Essa tarefa não será fácil, já que, nos últimos dois anos, os EUA registraram enormes déficits no resultado fiscal: -10% do PIB em 2009 e -8,9% em 2010. Esses saldos podem ser explicados, por um lado, pelo drástico aumento das despesas do governo em programas para estimular a economia, como as duas rodadas do quantitative easing (QE). Por outro, as receitas governamentais acompanharam o ciclo econômico e permaneceram estagnadas no período. Além disso, estudos mostram que a estimativa para o déficit em 2011 é de -10,9%, nível mais alto desde 1945.
O orçamento dos EUA de 2010 mostra que os gastos somaram US$ 3,45 trilhões, ou 23,82% do PIB. A área que recebeu mais recursos foi a de seguridade social, com 20,45% do total das verbas (o maior programa do gênero no mundo). A previdência no país é responsável pelo pagamento de aposentadorias por tempo de serviço, invalidez e aos órfãos.
Em segundo lugar, vieram as despesas com defesa nacional, totalizando 20,07% do PIB. Dentro dessa categoria, destacaram-se os gastos com operação e manutenção (US$ 259,3 bilhões), pagamento dos funcionários (US$ 147,3 bilhões) e aquisição de bens (US$ 133,6 bilhões), como armas e equipamentos bélicos.
Os programas sociais foram o terceiro principal destino dos gastos orçamentários, com participação de 18%. Nesse conjunto, os maiores dispêndios destinaram-se a compensação aos desempregados (US$ 122,5 bilhões), bem como o auxílio federal aos aposentados e inválidos, excluindo a seguridade social (US$ 118,1 bilhões). A categoria também compreende o amparo habitacional para pessoas de baixa renda e assistência à alimentação.
A fatia dos gastos com o medicare correspondeu a 13,07% do orçamento no ano passado. O objetivo desse programa é auxiliar financeiramente as pessoas idosas em função dos custos médicos relacionados à internação hospitalar e remédios, dada sua menor renda em relação ao restante da população. Seu âmbito é federal, ou seja, o estabelecimento do tipo, duração e escopo dos serviços, bem como as taxas pagas pelo contribuinte são as mesmas em todo o país. Já os gastos com saúde apareceram na quinta posição, com 10,7%. Esse vetor engloba o medicaid, cuja parcela no orçamento alcançou 8,68% do total. Tal política é voltada para auxiliar as pessoas de baixa renda com as despesas médicas e, ao contrário do medicare, a legislação que versa sobre o programa varia entre os estados americanos. Em todas as rubricas citadas, há discussões sobre onde e quanto cortar nos gastos, com possíveis custos políticos para o presidente Obama.
Os outros elementos de destaque nas aplicações das verbas do orçamento americano no ano passado foram: pagamento de juros dos títulos da dívida federais (5,7%), educação e treinamento de trabalhadores (3,7%), benefícios aos veteranos da guerra (3,1%), transportes (2,7%) e administração da justiça (1,5%).
Do lado da arrecadação, as receitas totais somaram US$ 2,16 trilhões no ano passado. As principais fontes foram provenientes dos impostos sobre a renda (41,5%) e sobre a seguridade social (40%). A tributação sobre as empresas representou apenas (8,85%). Aqui, cabe destacar a diferença entre as malhas tributárias de Brasil e Estados Unidos. Grande parte da arrecadação do primeiro concentra-se sobre o setor produtivo, o que acaba onerando os investimentos. Nos EUA, entretanto, boa parte dos impostos recai sobre o consumo e a renda. Outras receitas para o governo foram obtidas através da taxação de bebidas alcoólicas, tabaco e outros produtos (3,59%) e demais impostos (6,52%).
Como pode ser visto, a situação do governo americano, portanto, é delicada. O recente compromisso de contenção dos gastos deve deixar vários setores da sociedade civil insatisfeitos, algo indesejável dentro da esfera política faltando pouco mais de um ano para a eleição nos EUA. Soma-se a isso a pouca margem de manobra para estimular a economia via política fiscal e a impossibilidade do uso de política monetária, já que as taxas de juros de curto prazo (fed funds) se encontram em um patamar próximo a zero desde 2009, em função do esforço do FED para tentar reativar a economia desde a quebra do banco Lehman Brothers (evento que agravou a crise financeira internacional em 2008).
O que se espera é que a redução nos gastos governamentais irá diminuir o PIB no curto prazo. Contudo, somente o cumprimento estrito do acordo será capaz de recolocar a trajetória da dívida americana em patamares aceitáveis, o que favorecerá o crescimento econômico no longo prazo.
Publicado no Informe Econômico 29/agosto/2011
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