A escolha por manter a taxa de juros inalterada em 2%,
na reunião da semana passada do FED (Banco Central Americano), dá o tom da
preocupação da autoridade monetária. Um dos maiores temores do FED é a
estagflação, uma combinação perversa entre baixo crescimento econômico com
inflação alta, situação essa que limita sobremaneira os efeitos da política monetária.
Por hora, a escolha em manter juros baixos indica que os riscos maiores ainda
se encontram na desaceleração do PIB, apesar da ata sinalizar a preocupação com
os maiores níveis de preços.
Porém,
uma análise sobre os dados macroeconômicos nos EUA sinaliza que a retração do
consumo ainda está longe do fim. Em primeiro lugar, com a maior restrição ao
crédito habitacional, diante do aumento do risco de default, as taxas
dos empréstimos continuam elevadas, tanto em termos absolutos quanto
relativamente ao mais importante colateral, que é o próprio preço dos imóveis.
Ou seja, a razão custo do empréstimo e garantia, não está favorável para os
consumidores. Se o preço dos imóveis estivesse em crescimento, taxas de
empréstimo, mesmo que um pouco elevadas, poderiam ser compensadas. Mas,
enquanto o preço dos imóveis continuar a cair, será difícil fazer esse mercado
retomar.
Além
disso, a perda de renda com a queda do preço dos ativos, seja imóveis ou ações,
terá impactos sobre o consumo presente e a propensão a poupar das famílias. Os
dividendos e os juros representam cerca de 20% da renda do americano médio, o
que dá o tom de importância do comportamento do mercado de ativos. Na outra
ponta está o elevado comprometimento da renda com hipotecas. Historicamente,
essas representavam 4% do total da renda disponível do americano. Desde 1999,
que o endividamento do consumidor cresce, e as hipotecas passaram a
representar, ao final do ano passado, a marca significativa de 14% da renda. Um
comportamento que teve como conseqüência a queda da taxa de poupança, que está
no menor nível desde 1947. Os impactos sobre a economia vão desde menor venda
de novos imóveis até o segmento de bens de consumo duráveis, refletindo-se na
atividade econômica e na geração de empregos.
Do
outro lado do oceano, as economias da Europa também sinalizam riscos sobre a
atividade econômica. Na zona do Euro, o crescimento projetado para 2008 deve
ser de 1,6%, cerca de metade do verificado no ano passado. Tal resultado terá
reflexos importantes sobre a região e também sobre os Países emergentes do
leste Europeu. A ligação entre esses dois grupos de países ocorre sob três
óticas. Primeiro pelo nível de comércio. Países como a República Tcheca,
Eslováquia e Hungria têm, na zona do Euro, um mercado importante, e as
exportações para a região representam 80% do PIB desses países. Na outra via, o
Leste Europeu, como grupo, pode ser visto como o mais importante comprador da
Zona do Euro, cerca de 30% do total das exportações, superando, inclusive, o
Reino Unido e os EUA. Portanto, um desaquecimento na Alemanha, França e Itália,
não deve ser desprezado.
Outro
vínculo importante entre esses paises é o financeiro, em especial o canal de
crédito. Diversos bancos com matrizes nos países da zona do Euro concederam
empréstimos a consumidores no leste europeu. Como percentual do total de
empréstimos externos, o Leste Europeu representa 34% da carteira dos bancos da
Áustria mas, apenas 11% da carteira de bancos Italianos e Suecos. Assim, mesmo
diante de uma possibilidade de contágio por essa via, ela tem menores
potenciais que a ligação comercial.
Por
fim, o terceiro canal de ligação econômica são os investimentos estrangeiros
direto. Atualmente, o estoque de investimentos estrangeiros é da ordem de US$
273 bilhões onde, Polônia, Hungria e República Tcheca representam 70%. Esse
fluxo de recursos foi importante para financiar o elevado déficit em transações
correntes que os países do Leste Europeu apresentam. Uma interrupção nesse
movimento de capitais pode representar dificuldades macroeconômicas locais, com
impactos sobre a taxa de câmbio, nível de preços e atividade econômica.
Nos
últimos anos, a maior ligação comercial e financeira conseguiu gerar enormes
benefícios do ponto de vista de redução das desigualdades regionais, criando
oportunidades para diversos países. O outro lado da moeda é que, com relações
mais estreitas, os potenciais riscos de contágio são maiores, tornando as
crises menos localizadas. E, os sinais de desequilíbrios macroeconômicos no
cenário internacional são inequívocos.
Os números verificados na Europa
Ocidental indicam que o processo de desaceleração da atividade produtiva está
em curso e, o aumento dos índices de preços, é elemento importante desse
cenário. Em especial porque tem o poder de reduzir a taxa de sucesso das ações
de política monetária dos diversos Bancos Centrais. Atualmente, a maior parte
do crescimento econômico no Brasil está sustentado pela dinâmica do mercado
interno. Mas, mesmo como coadjuvante no ambiente internacional, o País não está
livre de sentir o desaquecimento da atividade produtiva nos nossos principais
parceiros comerciais, que deve durar até o início do segundo semestre do ano de
2009.
Publicado no Informe Econômico de 11/08/2008
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