domingo, 10 de agosto de 2014

Fatos que determinam os recentes movimentos da taxa de câmbio

A divulgação de indicadores econômicos
importantes no inicio de cada ano, frequentemente,
mexe com as expectativas dos investidores, o que
resulta em maior volatilidade nos mercados
financeiros. Nesse ano, não ocorreu de forma
diferente, ainda mais diante da grande incerteza em
relação à recuperação da economia mundial. Porém,
as divulgações do resultado do PIB dos Estados
Unidos e Reino Unido, no quarto trimestre, indicaram
que a crise econômica ainda não é coisa do passado
para esses países, despertando nos investidores uma
posição mais conservadora em relação às aplicações
em ativos de risco. Além disso, outros fatores
trabalharam juntos para que houvesse essa reversão no
comportamento dos investidores. A conseqüência
desse movimento foi a saída dos investidores das
bolsas dos países emergentes, o saldo da Bovespa em
janeiro fechou negativo em US$ 2,1 bilhões, e a
desvalorização do real.

Observando os principais números divulgados
no início desse ano, o anúncio do PIB do Reino
Unido, com crescimento de 0,1% no último trimestre
de 2009, representou a saída da recessão, porém veio
abaixo do esperado pelo mercado. O mesmo ocorreu
com os EUA, que apresentou expansão de 1,4% no
último trimestre em relação ao trimestre anterior. Esse
resultado, entretanto, foi impulsionado pelo menor
ritmo de redução dos estoques, o que leva a duvidar
da sustentabilidade desse crescimento por um longo
período. Os números do emprego e as declarações do
Presidente Estadunidense em relação ao aumento na
regulação e tributação dos bancos de Wall Street
ajudaram a reforçar o ambiente de tensão. Em resumo,
a recuperação está em curso, mas ainda é frágil.
Os números são menos animadores pelo lado
da política fiscal. Os elevados déficits fiscais nos
EUA, Japão e Zona do Euro é a herança deixada pela
tentativa de recuperação das economias durante a
crise. No caso da segunda maior economia do mundo,
Japão, houve o rebaixamento da perspectiva de rating
da dívida soberana de estável para negativo, visto que
a relação dívida PIB passou dos 200%. Na Europa, o
grupo dos chamados PIIG’s (Portugal, Irlanda, Itália e
Grécia) passou a chamar a atenção dos investidores
pela fraca disciplina fiscal, alto déficit em transações
correntes e alto desemprego. Há inclusive o risco de
que a consolidação do Euro seja afetada. Desse modo,
os mercados emergentes e europeus passaram a
refletir a incerteza quanto à capacidade destes países
de honrar seus compromissos. A queda se acentuou
depois que a Comissão Européia colocou as finanças
da Grécia sob close surveillance, ou seja, observação
rígida. O impacto desses números no mercado
financeiro mundial é na direção de que as empresas
vão auferir menores lucros no futuro. Dado que, o
ajuste fiscal, frequentemente, é realizado através da
geração de recessão e/ou inflação.
Outro fato importante, que afeta diretamente a
economia brasileira, refere-se ao aperto monetário
anunciado pelo governo chinês, via aumento dos
depósitos compulsórios dos bancos e redução da
disponibilidade de crédito dos bancos públicos. Esse
movimento criou expectativa de desaceleração da
atividade econômica chinesa nos próximos meses.
Destaca-se que a China fechou o ano de 2009 como o
principal destino das exportações brasileiras devido à
forte demanda por commodities agrícolas e metálicas.
Nessa conjuntura, grande parte dos investimentos
externos na bolsa de valores brasileira é aplicada em
empresas ligadas a esse ramo. Assim, quando há
expectativa de retração na atividade do principal país
demandante de commodities brasileiras, um grande
volume de recursos tende a sair da bolsa pressionando
a taxa de câmbio.
Além disso, a tensão no mercado cambial já
ocorre desde o início do ano com a possibilidade de
entrada em funcionamento do Fundo Soberano do
Brasil (FSB). Quando entrar em atividade, o FSB será
o maior dealer do mercado brasileiro, tendo a
possibilidade de influenciar a cotação da taxa de
câmbio. Dado que a data de entrada em operação é
incerta, os investidores tendem adotar uma posição
comprada para esperar o que vai de fato ocorrer com a
cotação, visto que a tendência é do fundo ser usado
com o fim de conter a valorização do real.
Todos esses fatos fizeram com que, nas
últimas semanas, se observasse uma correção na taxa
de câmbio. O saldo de câmbio das transações
comerciais, em janeiro, fechou negativo em US$ 140
milhões. Por outro lado, o saldo financeiro apresentou
superávit de US$ 1,2 bilhões. O superávit total de
cerca de US$ 1 bilhão, o menor desde março de 2009,
indica menor liquidez de moeda norte americana no
mercado, isso faz seu preço subir em relação ao real.
É difícil mensurar se esse comportamento
representa uma tendência para a taxa de câmbio, o
que significaria o processo de desvalorização mais
amplo, ou uma correção para um patamar mais
elevado, passando o câmbio a flutuar próximo a R$
1,85. No mercado de câmbio futuro, espera-se que a
cotação continue entre R$ 1,80 e R$ 1,85 nas
próximas semanas, mas a expectativa é que volte
para um patamar mais valorizado logo em seguida.
A expectativa do mercado, contido no relatório
Focus do Banco Central, aponta para um câmbio
médio em 2010 no patamar de R$ 1,79, atingindo a
cotação de R$ 1,80 no final do ano. É possível que o
ajuste na direção de uma cotação mais desvalorizada
ocorra ao longo do ano. Porém, até lá, haverá
bastante volatilidade no mercado.

Publicado no Informe Econômico 08/janeiro/2010

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