O Lehman Brothers, instituição
financeira de 158 anos, era o 4º maior banco de investimentos dos EUA, e
integrava uma lista de cinco grandes instituições (Goldman Sachs, Merrill
Lynch, Morgan Stanley e Bear Sterns).
Desde o início da crise de crédito subprime no ano passado, a situação
da instituição começou a piorar quando se constatou que o valor da carteira de
ativos do Banco, lastreada em hipotecas, era menor do que o de mercado. O
resultado disso foram perdas de mais de US$ 8 bilhões no período jun/07 até
ago/08, e se admitiu que ainda existe um grande prejuízo a ser reconhecido.
Cabe destacar que o Lehman Brothers,
assim como outros bancos de investimentos, não recebia depósitos e não fazia
crédito ao público. Apenas negociava com outros bancos e instituições de
investimento vendendo carteiras de crédito. Esse é o primeiro ponto que
diferencia essa crise de outras, pois ela ocorre no sistema financeiro não
bancário atingindo, principalmente, as instituições voltadas ao mercado de
capitais e seguradoras. Com a constatação que essas carteiras possuem um valor
menor que o contabilizado, todos os que negociavam com esses bancos devem ter perdas.
Porém, essas são de difícil mensuração. O certo é que deve haver uma maior
restrição ao crédito para consumo e investimento, contaminando outros setores
da economia dos EUA e outros países.
A primeira questão que se impõe é, por
que o Tesouro Americano não ajudou o Lehman Brothers, visto que, já havia
estendido a mão ao JP Morgan a comprar o Bear Sterns e, na prática,
nacionalizou a Fannie Mae e a Freddie Mac? Para evitar que as instituições que
enfrentam dificuldades incorressem em risco moral, não ajudar o Lehman
Brothers, num primeiro momento, tem o objetivo de sinalizar ao mercado que os
próprios bancos devem buscar os meios de se recuperar. Ou seja, se os
investidores tiverem certeza que o Banco Central e o Governo sempre irão
salvá-los em tempos de dificuldades, não terão incentivos para operarem de
forma menos arriscada.
Por outro lado, constata-se que o setor
financeiro é, recorrentemente, mais amparado em momentos de crise do que os
outros setores da economia. Isso ocorre, entre outros motivos, porque esse
segmento é o responsável pelo estoque de riqueza das famílias. Perceba que
quando outros setores entram em crise, há uma redução no fluxo de renda das
famílias, mas quando o problema ocorre com um banco é o estoque de riqueza dos
investidores que é atingido. Por exemplo, quando uma pessoa fica desempregada
ela deixa de ganhar salário, assim o seu fluxo de renda é interrompido,
entretanto ela não perde seu patrimônio, tal como automóvel, moradia e
poupança. Portanto, na comparação com os demais tipos de crises, as financeiras
tem um maior potencial de contágio e de desestruturação das economias.
Quanto às repercussões no Brasil, é
quase um consenso entre os analistas de que a crise chega aqui amortecida e que
o principal impacto, além da volatilidade nos mercados financeiros, deve ser
uma redução no crescimento econômico em 2009. Entretanto, o tamanho da
desaceleração vai depender do impacto dessa crise na Ásia, em especial a China.
Mais especificamente, o impacto sobre a
economia brasileira deve ocorrer basicamente por duas vias. A primeira é a
financeira. A maior aversão ao risco deve limitar o fluxo de capitais para
países emergentes, além do acesso a crédito por parte de empresas locais.
Posteriormente pela via comercial. O menor crescimento nos EUA e na Europa pode
reduzir a demanda por exportações brasileiras. Se por um lado, os exportadores
sentem-se mais confortáveis com o câmbio mais desvalorizado, por outro haverá
uma redução na demanda mundial. Novamente, o tamanho desse impacto vai depender
de como os demais membros do BRIC vão digerir a crise.
Além disso, o País tem baixo grau de
abertura econômica frente a padrões internacionais. A corrente de comércio
(exportações + importações) sobre o PIB, é da ordem de 30%. Uma desaceleração
econômica mundial pode reduzir a demanda por exportações do País, mas com
impactos limitados.
A economia brasileira está preparada?
Apesar de não saber se estamos no início, meio ou fim da crise, ao que tudo
índica, a economia brasileira realmente nunca esteve tão bem preparada para uma
crise internacional. De modo geral, três fatores devem sustentar o crescimento
do País: (1) Elevadas reservas cambiais, próximas a US$ 200 bilhões, o que cria
um “colchão” de liquidez para fazer frente a uma possível saída em massa de
dólares do Brasil. (2) Menor endividamento externo. Ao longo dos últimos anos
reduzimos esse e nos tornamos credor externo (a dívida é menor que as
reservas). Com isso, o risco de corrida pelo dólar, é menor. (3) Câmbio
flutuante. Esse sistema pode se ajustar a diferentes patamares de oferta e
demanda por dólar, reduzindo a probabilidade de uma crise no Balanço de
Pagamentos.
Por
fim, a maior certeza nesse momento é a de que o sinal de alerta deve continuar
ligado, uma vez que o período de duração dessa conjuntura é incerto. Além
disso, a crise no sistema financeiro norte-americano é a mais grave das últimas
décadas, especialmente porque tem seu epicentro na maior economia do planeta, e
já atinge 60% do PIB mundial, o que agrava as possibilidades de contágio.
Publicado no Informe Econômico de 22/09/2008
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