segunda-feira, 4 de agosto de 2014

BRIC: a Índia em foco.

A análise do potencial de mercado nos BRIC ainda é assunto entre investidores internacionais. Esses quatro países estão entre as 11 maiores economias no mundo. O PIB da China em 2007 se aproximou do PIB da Alemanha (US$ 3,7 trilhões), atrás apenas do Japão (US$ 4,2 trilhões) e dos EUA (US$ 13,8 trilhões). A economia brasileira é a nona maior, com um PIB estimado em US$ 1,5 trilhão, e a Rússia com US$ 1,4 trilhão e a Índia, com US$ 1,2 trilhão, logo em seguida. Ou seja, o PIB dos BRIC representa quase US$ 8 trilhões e, as projeções para 2050 são mais favoráveis ainda para esse mercado.

Pesquisa recente, O’Neill et al (2008), sinaliza que China e Índia deverão ser as duas maiores economias do mundo em 2050, ultrapassando o PIB dos EUA. É claro que esse resultado está recheado de diversas hipóteses como, por exemplo, uma estimativa de crescimento da ordem de 8,3% ao ano para a Índia. Apesar dos resultados impressionantes, os pontos mais importantes estão relacionados aos desafios que se colocam para os governos locais, nos próximos anos, para que esse cenário se materialize. No Brasil, estamos muito acostumados a falar sobre reformas microeconômicas e melhora nas instituições, como fatores determinantes de um crescimento sustentável. Por vezes, achamos que apenas nosso País atravessa problemas dessa natureza. Porém, o despertar de economias como a da China e da Índia, nos indica que esses também encontram desafios similares, senão mais intensos que os nossos.
Uma das maiores vantagens da economia Indiana será seu mercado interno. De acordo com projeções das Nações Unidas, entre o ano 2000 e 2020, o País deverá adicionar cerca de 310 milhões de habitantes aos mais de 1 bilhão existentes, um adicional que equivale à população dos EUA de hoje. Desse total, a parte que pode ser considerada como “força de trabalho”, é igual à soma da população em idade ativa da França, Alemanha, Itália e Reino Unido. Sem dúvida alguma, um enorme mercado interno estará se formando nesses próximos anos. As estimativas também dão conta de que o País continuará a experimentar uma forte migração do campo para as cidades. Nos próximos vinte anos serão cerca de 140 milhões de pessoas que irão migrar. Um contingente que irá se somar àqueles que já se encontram nas grandes cidades, ocasionando uma maior demanda por energia, alimentos, meios de transporte, educação, saúde e etc.
Porém, os desafios a serem enfrentados pelo País são muitos. De acordo com um indicador desenvolvido pelo Goldman Sachs, o GES (Growth Enviroment Score), que procura classificar o potencial de crescimento das economias de acordo com 13 diferentes variáveis, a Índia ainda se encontra abaixo da média dos países em desenvolvimento. A título de ilustração, dentro do grupo dos BRIC, a Índia é a única nessa posição, pois China, Rússia e Brasil encontram-se acima dessa média. Do total de 13 variáveis analisadas, 7 apresentam um resultado abaixo da média dos países em desenvolvimento. São dois fatores macroeconômicos; (a) a fragilidade nas contas públicas; (b) o baixo grau de abertura da economia Indiana, e outros cinco relacionados ao ambiente microeconômico; (c) educação; (d) estabilidade política; (e) uso de computadores; (f) telefonia; (g) acesso à Internet.
A velocidade no qual expande a oferta de serviços públicos para a população, é menor que a demanda da sociedade por melhor infra-estrutura de transporte coletivo, serviços de higiene básica, como água e esgoto, e também na área educacional. Nesse caso, o maior desafio do governo é conseguir melhorar a taxa de alfabetização de adultos no País, que está abaixo de 70%, o menor valor dentro dos BRIC. E o trabalho não será pequeno, apesar do elevado número de crianças nas escolas, cerca de 100 milhões que estão em idade escolar são incapazes de ler e escrever, e os índices de evasão são enormes. No ensino superior, os problemas são de oferta de vagas. As projeções são de que o número de estudantes, nos próximos 15 anos, seja cerca de três vezes maior que o atual. Na tentativa de contornar esse problema, o governo já propôs aumentar o número de universidades de 350 para 1,5 mil até 2016.
No campo macroeconômico, há algumas semelhanças com os desafios enfrentados pelo Brasil. A Índia tem um passado de estabilidade preços – não se esqueça que há controle do preço de diversos alimentos - porém, mesmo assim, não adotou um sistema de metas de inflação. O Banco Central da Índia (RBI), também não é independente, e há controles sobre a taxa de câmbio. O sistema financeiro ainda tem forte presença do estado, que detém cerca de 70% dos ativos e o mercado de crédito e pouco desenvolvido, com participação de apenas 50% do PIB (no Brasil é 36%).
A constatação de que outros países que concorrem no mercado internacional de bens e serviços diretamente com o Brasil, também precisam melhorar sua infra-estrutura interna e reformar instituições para continuar a crescer, não deve ser interpretada como alívio para a nossa ausência de ação no campo das reformas. E sim, como uma oportunidade de criar um diferencial para o Brasil.
Fonte: O’Neill, J.; Poddar, T. Ten things for India to achieve its 2050 potential, Global Economics Paper N° 169, Goldman Sachs, 2008.

Publicado no Informe Econômico de 04/08/2008

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