A análise do potencial de mercado nos
BRIC ainda é assunto entre investidores internacionais. Esses quatro países
estão entre as 11 maiores economias no mundo. O PIB da China em 2007 se
aproximou do PIB da Alemanha (US$ 3,7 trilhões), atrás apenas do Japão (US$ 4,2
trilhões) e dos EUA (US$ 13,8 trilhões). A economia brasileira é a nona maior,
com um PIB estimado em US$ 1,5 trilhão, e a Rússia com US$ 1,4 trilhão e a
Índia, com US$ 1,2 trilhão, logo em seguida. Ou seja, o PIB dos BRIC representa
quase US$ 8 trilhões e, as projeções para 2050 são mais favoráveis ainda para
esse mercado.
Pesquisa recente, O’Neill et al (2008),
sinaliza que China e Índia deverão ser as duas maiores economias do mundo em
2050, ultrapassando o PIB dos EUA. É claro que esse resultado está recheado de
diversas hipóteses como, por exemplo, uma estimativa de crescimento da ordem de
8,3% ao ano para a Índia. Apesar dos resultados impressionantes, os pontos mais
importantes estão relacionados aos desafios que se colocam para os governos
locais, nos próximos anos, para que esse cenário se materialize. No Brasil,
estamos muito acostumados a falar sobre reformas microeconômicas e melhora nas
instituições, como fatores determinantes de um crescimento sustentável. Por
vezes, achamos que apenas nosso País atravessa problemas dessa natureza. Porém,
o despertar de economias como a da China e da Índia, nos indica que esses
também encontram desafios similares, senão mais intensos que os nossos.
Uma das maiores vantagens da economia
Indiana será seu mercado interno. De acordo com projeções das Nações Unidas,
entre o ano 2000 e 2020, o País deverá adicionar cerca de 310 milhões de
habitantes aos mais de 1 bilhão existentes, um adicional que equivale à
população dos EUA de hoje. Desse total, a parte que pode ser considerada como “força
de trabalho”, é igual à soma da população em idade ativa da França, Alemanha,
Itália e Reino Unido. Sem dúvida alguma, um enorme mercado interno estará se
formando nesses próximos anos. As estimativas também dão conta de que o País
continuará a experimentar uma forte migração do campo para as cidades. Nos
próximos vinte anos serão cerca de 140 milhões de pessoas que irão migrar. Um
contingente que irá se somar àqueles que já se encontram nas grandes cidades,
ocasionando uma maior demanda por energia, alimentos, meios de transporte,
educação, saúde e etc.
Porém, os desafios a serem enfrentados
pelo País são muitos. De acordo com um indicador desenvolvido pelo Goldman
Sachs, o GES (Growth Enviroment Score), que procura classificar o
potencial de crescimento das economias de acordo com 13 diferentes variáveis, a
Índia ainda se encontra abaixo da média dos países em desenvolvimento. A título
de ilustração, dentro do grupo dos BRIC, a Índia é a única nessa posição, pois
China, Rússia e Brasil encontram-se acima dessa média. Do total de 13 variáveis
analisadas, 7 apresentam um resultado abaixo da média dos países em
desenvolvimento. São dois fatores macroeconômicos; (a) a fragilidade nas contas
públicas; (b) o baixo grau de abertura da economia Indiana, e outros cinco
relacionados ao ambiente microeconômico; (c) educação; (d) estabilidade
política; (e) uso de computadores; (f) telefonia; (g) acesso à Internet.
A velocidade no qual expande a oferta de
serviços públicos para a população, é menor que a demanda da sociedade por
melhor infra-estrutura de transporte coletivo, serviços de higiene básica, como
água e esgoto, e também na área educacional. Nesse caso, o maior desafio do
governo é conseguir melhorar a taxa de alfabetização de adultos no País, que
está abaixo de 70%, o menor valor dentro dos BRIC. E o trabalho não será
pequeno, apesar do elevado número de crianças nas escolas, cerca de 100 milhões
que estão em idade escolar são incapazes de ler e escrever, e os índices de
evasão são enormes. No ensino superior, os problemas são de oferta de vagas. As
projeções são de que o número de estudantes, nos próximos 15 anos, seja cerca
de três vezes maior que o atual. Na tentativa de contornar esse problema, o
governo já propôs aumentar o número de universidades de 350 para 1,5 mil até
2016.
No campo macroeconômico, há algumas
semelhanças com os desafios enfrentados pelo Brasil. A Índia tem um passado de
estabilidade preços – não se esqueça que há controle do preço de diversos
alimentos - porém, mesmo assim, não adotou um sistema de metas de inflação. O
Banco Central da Índia (RBI), também não é independente, e há controles sobre a
taxa de câmbio. O sistema financeiro ainda tem forte presença do estado, que
detém cerca de 70% dos ativos e o mercado de crédito e pouco desenvolvido, com
participação de apenas 50% do PIB (no Brasil é 36%).
A constatação de que outros países que
concorrem no mercado internacional de bens e serviços diretamente com o Brasil,
também precisam melhorar sua infra-estrutura interna e reformar instituições
para continuar a crescer, não deve ser interpretada como alívio para a nossa
ausência de ação no campo das reformas. E sim, como uma oportunidade de criar
um diferencial para o Brasil.
Fonte: O’Neill, J.;
Poddar, T. Ten things for India to achieve its 2050 potential, Global
Economics Paper N° 169, Goldman Sachs, 2008.
Publicado no Informe Econômico de 04/08/2008
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