quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Empresas brasileiras já sentem efeitos da crise e revêem expectativas para 2009

A Confederação Nacional da Indústria divulgou na semana passada os resultados de uma consulta com 385 empresas industriais com o objetivo de avaliar a percepção dos empresários acerca da crise financeira internacional sob alguns aspectos. A consulta foi dividida em três blocos de assuntos relacionados aos impactos da crise: nos negócios, nos planos de investimentos e nos financiamentos disponíveis. Além disso, os participantes opinaram acerca das medidas tomadas pelo governo e sobre as perspectivas de duração da crise.
Em linhas gerais, os resultados demonstraram que, para 9 em cada 10 empresários consultados, a crise afetou os negócios de sua empresa. Os principais efeitos adversos foram a retração nas vendas, a suspensão dos planos de investimentos e a escassez de crédito para capital de giro. Os resultados da atuação do governo brasileiro foram considerados moderados e a percepção da maioria dos empresários é que a crise será superada em 2010.

Com relação aos impactos nos negócios das empresas, o principal efeito adverso mencionado foi a redução da demanda, fato que levou a maioria dos empresários brasileiros (57%) a reduzir a sua projeção de vendas para 2009. Os demais efeitos em ordem decrescente de importância foram: o aumento do preço de insumos e equipamentos importados (41%), o encarecimento (38%) e dificuldade de acesso ao crédito (31%), as perdas em operações financeiras (9%) e a redução dos prazos de financiamentos (6%). Vale ressaltar que, se somados, os problemas associados ao financiamento atingem 55% das respostas. Importante referir ainda nesse bloco que praticamente todas as empresas (98%) que refizeram suas projeções de vendas para 2009, projetaram para menor.
Segundo a pesquisa, parte dos investimentos das indústrias prevista para o próximo ano também deverá ser adiada e/ou reduzida e mesmo cancelada em função das turbulências externas. Nesse sentido, 71% dos entrevistados com intenção de investir em 2009 afirmaram que a crise afetou seus planos de investimentos. Entre essas empresas, 7% cancelaram os investimento e 22% mantiveram, mas com um cronograma mais longo. A metade (50%) adiou os investimentos previstos por tempo indeterminado, 13% protelaram, mas ainda pretendem realizá-lo em 2009 e 8% adiaram para depois de 2009. Apenas 1% das mesmas mantiveram o cronograma previsto.
A maioria das indústrias pesquisadas está preocupada com a situação do crédito, especialmente, no que se refere à obtenção de capital de giro, escasso e mais caro. De fato, os resultados da consulta, no que se refere a financiamento, apontam que a maioria dos participantes (61%) reporta que o financiamento disponível para sua empresa foi de alguma forma atingido pela turbulência mundial. Desses, praticamente a metade (49%) afirmou que o financiamento de curto prazo foi o mais afetado (capital  de giro/desconto de duplicatas, etc.) enquanto a modalidade de financiamento de longo prazo foi o segundo item mais apontado: 21%. O financiamento para exportações e fornecedores obteve, respectivamente, 14% e 11% das respostas. O principal efeito da crise sobre o financiamento foi a elevação no custo, item apontado por 68% das empresas que perceberam algum impacto no crédito. Em segundo lugar, com 49% das respostas, foi a escassez seguida da redução dos prazos (21%).    
Já as medidas do governo para melhorar as condições de crédito tiveram resultados modestos, conforme avaliação da maioria dos empresários (52%). Uma parte expressiva desses (34%), por outro lado, considerou que as mesmas não estão surtindo efeito. De um rol de nove propostas de medidas sugeridas aos governos federal e estaduais, a maioria dos empresários (59%) preferiu a ampliação do prazo de recolhimento de tributos. Na seqüência, as propostas mais desejadas pelos empresários foram a facilitação do acesso a linhas de crédito oficiais (39%), o aumento dos recursos disponíveis às linhas oficiais de financiamento (35%), maior facilidade na compensação de créditos tributários federais no pagamento de contribuições ao INSS (32%) e a redução de alíquotas de IOF nas operações de crédito (30%).
Por fim, os empresários foram convidados a avaliar a duração da crise mundial. A percepção da metade (49%) é que a crise deverá ser superada no ano que vêm. Porém, parcela expressiva dos participantes (34%) acredita que a crise será debelada apenas em 2010. Somente 1% dos entrevistados aposta no final da crise em 2008 e 9% após 2010. 
Em resumo, os resultados da Consulta Empresarial sugerem que a indústria brasileira deverá, no curto e médio prazos, demonstrar sinais de desaceleração no ritmo de crescimento. Essa perda de dinamismo deverá ter impactos negativos no investimento e na geração de emprego e renda. Esse cenário deve perdurar pelo menos até meados do próximo ano.

Publicado no Informe Econômico de 24/11/2008

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