terça-feira, 12 de agosto de 2014

Juros e inflação: casamento perfeito.

          A dúvida sobre a possibilidade dos juros básicos no Brasil atingir novamente os dois dígitos foi substituída pela eficácia e impactos que o mesmo pode produzir nos próximos meses. Ou seja, será que a Selic a 10% será o suficiente para segurar a inflação? E mais, isso irá prejudicar o crescimento econômico em 2014?
                No País do “jeitinho”, até em economia tentamos adaptar os modelos propostos e ensinados nas melhores Universidades mundo afora.  O que funciona nos Estados Unidos, países Europeus, Japão, Chile e México, não necessariamente terá o mesmo efeito no Brasil. O melhor exemplo é o da Política Monetária. A ciência nos ensina que aumentos de juros são feitos com o objetivo de promover o equilíbrio monetário, independente se a origem da inflação é de demanda ou oferta.  Claro, há outras ações que podem ser feitas para complementar e que são vistas mais como pontuais, como os depósitos compulsórios e redução de prazos de financiamento. Em tese, juros maiores irão restringir a demanda por crédito, em especial no financiamento de bens duráveis e, com isso, segurar o ímpeto de consumo das famílias. 

           O efeito perverso dessa medida é que o mesmo juro que ataca o problema de demanda também afeta a decisão de aumentar a oferta via investimentos, fundamental para promover um nível de preços menor nos meses à frente. Só que em economias onde o mercado funciona, as empresas encontram alternativas para se financiarem, reduzindo o custo do período de ajuste com juros maiores. E no Brasil? Bem, por aqui, aumentos de juros encarecem sim o cheque especial, o financiamento pelo cartão de crédito, de automóveis e imóveis. Também deixam mais onerosas as linhas de financiamento a capital de giro e de investimento. Mas, porque não funciona tal qual o esperado? Avalie como consumidor. Faz muita diferença para alguém endividado no cheque especial ver sua dívida corrigida em 144% ao ano (taxa de outubro de 2013) ao invés de 138% de dez meses atrás? Sim, na margem. O mesmo para as demais linhas de financiamento. Ou seja, aumentos de 2 a 4 pontos percentuais na taxa básica de juros são significativos na base, mas não na ponta, ao consumidor final, onde as taxas já são muito altas. Além disso, encontramos um “jeitinho” de oferecer juros menores em algumas modalidades, como no financiamento imobiliário e no investimento via BNDES. No primeiro caso temos a convivência pacífica dos financiamentos a juros de mercado, em 12,8% ao ano; com os financiamentos a juros regulados, de 7,9%. De quebra, há o assombro dos bancos públicos , muitas vezes utilizados como instrumento de política, que prejudicam o esforço de controle do crédito para as famílias e continuam a emprestar independente do risco da operação ou do retorno obtido. 
                Diante dessa estrutura diferenciada do Sistema Financeiro no Brasil parece claro imaginar que o pequeno aumento de 2,75 pontos percentuais na Selic desde abril último, não será suficiente para debelar a inflação nos próximos meses. E os agentes de mercado já perceberam isso, tanto é que as expectativas de inflação para os próximos dois anos não cederam.


 Publicado em novembro de 2013

Nenhum comentário:

Postar um comentário