domingo, 10 de agosto de 2014

A PPP é uma alternativa, não a solução definitiva dos investimentos no país

Por mais paradoxal que possa parecer, a recuperação da economia acabou trazendo consigo diversas questões que ainda não estão equacionadas e, dentre estas a que mais tem chamado a atenção é justamente a necessidade de investimentos em infra-estrutura, principalmente de transportes e de energia.
De forma recorrente temos escutado diversas colocações acerca desta deficiência no país mas hoje, de maneira diferente que no passado, o que se nota é que esta é uma preocupação tanto de ofertantes quanto de demandantes de infra-estrutura.
            Uma das variáveis mais importantes é definir a participação do setor público e do privado neste projeto de "blindagem" da economia brasileira com uma estrutura capaz de manter taxas de crescimento compatíveis com o aumento da demanda social nos próximos anos. Na medida em que esta discussão se tornou mais intensa, veio à tona a idéia de colocar em prática a parceria público-privado. Vale destacar que esta não é uma idéia nova, porém, no Brasil teremos a vantagem de evitar os erros de outros países, o que aumenta a probabilidade de majorar o benefício de tal medida. Apesar de ainda precisar de uma formatação mais clara no que se relaciona aos direitos e obrigações das partes envolvidas e de gerar mais garantias no cumprimento dos contratos, uma coisa é certa, a parceria público-privada (PPP) é uma alternativa inteligente, e não excludente, às tantas outras já existentes como as privatizações, os consórcios, terceirização dentre outras.
Em alguns casos como bancos e empresas não-financeiras públicos, a melhor opção é realmente privatizar, eliminando de vez a interferência do Estado na formação de preços de mercado mas, em outros, pode ser que diante do desconhecimento sobre os benefícios com a administração eficiente do setor privado, ou então até o medo da mudança, a PPP passa a ser uma boa opção. As PPP's se aplicam às mais diferentes situações, desde a parceria na construção e exploração de uma estrada até na administração de uma escola, passando por hospitais e presídios, podendo ser feita tanto pela União, Estados quanto pelos Municípios. Entretanto, é importante destacar que as PPP's não são uma solução definitiva de todos os problemas de investimento e administração dos bens públicos no país. De um lado, os investimentos marginais feitos por parte do Estado no últimos anos e, de outro, a ausência de um ambiente macroeconômico que permitisse ao setor privado avançar sobre a economia, geraram um enorme descompasso entre oferta e demanda de infra-estrutrura, que não será corrigido apenas com a adoção da parceria público privada.

A discussão, tal como está sendo colocada, parece ter o intuito de transferir para o setor privado toda a responsabilidade pela continuação dos investimentos no país, uma vez que o Estado, por mais que os números de arrecadação desmintam, está "quebrado".  O governo tem em mãos uma boa ferramenta para equacionar o problema da infra-estrutura e, cabe a nós, contribuintes ou não, impedir que esta estratégia resulte em álibi para a ineficiência do gasto público. Se o Estado tem menos atribuições, por exigência terá mais foco em suas ações, podendo melhor administrá-las e mais facilmente ser monitorado. Pelo menos um ponto é positivo neste processo, o reconhecimento de que o setor privado consegue administrar certos tipos de empresas de forma mais eficiente que o Estado.

Publicado no Jornal do Corecon 04/outubro/2004 

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