A
dúvida sobre a possibilidade dos juros básicos no Brasil atingir novamente os
dois dígitos foi substituída pela eficácia e impactos que o mesmo pode produzir
nos próximos meses. Ou seja, será que a Selic a 10% será o suficiente
para segurar a inflação? E mais, isso irá prejudicar o crescimento econômico em
2014?
No País do “jeitinho”, até em
economia tentamos adaptar os modelos propostos e ensinados nas melhores
Universidades mundo afora. O que
funciona nos Estados Unidos, países Europeus, Japão, Chile e México, não
necessariamente terá o mesmo efeito no Brasil. O melhor exemplo é o da Política
Monetária. A ciência nos ensina que aumentos de juros são feitos com o objetivo
de promover o equilíbrio monetário, independente se a origem da inflação é de
demanda ou oferta. Claro, há outras
ações que podem ser feitas para complementar e que são vistas mais como pontuais,
como os depósitos compulsórios e redução de prazos de financiamento. Em tese,
juros maiores irão restringir a demanda por crédito, em especial no
financiamento de bens duráveis e, com isso, segurar o ímpeto de consumo das
famílias.
O efeito perverso dessa medida é que o mesmo juro que ataca o
problema de demanda também afeta a decisão de aumentar a oferta via
investimentos, fundamental para promover um nível de preços menor nos meses à
frente. Só que em economias onde o mercado funciona, as empresas encontram
alternativas para se financiarem, reduzindo o custo do período de ajuste com
juros maiores. E no Brasil? Bem, por aqui, aumentos de juros encarecem sim o
cheque especial, o financiamento pelo cartão de crédito, de automóveis e
imóveis. Também deixam mais onerosas as linhas de financiamento a capital de
giro e de investimento. Mas, porque não funciona tal qual o esperado? Avalie
como consumidor. Faz muita diferença para alguém endividado no cheque especial
ver sua dívida corrigida em 144% ao ano (taxa de outubro de 2013) ao invés de
138% de dez meses atrás? Sim, na margem. O mesmo para as demais linhas de
financiamento. Ou seja, aumentos de 2 a 4 pontos percentuais na taxa básica de
juros são significativos na base, mas não na ponta, ao consumidor final, onde
as taxas já são muito altas. Além disso, encontramos um “jeitinho” de oferecer
juros menores em algumas modalidades, como no financiamento imobiliário e no
investimento via BNDES. No primeiro caso temos a convivência pacífica dos
financiamentos a juros de mercado, em 12,8% ao ano; com os financiamentos a
juros regulados, de 7,9%. De quebra, há o assombro dos bancos públicos , muitas
vezes utilizados como instrumento de política, que prejudicam o esforço de
controle do crédito para as famílias e continuam a emprestar independente do
risco da operação ou do retorno obtido.
Diante dessa estrutura
diferenciada do Sistema Financeiro no Brasil parece claro imaginar que o
pequeno aumento de 2,75 pontos percentuais na Selic desde abril último, não
será suficiente para debelar a inflação nos próximos meses. E os agentes de
mercado já perceberam isso, tanto é que as expectativas de inflação para os
próximos dois anos não cederam.
Publicado
em novembro de 2013
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