domingo, 10 de agosto de 2014

2011 é diferente de 2010

O cenário que se desenha para a atividade
industrial no Rio Grande do Sul em 2011 é o mesmo
que encerrou o ano passado: retração. Repercutindo
o comportamento das horas trabalhadas (-0,9%) e a
da massa salarial (-1,1%), o Índice de Desempenho
Industrial (IDI/RS) registrou nova redução (-0,5%)
em janeiro relativamente ao mês de dezembro na
série livre de influências sazonais.
A nova queda, quinta nos últimos seis
meses, demonstra que a trajetória recente da
indústria gaúcha é preocupante. O setor passa por
um inequívoco processo de desaquecimento desde
março de 2010, quando o cenário de recuperação da
crise mundial de 2008 foi interrompido, o que
coincide com o fim das desonerações tributárias
feitas pelo Governo Federal. Os indicadores
associados mais diretamente à produção
apresentaram queda nesse período. O faturamento,
as compras industriais e as horas trabalhadas
recuaram, respectivamente, 5,2%, 4,6% e 3,8%. Da
mesma forma, a produção física, na série
dessazonalizada pelo IBGE, apontou uma redução
de 3,5%. O desempenho do setor só não foi pior
devido aos resultados positivos apresentados pelas
variáveis relacionadas ao mercado de trabalho para o
mesmo período: o emprego cresceu 2,7% e a massa
salarial real, 2,1%.

O comportamento da atividade industrial
gaúcha nos últimos meses já se faz sentir nas
comparações anuais. Após o desempenho histórico
do ano passado de 8,7%, influenciado pela baixa
base de comparação, a indústria passou a evoluir em
2011 num ritmo bastante moderado. Em relação a
janeiro de 2010, o IDI/RS apresentou um
crescimento de apenas 1,3%. Novamente, as
variáveis associadas ao mercado de trabalho
apresentaram as maiores taxas e desempenharam um
papel fundamental no resultado positivo. A despeito
do fraco desempenho do faturamento (+2,1%) e da
produção (-5,5%), o emprego e a massa salarial
cresceram respectivamente, 4,7% e 5,5%.
A esperada retomada do setor, ancorada,
especialmente, no bom desempenho do mercado
doméstico e no otimismo empresarial, revelado pelas
pesquisas sobre expectativas, não vem se
confirmando. E os fatores que contribuem para esse
cenário são bem conhecidos: a debilitada demanda
externa e a valorização do real, que aumenta as
dificuldades de competição do produto gaúcho no
mercado interno e externo. O ritmo intenso de
expansão do consumo no país não tem se mostrado
suficiente para contrabalancear os números mais
tímidos do setor industrial no Rio Grande do Sul,
fazendo com que essa encontre bastante dificuldade
para recuperar a trajetória de crescimento. No mesmo
sentido, as recentes medidas de restrições ao crédito e
a elevação dos juros são elementos que fornecerão
obstáculos adicionais à conjuntura de 2011 que já é
restritiva.
Mas também há outros pontos de
preocupações menos citados que podem vir a afetar as
condições de competitividade e, por conseqüência,
ampliar ainda mais as dificuldades atuais do setor.
Entre eles, vale destacar a evolução recente dos
salários, em descompasso com os indicadores de
produção. De fato, conforme já referido, os salários
reais cresceram nos últimos meses de maneira
acentuada, enquanto os níveis de faturamento,
produção e horas trabalhadas estão declinantes.
Pressionada pela escassez de mão-de-obra qualificada,
referida pelos empresários como um dos principais
obstáculos atuais do setor, a indústria gaúcha vem
introduzindo um elemento adicional que impacta seus
custos e, por extensão, a sua competitividade.
Como já bem conhecido pelos economistas,
aumentos de salários, sem o corresponde crescimento
de produtividade, tem o poder de reduzir a
competitividade, seja de uma empresa ou então da
economia como um todo. Essa pode ser medida pelo
custo unitário do trabalho – uma forma de comparar
salários entre diferentes países, uma vez que pondera
os reajustes pela produtividade usando a taxa de
câmbio – e, pelos resultados do Brasil e do Rio
Grande do Sul, podemos ver que, nesse ponto, temos
perdido competitividade a cada ano. Um ponto a
destacar é que esse custo é relativamente mais
acentuado nos setores mais sujeitos à competição
internacional e intensivos nesse fator.
Ao mesmo tempo, a falta de trabalhador
qualificado impede maiores ganhos de produtividade
compatível com o aumento dos salários, mantendo o
custo do trabalho sobre pressão. Vale lembrar que um
elemento importante que determina a baixa
competitividade atual do setor são os salários em
dólar, potencializado pela valorização cambial,
principalmente, se comparados à maioria dos
competidores externos.
Em resumo, o aumento do custo do trabalho
em uma economia global menos dinâmica e mais
competitiva deve ser considerado como um fator
importante, ainda mais diante da ausência de avanços
na agenda de reformas no que se refere ao custo
Brasil. No longo prazo, é necessário aumentar a
produtividade do trabalho, por meio de investimentos
em educação e qualificação da população. Não há
como a indústria ser competitiva sem uma força de
trabalho qualificada.

Publicado no Informe Econômico 14/março/2011

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