domingo, 10 de agosto de 2014

Estamos crescendo menos

Na década de 2000, a economia brasileira
alcançou maior estabilidade e, consequentemente,
atingiu maiores taxas de crescimento. Uma das
conseqüências mais notáveis e mais comentadas
recentemente deste processo foi a expansão do
mercado de trabalho formal brasileiro. Dados
fornecidos pelo Ministério do Trabalho e do
Emprego mostram que, em 2000, o Brasil contava
com 26,23 milhões de trabalhadores formais. Em
2009, este número passou a ser de 41,2 milhões.
Assim, observa-se que nestes 9 anos, a mão-de-obra
formal do País se expandiu em quase 60%, numa
média anual de crescimento de cerca de 5%.
Claramente, o ritmo de expansão do
mercado de trabalho não foi uniforme ao longo de
todas as regiões do País. Em 2000, as regiões Sul e
Sudeste respondiam, juntas, por 71,2% da mão-de-obra
formal brasileira. Embora o número de
trabalhadores nestes locais não tenha deixado de
crescer, o fez em ritmo consideravelmente inferior
em comparação ao observado nas demais regiões.

Como conseqüência, perderam participação e, em
2009, representavam 68,4% do total. Ainda que este
percentual continue sendo bastante significativo,
nota-se um menor dinamismo no mercado de
trabalho no Sul e no Sudeste do País. Entre 2000 e
2009, estes apresentaram expansão anual média da
mão-de-obra formal, respectivamente, de 4,8% e
4,6%, frente a um aumento de 8%, 6% e 5,6%
observados para o Norte, Nordeste e Centro-Oeste.
Os resultados encontrados para a região
Norte chamam atenção. Em 2000, esta concentrava
4,2% do total de trabalhadores do Brasil, sendo que,
em 2009, este percentual passou a ser de 5,3%.
Embora 1,1 p.p. possam parecer um aumento pouco
significativo, cabe destacar que se refere a um
grande universo. A aceleração da expansão do
mercado de trabalho da região Norte foi suficiente
para dobrar o estoque de trabalhadores formais lá
alocados, que passou de 1,09 milhões em 2000 para
2,19 em 2009. O Estado de Roraima, por exemplo,
triplicou sua mão-de-obra formal neste mesmo
período.
É sabido que o trabalho é um dos principais
insumos utilizados no processo de produção e o
resultado apresentado para o número de
trabalhadores da região Norte é conseqüência de seu
crescimento econômico verificado na década. Entre
2002 e 2009, segundo o Índice de Atividade
Econômica do Banco Central do Brasil, o ritmo de
expansão anual média da atividade na região foi de
4,1%, acima do registrado para a média brasileira
(3,7%) e para todas as demais regiões do País. Os
dados de participação do PIB regional sobre o PIB
nacional, divulgados pelo IBGE, também mostram
que as regiões periféricas têm ganhado cada vez mais
espaço. O fato de regiões menos desenvolvidas
crescerem em ritmo superior àquele observado para
regiões mais desenvolvidas não traz novidade e
encontra respaldo na teoria econômica. Segundo esta,
regiões com níveis diferentes de desenvolvimento
tendem, no longo prazo, a convergir para um mesmo
patamar.
Entretanto, os dados mostram que as
especificidades encontradas ao longo do território
nacional também ganham lugar entre os estados de
uma mesma região geográfica. Um forte exemplo
deste fato é o Sul do País que, formado por três
estados, apresenta profundas diferenças. Destaca-se
ainda que os resultados inferiores à média nacional
aqui apresentados, devem-se, principalmente, ao fraco
desempenho da economia do Rio Grande do Sul na
década de 2000.
Nota-se, por exemplo, que os Estados do
Paraná e de Santa Catarina apresentaram expansão
anual média do número de trabalhadores formais,
entre os anos 2000 e 2009, de 5,3% e 6,1%, ambos
superiores a média observada para o Brasil. Por outro
lado, o fraco desempenho observado para o Rio
Grande do Sul, com uma média anual de crescimento
de 3,6% para o mesmo período, foi suficientemente
grande para fazer com que a média da região Sul
ficasse abaixo da média brasileira.
A diferenciação do ritmo de expansão entre
estes três estados foi grande o suficiente para alterar o
cenário da região ao longo da década. Em 2000, o
Estado com maior número de empregados formais era
o Rio Grande do Sul (1,89 milhões), seguido dos
estados do Paraná (1,65 milhões) e Santa Catarina
(1,08 milhões). Em 2009, este ranking se alterou, e o
Paraná passou a ser o estado da região com maior
mão-de-obra formal, com 2,64 milhões de
trabalhadores, seguido pelo Rio Grande do Sul, com
2,6 milhões e por Santa Catarina, com 1,84 milhões.
Outros indicadores também mostram o maior
dinamismo do Paraná e de Santa Catarina frente ao
Rio Grande do Sul. O crescimento anual médio do
PIB real nestes estados entre os anos de 2000 e 2008
foi de 3,5%, 3,3% e 2,4%, respectivamente. Além
disso, entre os anos de 1996 e 2005 o Rio Grande do
Sul ocupou o 4º lugar no ranking brasileiro do PIB
industrial, tendo sido ultrapassado em 2006 pelo
Paraná, que se mantém nesta colocação desde então.
Um crescimento inferior de variáveis
econômicas do Rio Grande do Sul em comparação
com regiões menos desenvolvidas é esperado. Por
outro lado, quando este resultado se repete na
comparação com nossos pares, é preocupante.

Publicado no Informe Econômico 07/fevereiro/2011

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