Primeiro, todos acreditavam que a crise
se restringiria apenas ao mercado de crédito subprime nos EUA. O
desenrolar dos acontecimentos pós setembro revelou que muitos estavam errados.
Mesmo depois da crise ultrapassar a esfera financeira e atingir o lado real da
economia nos países desenvolvidos, a tese do “descolamento” ainda era seguida
por alguns. Porém, tal como em um efeito dominó, uma a uma, as economias foram
mostrando a capacidade de absorção dessa crise. A desaceleração nos países
emergentes passou a ser dada como certa.
Desde então, a crise internacional
ganhou destaque nos noticiários nacionais mas, sem sucesso em apontar os
efeitos nocivos sobre os indicadores por aqui. Afinal de contas, emprego,
renda, vendas do comércio e etc, continuavam a crescer, teimando em dizer que
somos uma ilha, influenciando as projeções dos orçamentos públicos para 2009 (o
governo federal ainda teima em colocar expansão de 4% do PIB para o próximo
ano) e causando a sensação de proteção. Mas calma, quando vemos o depoimento de
um empresário sobre a redução de sua carteira de pedidos, ou de ter encontrado
dificuldades na comercialização de um produto, é questão de tempo até os indicadores
revelarem. Por isso que em um momento de ruptura na economia, como o que
presenciamos, é muito importante prestarmos atenção nos números que revelam as
expectativas, e não os resultados apresentados pelos indicadores de atividade,
que retratam apenas um movimento passado. Assim, a partir do momento que as
pesquisas começarem a captar esses resultados, o que se espera é uma maior
preocupação das pessoas com os impactos da crise.
No último informe econômico, descrevemos
a tortura que foi necessário fazer para convencer os dados de emprego de
outubro a nos revelar que alguma coisa estava errada. A divulgação dos dados de
produção industrial na semana passada, confirma a tese de que o pior mês de
outubro dos últimos 10 anos para a indústria brasileira não era um fato
isolado. Infelizmente esses dados cooperaram de imediato, e já contaram todos
os problemas: a produção da indústria brasileira em outubro cresceu apenas 0,9%
em relação a outubro de 2007, é o pior resultado dos últimos 29 meses, interrompendo,
assim, uma série de 20 meses de expansão da ordem de 6,5%.
Olhando desse prisma, ainda há quem
possa dizer que os impactos da crise serão limitados. Tudo depende da famosa
interpretação entre “metade do copo cheio ou metade vazio”. A verdade é que está
difícil de definir sobre uma desaceleração ou um pé no freio. Para tanto,
devemos recorrer a mais informações desagregadas. Nesse caso, há subsetores
onde a queda no mês de outubro pode ser entendida como pé no freio, como é o
caso da extração de carvão mineral, que teve uma retração recorde de -42% sobre
o mês de outubro de 2007. Na seqüência, a indústria ligada ao agronegócio, com
produção de adubos e fertilizantes retraindo (-31%), defensivos agrícolas
(-30%), produção de sucos e concentrados de frutas (-24%) e fabricação e refino
de açúcar (-16%). Outros do grupo “pé no freio”, estão relacionados á indústria
de bens intermediários, como é o caso dos petroquímicos básicos e
intermediários, (-18%), Laminados de material plástico (-16%) e produtos de madeira
(-13%). Por fim, um dos poucos da lista de semi-duráveis, a produção de calçados, (-12%).
Podemos formar o grupo da
“desaceleração” considerando aqueles que reduziram a produção em menor
magnitude. É o caso, por exemplo, da indústria de abate de carne e aves,
beneficiamento de arroz essas duas, por sinal, muito importantes para o Rio
Grande do Sul e refino de óleos vegetais. Além desses, temos o grupo
metal-mecânico, com uma importante cadeia produtiva, e que apresentou
desaceleração em praticamente todas as atividades. Algumas chamam a atenção,
como é o caso da produção de tratores, eletrodomésticos da linha branca
(geladeira, fogão e máquinas de lavar), material elétrico e a parte da
indústria automobilística, passando pelo subsetor de peças e acessórios.
É claro que existe uma ilha, e está
relacionada à construção civil. Atividades como produção de vidro e produtos de
vidro, cimento e clíquer, artefatos de concreto e fibrocimento, continuaram a
apresentar números elevados. Porém, é uma questão de tempo até que os efeitos
de restrição de crédito possam percorrer o caminho entre posto de venda de
imóveis e decisão de investimento das empresas até as encomendas aos
fornecedores.
Na
semana passada, também foi divulgada a sondagem industrial da FGV para o mês de
novembro. Um dos pontos mais importantes apresentados foi o maior número de
empresários que assinalara estar com um nível de estoques acima do desejado. A
necessidade de adequar a produção com os estoques e as vendas, já deve
repercutir nos indicadores de horas trabalhadas de novembro. Além disso, é bem
provável que a produção industrial no mês de novembro tenha se retraído mais
que o verificado em outubro. Porém, esse resultado só conheceremos no início do
ano que vem. Ainda há pessoas otimistas, em especial no governo, e que
acreditam que essa crise vai passar pelo Brasil como uma “marolinha”. Por via
das dúvidas, compre uma bóia.
Publicado no Informe Econômico de 08/12/2008
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