemos ter boas notícias ainda no 2º semestre de
2009.

Publicado no informe econômico 25/maio/2009

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