domingo, 10 de agosto de 2014

Mais do mesmo: Quantitative Easing II

A crise de 2007 foi a segunda maior da
história da economia norte-americana, com duração
de 18 meses, ficou atrás apenas da crise de 1929,
que durou 43 meses. Porém, ainda há o risco de uma
nova crise antes mesmo que o nível de atividade
anterior seja recuperado. Mesmo que os
especialistas em ciclos econômicos, dêem por
encerrada a crise ainda em 2009, há riscos de uma
nova retração na atividade e início de um novo
período de recessão.

O Presidente do Federal Reserve (FED), o
Banco Central dos Estados Unidos, Ben Bernanke,
em diversas oportunidades disse que não repetiria os
mesmos erros cometidos pelos dirigentes do FED na
época da grande depressão de 1929, em especial no
período de 1930 a 1933. Os erros aos quais ele se
referia eram a da forte contração da base monetária
que o FED produziu naquela época. Muitos
especialistas atribuem, em especial Milton
Friedman, que o colapso da economia ocorreu
porque o FED não agiu corretamente ao defrontar-se
com a crise bancária e de confiança, promovendo
uma forte contração na quantidade de dinheiro em
circulação, o que levou à anos de recessão
econômica nos EUA.
Um dos remédios para um problema de falta
de liquidez é uma política de Quantitative Easing
(QE), um aumento da base monetária da economia,
normalmente através da compra de títulos públicos,
de modo que o preço desses títulos aumenta e a taxa
de juros de longo prazo da economia se reduz. Essas
políticas, são usualmente evocadas quando os
métodos normais de condução da política monetária
– via taxa básica de juros ou taxa de redesconto do
crédito interbancário – já foram esgotadas, ou as
taxas de juros já estão próximo a zero.
O QE I ocorreu, em várias rodadas, entre
meados de 2009 até início de 2010. Nesse período o
FED adquiriu cerca de US$ 1,7 trilhão de títulos
lastreados em hipotecas. É difícil avaliar o quanto da
recuperação da economia deveu-se ao QE I. O fato é
que nos últimos quatro meses a atividade voltou a se
mostrar estagnada, e o crescimento ficou abaixo do
esperado. Assim, o QE II pretende, até o final de
junho de 2011, utilizar US$ 900 bilhões para a
compra de títulos públicos. Desse total, cerca de
US$ 300 bilhões, estão ligados a títulos ligados a
hipotecas que estão vencendo. Ao usar a moeda na
compra de títulos do tesouro de longo prazo, o FED
facilita os empréstimos para os setores ligados a
investimento e consumo. Além disso, os juros dos
títulos de prazo mais curto já estão muito próximos a
zero.
Desse modo, conforme dados do FED, o
plano será implementado ao ritmo de US$ 100
bilhões/mês. Porém, a perspectiva é que esse ritmo
seja acelerado na medida em que a economia não
mostre sinais de recuperação, sendo que o estímulo
pode atingir até US$ 1,5 trilhão.
A questão da real efetividade do plano para
impulsionar a economia parece ficar em segundo
plano, visto que se trata de uma política “mais do
mesmo”. Porém, fatores como a alta taxa de
desemprego, o alto grau de ociosidade na industria e o
risco de deflação parece criar o ambiente perfeito para
uma expansão quantitativa, sem maiores riscos no
curto prazo.
De fato, a taxa de desemprego tem sido o
calcanhar de Aquiles do Governo Obama, sendo esta,
possivelmente, a estatística que mais tem determinado
a crescente impopularidade do Presidente Norte-
Americano. Desde maio de 2009 a taxa de
desemprego rompeu a barreira de 9,0% e assim
permaneceu, sendo que o ápice foi atingido em
outubro de 2009 (10,1%) e o e nos últimos três meses
– agosto, setembro e outubro de 2010 – permaneceu
em 9,6%. Sendo que a média da década para o período
pré-crise foi de 5%.
A capacidade do QE II em estimular a
economia dos EUA ainda é incerta. O certo é que o
dólar ficará ainda mais enfraquecido e o poder de
compra do consumidor diminuirá, principalmente dos
produtos importados. As exportações norteamericanas
ficarão mais baratas e a tendência é que o
consumo de bens produzidos internamente aumente.
Além disso, o crédito ao consumidor e investidores
ficará ainda mais barato. O risco de falha dessa
medida ocorrerá se esse dinheiro não se traduzir em
consumo e investimentos. Ou seja, este pode não ser
investido na produção e continuar no mercado
financeiro, migrando, inclusive, para países
emergentes, onde as taxas de retorno são muito mais
atrativas. Desse modo, os impactos nos emergentes
podem ser parecidos com o que já se tem observado
no período pós-crise, os investidores, em busca de
maiores retornos, reforçarão suas apostas nos
mercados emergentes, mais estáveis e com juros
internos altos.
Portanto, não será surpresa se o Brasil
intensificar as medidas que já adotou anteriormente:
aumento de reservas, aumento na taxação e controle
temporário de capitais. Contudo, será preciso fazer
algo novo: como aumento no superávit primário.
Somente com uma maior taxa de poupança interna
será possível diminuir a dependência de capitais
externos, e cabe ao agente mais endividado da
promover esse equilíbrio.

Publicado no Informe Econômico 16/novembro/2010

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