A Confederação Nacional da Indústria
divulgou na semana passada os resultados de uma consulta com 385 empresas
industriais com o objetivo de avaliar a percepção dos empresários acerca da
crise financeira internacional sob alguns aspectos. A consulta foi dividida em
três blocos de assuntos relacionados aos impactos da crise: nos negócios, nos
planos de investimentos e nos financiamentos disponíveis. Além disso, os
participantes opinaram acerca das medidas tomadas pelo governo e sobre as
perspectivas de duração da crise.
Em linhas gerais, os resultados
demonstraram que, para 9 em cada 10 empresários consultados, a crise afetou os
negócios de sua empresa. Os principais efeitos adversos foram a retração nas
vendas, a suspensão dos planos de investimentos e a escassez de crédito para
capital de giro. Os resultados da atuação do governo brasileiro foram considerados
moderados e a percepção da maioria dos empresários é que a crise será superada
em 2010.
Com relação aos impactos nos negócios
das empresas, o principal efeito adverso mencionado foi a redução da demanda,
fato que levou a maioria dos empresários brasileiros (57%) a reduzir a sua
projeção de vendas para 2009. Os demais efeitos em ordem decrescente de
importância foram: o aumento do preço de insumos e equipamentos importados
(41%), o encarecimento (38%) e dificuldade de acesso ao crédito (31%), as
perdas em operações financeiras (9%) e a redução dos prazos de financiamentos
(6%). Vale ressaltar que, se somados, os problemas associados ao financiamento
atingem 55% das respostas. Importante referir ainda nesse bloco que
praticamente todas as empresas (98%) que refizeram suas projeções de vendas
para 2009, projetaram para menor.
Segundo a pesquisa, parte dos
investimentos das indústrias prevista para o próximo ano também deverá ser
adiada e/ou reduzida e mesmo cancelada em função das turbulências externas.
Nesse sentido, 71% dos entrevistados com intenção de investir em 2009 afirmaram
que a crise afetou seus planos de investimentos. Entre essas empresas, 7%
cancelaram os investimento e 22% mantiveram, mas com um cronograma mais longo.
A metade (50%) adiou os investimentos previstos por tempo indeterminado, 13%
protelaram, mas ainda pretendem realizá-lo em 2009 e 8% adiaram para depois de
2009. Apenas 1% das mesmas mantiveram o cronograma previsto.
A maioria das indústrias pesquisadas
está preocupada com a situação do crédito, especialmente, no que se refere à
obtenção de capital de giro, escasso e mais caro. De fato, os resultados da
consulta, no que se refere a financiamento, apontam que a maioria dos
participantes (61%) reporta que o financiamento disponível para sua empresa foi
de alguma forma atingido pela turbulência mundial. Desses, praticamente a
metade (49%) afirmou que o financiamento de curto prazo foi o mais afetado
(capital de giro/desconto de duplicatas,
etc.) enquanto a modalidade de financiamento de longo prazo foi o segundo item
mais apontado: 21%. O financiamento para exportações e fornecedores obteve,
respectivamente, 14% e 11% das respostas. O principal efeito da crise sobre o
financiamento foi a elevação no custo, item apontado por 68% das empresas que
perceberam algum impacto no crédito. Em segundo lugar, com 49% das respostas,
foi a escassez seguida da redução dos prazos (21%).
Já as medidas do governo para melhorar
as condições de crédito tiveram resultados modestos, conforme avaliação da
maioria dos empresários (52%). Uma parte expressiva desses (34%), por outro
lado, considerou que as mesmas não estão surtindo efeito. De um rol de nove
propostas de medidas sugeridas aos governos federal e estaduais, a maioria dos
empresários (59%) preferiu a ampliação do prazo de recolhimento de tributos. Na
seqüência, as propostas mais desejadas pelos empresários foram a facilitação do
acesso a linhas de crédito oficiais (39%), o aumento dos recursos disponíveis
às linhas oficiais de financiamento (35%), maior facilidade na compensação de
créditos tributários federais no pagamento de contribuições ao INSS (32%) e a
redução de alíquotas de IOF nas operações de crédito (30%).
Por fim, os empresários foram convidados
a avaliar a duração da crise mundial. A percepção da metade (49%) é que a crise
deverá ser superada no ano que vêm. Porém, parcela expressiva dos participantes
(34%) acredita que a crise será debelada apenas em 2010. Somente 1% dos
entrevistados aposta no final da crise em 2008 e 9% após 2010.
Em
resumo, os resultados da Consulta Empresarial sugerem que a indústria
brasileira deverá, no curto e médio prazos, demonstrar sinais de desaceleração
no ritmo de crescimento. Essa perda de dinamismo deverá ter impactos negativos
no investimento e na geração de emprego e renda. Esse cenário deve perdurar
pelo menos até meados do próximo ano.
Publicado no Informe Econômico de 24/11/2008
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