domingo, 10 de agosto de 2014

EUROPA: UMA INTEGRAÇÃO LENTA QUE PODE PREJUDICAR O BRASIL

A constituição de um mercado comum, onde há mobilidade de fatores como capital e trabalho, tem gerado muitos ganhos econômicos para a União Européia. Em 1995, as exportações intra-bloco eram de 1 trilhão de euros, no ano passado chegaram a 1,6 trilhões. A taxa de investimento na região permanece na casa dos 19,5% do PIB, impulsionada pelo baixo nível dos juros, que em 1998 era de 3,95% a.a. e atualmente está em 2% e da própria intensificação do comércio intra-bloco.
         Além de alavancar o consumo, os juros menores permitiram que os governos fizessem um ajuste na dívida pública. Apesar de ter sido verificado um superávit primário no setor público em toda a região apenas no ano 2000 (0,1% do PIB), a dívida total (governo central, estados e governos locais) caiu de 73% do PIB em 1999 para cerca de 71% no ano passado. Nesse cenário, as maiores reduções de dívida ocorreram na Itália, de 115% do PIB em 1999 para 105% em 2004, Holanda, de 63% para 55%, Espanha, de 63% para 49%, e Irlanda, de 48% para 29%, no mesmo período. Por outro lado, outras economias importantes como Alemanha, França e Portugal experimentaram leve aumento da relação dívida/PIB.

         Outro aspecto positivo é a baixa taxa de inflação, que permanece na casa dos 2% ao ano, e contribui para manter aquecido o consumo das famílias. Porém, esta inflação baixa não foi o suficiente para evitar o aumento do custo de vida, principalmente nas capitais dos países que receberam as maiores somas de investimentos diretos nos últimos cinco anos. Viver hoje em Dublin, na Irlanda, custa cerca de 11% a mais do que em 1999. Para o mesmo período, o custo de vida em Madrid (Espanha) aumentou 9,7%, já em Roma (Itália) ficou 8,9% mais caro, assim como Lisboa (Portugal), 8,2%. Por outro lado, o custo de vida em Berlim (Alemanha) caiu 6,5%, enquanto em Amsterdã (Holanda) ficou cerca de 2,6% mais barato.
         Atualmente, a Irlanda é o país que apresenta o maior custo de vida dentre os 12 que compõem a zona do Euro, ao passo que o menor é Portugal. Dublin é a capital mais cara da zona do Euro, superando, inclusive, o custo de vida verificado em Paris. Mas, considerando os demais países da Europa, Londres e Copenhague, na Dinamarca, ainda apresentam custo de vida superior. É importante destacar que a evolução do custo de vida na Irlanda está diretamente relacionado ao desempenho da economia, que nos últimos dez anos cresceu a uma taxa média anual de 7,8%, bem acima da média da região, que foi de 2,2%, e dobrou seu PIB total em 10 anos.
         Assim, da mesma forma que a Irlanda foi beneficiada com a intensificação das relações intra-bloco, os países menores que são candidatos a integrarem a região a partir de 2008 como a Estônia, Lituânia, Eslovênia, Letônia, Chipre e Malta, também deverão se beneficiar de juros menores, aumento do investimento, do consumo de bens e melhora na qualidade dos indicadores sociais.
         Vale destacar que um dos aspectos mais importantes dos impactos econômicos da entrada destes países na zona do Euro diz respeito ao mercado de trabalho. Atualmente, o salário mínimo mensal na Letônia é de 283 euros, na Lituânia de 327 e na Estônia de 330, muito abaixo da média de outros países como Portugal (582 euros), Espanha (696), França (1.194) e Holanda (1.202). Além disso, o custo/hora também é menor nestes países. Enquanto na Letônia um trabalhador custa cerca de 2,37 euros/hora, na Lituânia chega a 3,1 e na Estônia a 4. Na Alemanha o custo sobe para 28 euros/hora, na França 27,7 e na Holanda 26,7.
         A população total dos dez estados que são candidatos a integrarem a zona do Euro é de 74 milhões de pessoas, sendo 34 milhões a população economicamente ativa. Atualmente o número de desempregados é de 4,7 milhões e, caso a aceitação desses países resulte em uma livre mobilidade de mão-de-obra, todas as demais regiões deverão sentir os efeitos sobre o mercado de trabalho, o que pode resultar em maiores gastos sociais em uma região que já sente os efeitos do envelhecimento da população sobre a seguridade social.
         Os países membros da zona do Euro gastam cerca de 26% do PIB, com benefícios e proteções sociais, com destaque para Alemanha (29,4% do PIB) e França (29%). Do total de gastos sociais, cerca de 2% do PIB é gasto com seguro-desemprego, para um contingente de cerca de 12,5 milhões de desempregados. Bélgica (3,2% do PIB), Espanha (2,7%) e Alemanha (2,5%) são os países que mais destinam recursos para esta rubrica.
            As diferenças de custo de mão-de-obra entre os países membros e os candidatos deverão acirrar a disputa por investimentos industriais e, diante do exposto, é natural supor que estes deverão ocorrer em maior intensidade nesses países onde o custo da mão-de-obra é menor e que podem resultar em ganhos de produtividade para toda a zona do Euro. Como o mercado de trabalho nesta região irá reagir a este impacto é o receio de governo e trabalhadores. Porém, a Europa não pode abrir mão da oportunidade de reduzir seus custos de produção em um momento no qual sua moeda forte e a agressiva competição da China colocam o velho continente em desvantagem competitiva. Com certeza os países candidatos serão fortes concorrentes de alguns produtos brasileiros no mercado europeu nos próximos anos.

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