Nos últimos anos um dos setores econômicos que mais chamou
atenção de analistas no Brasil, com forte apelo na sociedade, foi a Construção
Civil. Fonte de desestabilização no cenário internacional a partir de 2007 e
importante vetor do crescimento econômico nacional, o mesmo mostrou-se
exuberante na criação de empregos, realização do sonho da casa própria, melhorias
na infraestrutura urbana e a alegria dos agentes financeiros, isso sem falar
nos impactos na sua longa cadeia de fornecedores. Essa expansão foi tamanha que,
por vezes, se discutia a formação ou não de uma bolha no mercado de imóveis com
o aumento de preços em várias capitais.
Porém, se, de um lado, o despertar do
setor promoveu essa admiração, por outro, o arrefecimento recente gerou
incertezas em diversos agentes envolvidos, principalmente investidores. O
leitor deve estar se perguntando: como assim “arrefecimento”, se vários prédios
estão em construção ao lado da minha casa e há obras de viadutos por onde
passo? Esse é o ponto onde quero chegar. Há uma diferença entre o que se vê e o
que mostram as estatísticas. Ao avaliar o setor no Brasil é importante separar
o mesmo em três componentes; i) a
construção de edifícios, com maior peso no PIB e empregos; ii) obras de infraestrutura, de importância similar e; iii) os serviços especializados para
construção, como obras de demolição, terraplanagem, instalações elétricas e
acabamento, com menor peso. Sendo assim, a construção civil pode crescer por
qualquer um desses componentes ou, quando o ciclo é forte, por todos eles. A
vantagem nessa divisão é que o terceiro componente traz informações que podem
ser consideradas como antecedentes, por exemplo, obras de demolição e
terraplanagem são bons sinalizadores para meses à frente em construção de
edifícios ou obras de infraestrutura. Soma-se a isso o fato de que a atividade
possui a particularidade de ter um ciclo maior de produção, um edifício do
início ao fim pode durar entre três e cinco anos e uma estrada até sete anos, e
essa abertura nos dá subsídio técnico para explicar a diferença entre o que se
vê e o que se mede hoje. Muitas das obras em andamento podem causar a impressão
de robustez, mas não estão gerando empregos, ao contrário, como estão da metade
para o fim, estão reduzindo o número de trabalhadores e isso reflete
diretamente na composição do PIB setorial e no efeito multiplicador da renda na
economia. Concomitantemente, o lançamento de novos empreendimentos nos últimos
meses, sejam eles voltados para edifícios ou infraestrutura, não foi suficiente
para compensar esse processo cíclico. Como resultado, a atividade no setor está
em franca redução, como mostram os dados do mercado de trabalho. Em doze meses
terminados em agosto de 2010 eram gerados 360 mil empregos no Brasil, número
esse que está em -8 mil em julho último. Sim, em doze meses está desempregando.
Vale destacar que esse processo de ajuste cíclico é natural na economia, o ponto
central é entender sua magnitude e promover políticas que possam representar a
suavização da transição entre um período de desaceleração e outro de novo
crescimento. Os riscos se concentram no atual ciclo de ajuste se estender mais
do que o necessário para promover o equilíbrio no mercado. Esse é o momento
atual e um novo ciclo se desenha para o setor no Brasil.
Publicado no Jornal do Corecon setembro/2013
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