domingo, 10 de agosto de 2014

Os seus problemas não acabaram

Em uma ação prudencial, em 30 de novembro de 2011, o Banco Central dos EUA e mais cinco outros Bancos Centrais anunciaram medidas para facilitar as transações com moedas estrangeiras. Essa ocorreu via uma linha de swap de liquidez de dólares. Na prática, as linhas de swap entre os diferentes mercados de moedas existem entre instituições privadas, mas, com o agravamento da crise, seu custo ficou elevado, o que demandou ações por parte da autoridade monetária.

Desde dezembro de 2007, essa é a quarta medida nessa direção que é adotada. Naquele momento, o Banco Central Americano fez uma linha de swap entre 14 Bancos Centrais, incluindo o Banco Central do Brasil, cujo objetivo era prover liquidez de dólares para essas instituições caso fosse necessário atender a uma demanda por parte de suas instituições privadas. Nesse caso, o FED ofertava dólares, tendo como contrapartida a moeda do outro país, em quantidade necessária, a uma taxa de câmbio fixa e com juros baixos. Os prazos variavam desde o overnight até três meses. Esse primeiro swap tinha prazo para durar até fevereiro de 2010. Porém, como a crise não deu trégua, uma nova linha temporária, nos mesmos moldes, foi aberta em maio de 2010 e com previsão de durar até fevereiro de 2013. Só que, dessa vez, feita apenas entre o FED e os cinco maiores Bancos Centrais1. Além dessa linha, há outra modalidade de swap de liquidez de dólares que também foi criada em abril de 2009, mas seus recursos deveriam ser utilizados apenas para prover liquidez às instituições financeiras americanas que detinham posição em moeda estrangeira. A mesma durou até fevereiro de 2010.
Assim, o anúncio de 30 de novembro envolveu dois pontos. O primeiro foi a redução do custo do swap de liquidez em dólar feito entre os Bancos Centrais que passou não mais a serem dados por OIS+100 pontos base (OIS-Overnight Index Swap) e sim, por OIS+50 pontos base. Destaca-se que essa linha de swap já está em vigor desde maio de 2010. Portanto, não é uma linha nova, é apenas uma redução do custo de operação de uma linha de swap que já existia entre os seis Bancos Centrais.
O segundo ponto anunciado foi a reedição da linha de swap de liquidez em dólares para moedas que tem como destino apenas as instituições americanas com posições de moedas estrangeiras. Essa linha tem os mesmos moldes das anteriores, com taxa de câmbio fixa, custo e prazo, mas, só pode ser utilizada pelos Bancos Centrais para oferecer liquidez a instituições americanas. Na prática, permitiria, por exemplo, que bancos americanos com posições na Inglaterra pudessem continuar a fazer as operações de crédito usando o dólar. Nesse caso, o Banco da Inglaterra seria apenas o agente intermediário e não poderia usar os recursos destinados nessa linha para oferecer dólares para instituições financeiras locais.
O que estamos assistindo é uma tentativa de normalizar a situação do interbancário, seja dentre as instituições americanas, ou então entre bancos de outros países. Em momentos que podemos considerar como normais, as relações no interbancário deveriam funcionar perfeitamente, tanto em uma moeda nacional quanto no caso de transações com diferentes moedas. Ou seja, os bancos emprestariam uns aos outros sem cobrar taxas exorbitantes para tal. Porém, em cenários de stress, isso não ocorre. E isso é o que estamos presenciando nesse momento.
As linhas de swap tem a intenção de permitir que o interbancário volte a funcionar e, além disso, reduzir o custo dos empréstimos. Na prática, por exemplo, se um banco americano tem operações em Euros, fornecendo crédito para outras instituições na região, necessariamente irá precisar transacionar com duas diferentes moedas. Assim, em um cenário de stress, onde a incerteza faz com que o custo de transação aumente via menor oferta de moedas, é muito natural que essas operações sejam prejudicadas, o que pode potencializar os impactos de uma crise localizada. Nesse sentido, os primeiros sinais eclodem nos bancos internacionais, com operações em vários países e transacionando com várias moedas.
Um ponto importante é separar o que acontece no interbancário com a crise de dívida dos países. No primeiro caso, a linha de swap de liquidez que já existe, e que teve seu custo reduzido, pode ajudar a lubrificar as engrenagens no sistema financeiro, permitindo que os bancos se financiem com custo menor. Na mesma direção, a reedição da linha de swap em dólar apenas para instituições americanas irá permitir que as mesmas continuem suas operações no mercado internacional. Mas, nada garante que, mesmo diante dessas linhas, não se tenha a necessidade de intervenção mais intensa, como, por exemplo, a nacionalização de um banco ou, então, a venda coordenada. Isso aconteceu entre 2007 e 2009 e essas linhas estavam em funcionamento. Além disso, criar uma linha de swap não significa que o problema da crise fiscal dos governos da Grécia, Irlanda, Portugal, Itália e Espanha seriam resolvidos. Ou seja, o mercado continuaria a cobrar juros elevados para financiar o setor público desses países. A crise não está solucionada ainda.

1. Federal Reserve, Banco da Inglaterra, Banco Central Europeu, o Banco do Japão, o Banco Nacional Suíço e o Banco do Canadá.

Publicado no Informe Econômico 05/dezembro/2011

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