domingo, 10 de agosto de 2014

Construção Civil: Um novo ciclo?

Nos últimos anos um dos setores econômicos que mais chamou atenção de analistas no Brasil, com forte apelo na sociedade, foi a Construção Civil. Fonte de desestabilização no cenário internacional a partir de 2007 e importante vetor do crescimento econômico nacional, o mesmo mostrou-se exuberante na criação de empregos, realização do sonho da casa própria, melhorias na infraestrutura urbana e a alegria dos agentes financeiros, isso sem falar nos impactos na sua longa cadeia de fornecedores. Essa expansão foi tamanha que, por vezes, se discutia a formação ou não de uma bolha no mercado de imóveis com o aumento de preços em várias capitais. 

Porém, se, de um lado, o despertar do setor promoveu essa admiração, por outro, o arrefecimento recente gerou incertezas em diversos agentes envolvidos, principalmente investidores. O leitor deve estar se perguntando: como assim “arrefecimento”, se vários prédios estão em construção ao lado da minha casa e há obras de viadutos por onde passo? Esse é o ponto onde quero chegar. Há uma diferença entre o que se vê e o que mostram as estatísticas. Ao avaliar o setor no Brasil é importante separar o mesmo em três componentes; i) a construção de edifícios, com maior peso no PIB e empregos; ii) obras de infraestrutura, de importância similar e; iii) os serviços especializados para construção, como obras de demolição, terraplanagem, instalações elétricas e acabamento, com menor peso. Sendo assim, a construção civil pode crescer por qualquer um desses componentes ou, quando o ciclo é forte, por todos eles. A vantagem nessa divisão é que o terceiro componente traz informações que podem ser consideradas como antecedentes, por exemplo, obras de demolição e terraplanagem são bons sinalizadores para meses à frente em construção de edifícios ou obras de infraestrutura. Soma-se a isso o fato de que a atividade possui a particularidade de ter um ciclo maior de produção, um edifício do início ao fim pode durar entre três e cinco anos e uma estrada até sete anos, e essa abertura nos dá subsídio técnico para explicar a diferença entre o que se vê e o que se mede hoje. Muitas das obras em andamento podem causar a impressão de robustez, mas não estão gerando empregos, ao contrário, como estão da metade para o fim, estão reduzindo o número de trabalhadores e isso reflete diretamente na composição do PIB setorial e no efeito multiplicador da renda na economia. Concomitantemente, o lançamento de novos empreendimentos nos últimos meses, sejam eles voltados para edifícios ou infraestrutura, não foi suficiente para compensar esse processo cíclico. Como resultado, a atividade no setor está em franca redução, como mostram os dados do mercado de trabalho. Em doze meses terminados em agosto de 2010 eram gerados 360 mil empregos no Brasil, número esse que está em -8 mil em julho último. Sim, em doze meses está desempregando. Vale destacar que esse processo de ajuste cíclico é natural na economia, o ponto central é entender sua magnitude e promover políticas que possam representar a suavização da transição entre um período de desaceleração e outro de novo crescimento. Os riscos se concentram no atual ciclo de ajuste se estender mais do que o necessário para promover o equilíbrio no mercado. Esse é o momento atual e um novo ciclo se desenha para o setor no Brasil.

Publicado no Jornal do Corecon setembro/2013

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