domingo, 10 de agosto de 2014

Nunca na história desse país se teve tanta violência

Recentemente o IBGE divulgou pesquisa que
levanta dados nacionais relacionados à vitimização no
ano de 2009. Os resultados agregados apenas
comprovam, com números, aquilo que a população
brasileira percebe no cotidiano: o aumento da
violência, e deixa clara a necessidade de resolver um
dos principais entraves à melhora da qualidade de vida
da nossa sociedade nos próximos anos: a segurança.
Os resultados da pesquisa são divididos em três
modalidades: (i) tentativa; (ii) roubo e furto; (iii)
agressão; e podem ser abertos entre zona rural e
urbana, sexo, cor ou raça, grupo de idade e anos de
estudo. Em qualquer uma das modalidades
pesquisadas houve expansão da violência na
comparação com mesma pesquisa realizada em 1988.

Há 21 anos cerca de 1,6% da população brasileira com
mais de 10 anos tinha sido vítima de tentativa de
roubo ou furto. Em 2009 esse número atingiu 5,4% da
população brasileira. Ou seja, triplicou em duas
décadas. Atualmente, seria como imaginar que a cada
dia, no Brasil, pelo menos 23 mil pessoas são vítimas
de tentativas de roubo e furto. É um número muito
elevado e gera um pesado custo para a sociedade a
cada ano, seja em termos de controle, combate ou até
de proteção privada. Em termos regionais, esse
percentual é maior no Norte e Centro-Oeste, onde
7,6% da população foi vítima de tentativa de roubo e
furto em 2009.
Porém, muitas vezes a tentativa não é
concretizada nas duas outras modalidades de
violência. Nesse caso, a pesquisa também traz
resultados sobre roubo/furto e agressão. No primeiro
caso podemos ver que a violência aumentou, entre
1988 e 2009: (i) tanto entre homens quanto entre as
mulheres porém, de forma mais acentuada entre as
mulheres, e isso pode estar refletindo uma importantes
transformação social do período, com a mulher
trabalhando fora de casa e, por conseguinte, se
expondo mais a roubo e furto; (ii) em qualquer uma
das classificações de cor ou raça; (iii) em qualquer
faixa de idade, tendo decaído apenas entre aqueles
com 70 anos ou mais (talvez porque esses se expõem
menos à violência por ficarem mais tempo na
residência) e com destaque para aqueles entre 16 e 24
anos, ou seja, o jovem continua a ser o mais atingido
pela violência no Brasil; (iv) caiu apenas dentre
aqueles com mais de 11 anos de estudo e aumentou
acentuadamente dentre aqueles sem instrução e entre 1
e 3 anos de estudo, revelando uma importante
correlação entre nível educacional e exposição à
violência. Nota-se que quase não há grupo social que
tenha ficado imune à escalada da violência no Brasil
nesse período. De um modo geral, as maiores taxas
estão entre os jovens de 16 a 24 anos, onde 8,9%
desses foram vítimas no ano de 2009. Isso representa
um universo de 3 milhões de pessoas, ou seja, a cada
hora 345 jovens sofrem roubo ou furto no Brasil.
Outro resultado interessante é que, apesar de ter
caído a incidência de violência sobre o grupo de
pessoas com mais anos de estudo, esse ainda é elevado,
e atinge 10,6% da população com mais de 15 anos de
estudo. De modo que, em um grupo de 10 pessoas com
boa qualificação o que, naturalmente é revertido em
maiores salários e bens, a chance de ser roubado ou
furtado é de 10% ao longo de um ano. E se essa pessoa
estiver na região Nordeste, a chance de ser roubada ou
furtada sobe para 13%. Há claramente uma relação
inversa entre renda e distribuição da mesma. Ou seja, a
desigualdade social mostra sua face mais perversa. Em
termos regionais, as maiores incidências de violência
para roubo e furto entre as mulheres acontecem na
região Centro-Oeste e Norte, e que também é a região
com o maior índice de violência entre jovens de 16 e 24
anos.
A pesquisa também mostra exatamente a forma
como as pessoas que cometem delito se adequaram a
uma nova realidade, mudando o tipo de bem roubado.
Em 1988, 24% dos roubos eram de dinheiro seguido de
20% para jóias e relógios. Em 2009, aumentou a
incidência sobre dinheiro, para 31% e caiu a de relógio,
para 6%. Porém, surgiu uma modalidade de violência, o
roubo de celulares, que já responde por 31% dos
registros. A forma como o assaltante age também se
modificou nesse período. Em 1988, cerca de 46% dos
roubos eram cometidos na residência das pessoas, e
apenas 33% nas vias públicas. Na medida em que
proliferaram os condomínios fechados, a construção de
muros, grades, contratação de vigilância privada,
instalação de câmaras e todos os demais aparatos para
dificultar as ações nas residências, a ação daqueles que
cometem delito se adaptou. Em 2009, apenas 12% dos
roubos ocorreram em residências e locais públicos
passaram a responder por 71% dos delitos. Vemos aqui
claramente que: (i) o elevado custo Brasil associado à
necessidade da população ter que fazer gastos privados
adicionais para se proteger; (ii) a falência do estado
como garantidor da segurança pública.
Se existe uma notícia boa em todas essas
estatísticas é que pelo menos a população está
procurando a polícia para registrar a ocorrência. Em 1988
apenas 32% daqueles que tinham sido vítimas de roubo
procuraram a polícia e, em 2009, 49%. Mesmo assim,
nota-se que ainda é um contingente elevado de pessoas
que não procuram a polícia, e a pesquisa aponta o
principal motivo: 32% disseram não acreditar nessa. Um
resultado pior que os 28% de 1988. Como pode ser visto,
nunca na história desse país a violência foi tão alta.

Publicado no Informe Econômico 28/fevereiro/2011

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