domingo, 10 de agosto de 2014

O que diz a "Bola de Cristal"?

Até o início do ano, havia uma forte
convergência entre os analistas internacionais de que
o mundo estaria caminhando para a recuperação
econômica. Porém, desde então, uma série de
eventos colocou em cheque esse cenário. Em
destaque: (i) o aumento do preço do petróleo e de
importantes commodities, que contribuíram para
turbinar a inflação mundial e reduzir o poder de
consumo; (ii) A catástrofe natural no Japão que se
repercutiu na cadeia produtiva mundial; (iii) o aperto
monetário nas economias emergentes como forma
de combater a inflação e que tiveram como resultado
a desaceleração nesse grupo de países e; (iv) o
agravamento da questão fiscal em alguns países
europeus, com elevação do temor de uma nova onda
de problemas no sistema financeiro. Para reforçar
essa percepção, os indicadores relacionados ao
mercado de trabalho nos países desenvolvidos e
também os índices de atividade nos emergentes,
vieram abaixo das expectativas de analistas.

Nesse momento, fica difícil tirar uma
fotografia da economia internacional. Isso porque, a
heterogeneidade nos resultados de desempenho em
cada país pode gerar uma figura distorcida da
realidade. Há economias em processo de
recuperação, outras apenas desacelerando e algumas
em recessão, ou então caminhando em direção a
essa. Esse movimento de subida e descida da
atividade produtiva ao longo do tempo é natural,
sendo definido pelos economistas como “ciclo dos
negócios”. Acontecem em todos os setores, como
por exemplo, na agricultura, com períodos de boa
safra seguidos de outros não tão positivos, nas
vendas de computadores, carros e até no ciclo de
troca da residência. E, além disso, é um movimento
regular, que se repete de tempos em tempos. Nesse
caso, pode-se determinar dois pontos de análise: (i) o
momento máximo de atividade; (ii) o ponto mínimo.
Sabemos que, após o máximo, a economia caminha
para um mínimo. Passado esse, caminha-se
novamente em direção ao máximo. Lembre-se de
como foi a Argentina após a crise de 2001. Era
natural crescer depois de uma queda do produto tão
significativa. O mesmo se aplica ao cenário pós crise
de 2007-08. Depois de atingir o fundo do poço, nada
mais certo que crescer novamente.
A questão atual é que esse momento pós
crise passou, ou seja, muitas economias já saíram do
“fundo do poço” e o desafio passou a ser identificar
onde cada país se encontra nesse momento. Dito de
outra forma, qual economia está caminhando para o
ponto de máximo de produção. Qual ultrapassou
esse ponto e está desacelerando e, qual atingiu o
ponto mínimo. A utilidade nessa informação está
justamente em poder entender o real funcionamento
da economia em determinado momento. Para outros
agentes, como por exemplo, o Banco Central,
investidores no mercado de ativos e empresários, o
melhor seria poder antecipar esse movimento, em um
exercício claro de previsão do que acontecerá daqui há
alguns meses. Mesmo diante da dificuldade que se
coloca nesse exercício, há um conjunto de indicadores
desenvolvido pela OCDE que permite fazer essa
inferência. Esses são conhecidos como “indicadores
antecedentes”.
Calculados desde o início da década de 1980,
sua avaliação histórica dá respaldo ao seu uso como
antecedente do movimento futuro da economia. Por
exemplo, o último período recessivo nos EUA durou
18 meses, quando então a economia saiu de um pico
em dezembro de 2007 para o “fundo do poço” em
junho de 2009. Porém, em junho de 2007, o indicador
da OCDE já sinalizava que os EUA iam entrar nesse
período de desaceleração mais á frente. Ou seja, com
seis meses de antecedência já era possível imaginar
uma possível desaceleração na economia. Da mesma
forma, a saída da recessão em junho de 2009 foi
antecipada, pelo indicador, em março de 2009, ou
seja, três meses antes dela acontecer de fato.
Atualmente, o indicador relacionado aos EUA sinaliza
que aquela economia continua a se expandir, mesmo
que essa a uma taxa mais amena. Num grupo mais
adiantado, podemos agregar a Alemanha e o Reino
Unido, com uma sinalização clara de que seu processo
de crescimento está se esgotando. Por outro lado, o
grupo daqueles no qual o indicador sinaliza que o
processo de desaceleração não só está em curso mas,
que deve durar pelo menos por mais seis meses, é bem
maior, sendo composto por: Bélgica, Finlândia,
França, Itália, México, Portugal, Espanha, Brasil,
China, Rússia e Índia. Especificamente no caso do
Brasil, o indicador da OCDE sinalizou que a
economia atingiu um pico em junho de 2008. Desde
então, mergulhou em um processo de desaceleração
que durou até março de 2009. Ao atingir esse “vale”, a
economia do país começou a se recuperar novamente
e, tendo como base as informações mais recentes, essa
recuperação terminou em setembro de 2010. Desse
ponto em diante, o país estaria entrando em um
processo de desaceleração que ainda deve durar, pelo
menos, mais seis meses.
Muito mais do que determinar a magnitude do
crescimento econômico, como por exemplo, se o país
está crescendo 2% ou 4%, esses indicadores
contribuem para inferir sobre a situação econômica
nos próximos seis meses. E, nesse caso, para o cenário
internacional, a resposta é clara: estabilidade e
heterogeneidade na dinâmica de crescimento de 2011.
Para o Brasil, desaceleração que ainda perdura alguns
meses.

Publicado no Informe Econômico 20/junho/2011

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