domingo, 10 de agosto de 2014

O que esperar da economia gaúcha em 2010

Uma previsão coerente sobre a economia
gaúcha no ano de 2010 passa, necessariamente, pelo
bom entendimento de como foi o ano que passou. De
uma forma geral, o canal de transmissão dessa crise
para a economia do Rio Grande do Sul deu-se de duas
formas. Na primeira, via efeito-renda. Nesse caso, a
menor atividade econômica no cenário internacional e
também, em menor magnitude, no Brasil, resultou em
queda da demanda por produtos exportados e as
vendas de bens intermediários para a indústria
nacional.

O segundo canal de impacto foi o efeito preço.
Porém, como uma conseqüência do primeiro
motivo. Com o enfraquecimento do mercado de
trabalho e o aumento da taxa de desemprego, em
especial nas economias desenvolvidas, o novo ponto
de equilíbrio com a oferta se deu em um patamar de
preços mais baixos, prejudicando a composição da
renda local, em especial dos exportadores do Rio
Grande do Sul. Para desovar estoques, a indústria teve
que fazer promoções, o que acabou por gerar impactos
negativos sobre a composição das receitas e a
capacidade de investimento futuro.
Além desses dois vetores, é importante
destacar que a crise teve uma divisão temporal e
setorial. No primeiro caso, o período que vai de
janeiro a junho teve uma conformação diferente do
segundo semestre do ano. A título de ilustração,
enquanto que nos primeiros seis meses de 2009 a
indústria gaúcha teve uma queda de 8,5% na
produção, comparativamente aos seis meses
imediatamente anteriores, entre julho e outubro
(última informação disponível), teve-se um
crescimento de 5% sobre os quatro meses anteriores.
As vendas do comércio varejista seguiram a mesma
tendência. Depois de uma queda de 1,2% no Iº
trimestre de 2009, sobre o mesmo trimestre de 2008,
seguiu-se uma expansão de 1,9% no IIº trimestre e de
2,6% no IIIº trimestre, ambos sobre o mesmo período
do ano anterior. A outra consideração importante, diz
respeito aos segmentos. A principal característica
dessa crise foi afetar de forma direta a produção
industrial que se contrapõem aos bons números da
agropecuária. De fato, a safra 2008/09 terminou com
uma produção de cerca de 22,6 milhões de toneladas
de grãos, completando um ciclo de quatro anos de
bons números e evitando que a crise tivesse
repercussões maiores no interior do Estado.
Mesmo com a expectativa de que o PIB do
Estado termine o ano de 2009 com resultado negativo
(estimativa de -0,8%), as perspectivas para 2010 são
promissoras. Em primeiro lugar, a recuperação já teve
início durante o segundo semestre do ano passado, em
especial na indústria. Além disso, as perspectivas da
produção agrícola são boas. De acordo com o último
levantamento feito pela Conab, o Rio Grande do Sul
deve colher cerca de 22,8 milhões de toneladas de grãos
na safra 2009/10, resultando, assim, em um pequeno
aumento de 1,4% sobre a safra passada. A maior queda
deve vir do Arroz, em que se estima redução de 7,1%
na produção. Por outro lado, o milho deve ter um
crescimento de 12% e a soja de 6% na quantidade
produzida, atingindo 4,7 e 8,4 milhões de toneladas
respectivamente.
No cenário macroeconômico, com a perspectiva
de juros reais baixos no Brasil, em um ambiente
inflacionário sob controle e aumento da massa de
salários, deve-se verificar uma retomada da demanda
por produtos industriais gaúchos. Além disso, espera-se
que o ano de 2010 também seja favorável para a
construção civil, seja com obras públicas ou, então, em
projetos residenciais. Com isso, não se descarta que o
PIB da indústria gaúcha cresça 8,1%.
Os elementos que ajudam a explicar parte da
recuperação do setor, também ajudam a projetar o
aumento de demanda nos serviços. Com a expansão da
renda real e do nível de empregos, as expectativas dos
consumidores serão positivas, o que deve ter efeitos
sobre o resultado do comércio, serviços prestados às
famílias e atividades imobiliárias. Além disso, os juros
baixos e a renda real em crescimento devem
impulsionar a demanda por crédito, com reflexos sobre
a atividade de intermediação financeira. Por fim, a
projeção de aquecimento da demanda interna, resultará
em maior movimentação de produtos, se refletindo nas
projeções para o segmento de transporte.
Apesar de ser um ano eleitoral, o setor público
deve crescer de acordo com a média dos últimos anos.
Com a maior movimentação de mercadorias, e o
aumento da atividade econômica, a arrecadação de
ICMS deve crescer cerca de 7,5%, em termos nominais,
atingindo os R$ 16,1 bilhões. Tal cenário, conjugado
com uma projeção de controle do gasto corrente, será
importante para garantir a manutenção dos
investimentos do setor público.
No geral, o PIB do Rio Grande do Sul deve
crescer cerca de 5% no ano de 2010, recuperando parte
das perdas passadas. Ainda é um resultado abaixo do
projetado para o Brasil, que deve ficar na ordem de 6%.
Isso é fruto de uma dinâmica de crescimento que
prioriza segmentos produtivos que não são
contemplados pela economia gaúcha, como por
exemplo, os bens de consumos duráveis. Tal fato,
aliado à necessidade de se gerar mais competitividade
local para reduzir os custos logísticos, só reforçam a
tese de que devemos manter o equilíbrio orçamentário e
fazer investimentos em infra-estrutura.

Publicado no Informe Econômico 04/janeiro/2010

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