Na semana passada foi divulgada uma
estatística que todos sabiam que confirmaria o momento difícil que passa a
atividade econômica nos EUA, uma queda de 0,3% no PIB no 3º trimestre,
relativamente ao 2º trimestre. A expectativa de analistas de mercado, em
pesquisa realizada dias antes, era de uma queda entre 0,5% e 1,9%. Por isso, o
resultado soou como positivo. É claro que esses números ainda serão revistos no
dia 25 de novembro mas, as revisões mensais sempre promovem pequenas
modificações nesse resultado. Nesse caso, será tarde demais para evitar seus impactos
sobre as eleições presidenciais que se encerram nessa semana. Destaca-se que o
último presidente dos EUA que conseguiu se eleger em meio a uma divulgação de
queda no PIB foi Dwight Eisenhower em 1956.
Apesar
de analistas afirmarem que a queda foi menor do que a esperada, há vários
resultados dentro do número fechado do PIB que preocupam. Um deles é a retração
dos gastos dos consumidores a uma taxa anualizada de -3,1%. Esse é o primeiro
resultado negativo desde 1991 e o maior desde 1980, em um período onde o País
convivia com a restrição de crédito promovida pelo Presidente Jimmy Carter. O
resultado do 3º trimestre reflete, em parte, o fim dos efeitos positivos que o
“Economic Stimulus Act” de 2008, mais conhecido como “Pacote da crise”,
produziu sobre a renda dos consumidores.
Esses
gastos são divididos em três componentes: bens duráveis, não-duráveis e
serviços. No primeiro caso, que envolve a compra de carros, motos,
eletroeletrônicos, móveis e etc, a queda foi de 14,1%, a maior em 24 anos. No
caso dos bens não-duráveis, como por exemplo, gasolina, alimentação e
vestuário, a retração foi um pouco menor, -6,4%, mas é a mais acentuada desde
1950. Por fim, os gastos com serviços, que envolve desde hotéis, restaurantes
até corte de cabelo e comunicação, permaneceram praticamente estáveis, 0,6%.
No
agregado, os gastos dos consumidores contribuíram com -2,25 pontos percentuais
(p.p) de queda no PIB. Sendo assim, a atividade econômica no País só não foi
mais acentuada pois outras componentes tiveram forte crescimento: o setor
externo com 1,13 p.p. e o aumento do gasto do governo, com 1,15 p.p. do PIB. No
primeiro caso, destaque para o aumento da quantidade exportada, pelos EUA, de
bens e produtos, concomitante com um menor crescimento das importações. Ressalta-se
que esse cenário ocorreu nos meses que o dólar ainda continuava fraco frente ao
Euro e a outras moedas de países emergentes, que compraram diversos produtos
americanos. Na mesma linha, o menor ímpeto importador já é um sinal da retração
na disposição dos consumidores em gastar.
Na
mesma linha, os gastos governamentais expandiram-se em 5,8%, com destaque para
o crescimento da parte federal, em 13,8%, em especial no item “Defesa Nacional”
com incremento de 18,1%. No terceiro trimestre foram gastos US$ 760 bilhões,
cerca de US$ 36 bilhões a mais que o 2º trimestre, o suficiente para reverter a
queda dos gastos dos consumidores em itens de transporte, como veículos, motos
e peças. Na falta de disposição das famílias em consumir, o governo federal injetou
dólares na economia. Talvez uma parada técnica na política de mercado, fazendo
valer, apenas momentaneamente, a proposta keynesiana (famoso economista que
propunha expansão fiscal para incentivar a economia em tempos de crise). Há
muita discussão na literatura sobre a eficácia, no longo prazo, da manutenção
dessa política, dado os efeitos perversos sobre a inflação e a dívida pública.
Porém, por hora pode ser útil para evitar o pior na maior economia do mundo.
De
fato, a confiança dos investidores não é das melhores. Os gastos em
investimentos tiveram o quarto trimestre seguido de retração. Nesse caso, são
os investimentos residenciais, exatamente aqueles que relacionam a disposição
dos consumidores em adquirirem imóveis novos e a atividade da construção civil,
que mais chamam a atenção, é o 11º trimestre consecutivo de queda. Nesse
segmento foram investidos US$ 477 bilhões no 3º trimestre, um valor que é US$
140 bilhões menor que o mesmo período do ano passado.
Os
números comprovam, a crise atingiu em cheio um vetor importante da economia dos
EUA, o consumo das famílias, que responde por 70% do PIB. Não é a toa que
cresce o debate em torno de um novo pacote de estímulo para a economia, tendo
como foco os gastos dos consumidores. Se tal proposta passar no Congresso, o
impacto sobre o já deficitário orçamento federal, deve aumentar ainda mais.
Mas, essa intervenção mostra-se cada vez mais importante. As pessoas estão
pouco confiantes com o emprego no futuro. Com isso, retraem gastos, agravando
mais ainda o cenário. E mesmo assim, a poupança pessoal não tem reagido. No
terceiro trimestre essa se situou em US$ 139 bilhões, contra US$ 296 bilhões do
segundo trimestre de 2008. Ou seja, a taxa de poupança pessoal passou de 2,7%
da renda disponível para 1,3%.
O consumo cai, e há menos recursos
em caixa para gastar. Fica a impressão que nem todos os impactos da crise foram
absorvidos pelos números divulgados. Ou seja, ainda há resíduos de crise a
serem absorvidos pelo último trimestre do ano, e podemos esperar reações
negativas dos investidores.
Publicado no Informe Econômico de 03/11/2008
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