Passados
quase cinco anos desde os primeiros sinais da crise internacional em 2007,
ainda é possível ver a grande heterogeneidade presente nos diversos indicadores
macroeconômicos em vários países.
De
um lado a Europa ainda se debate com a dificuldade em solucionar o problema no
setor financeiro, potencializado pelas dificuldades fiscais dos Governos. O tão
esperado benefício do tempo para solucionar a crise não veio. Aliás, as
projeções para 2013 são de mais um ano ruim, só que, desta vez, em um cenário
mais disseminado dentre os países da região.
Já
nos EUA a atividade apresenta uma recuperação lenta e gradual e que se arrasta
por vários meses, o que pode ser visto de maneira positiva. O único resultado
ruim tem sido o mercado de trabalho, que ainda continua debilitado, muito por
conta dos cerca de dois milhões de empregos do setor da construção civil que
ainda não foram recuperados com a crise. Essa morosidade vem decepcionando
analistas que esperavam uma recuperação mais consistente, em especial após as
ações monetárias denominadas de Quantitative Easing III. Na verdade, os
incentivos à economia pelo lado monetário devem continuar tanto com a compra de
títulos de hipoteca, que seguem no ritmo programado, quanto via sinalização de
que os juros básicos irão permanecer baixos por um longo tempo.
Mas,
nem tudo está tão claro. Por incrível que pareça, mesmo passadas as eleições,
os riscos de vermos a continuidade dessa recuperação em solo americano ainda
residem no campo político. Seja por coincidência ou não, o fato é que ao deixar
para a mesma data o vencimento de ações fiscais importantes que foram tomadas
no passado, conhecidas como “fiscal cliff”, os políticos acabaram armando uma
bomba relógio com potencial de desviar a trajetória de recuperação da economia.
Dentre os dois extremos, postergar todos os benefícios fiscais e cortes de
gastos para além de 2013 ou então, deixar que ambos possam atuar sobre a
economia já a partir do primeiro trimestre, é natural esperar que exista um
acordo que produza impactos menores. De qualquer forma, até que se tenha esse,
iremos presenciar muita oscilação nos mercados.
Uma
parte dessa incerteza sobre o “fiscal cliff “ nos EUA e a confirmada recessão
na Europa, deve continuar a afetar a economia brasileira nos próximos meses.
Porém, essa deve ficar muito mais no campo dos mercados financeiros, e menos no
lado real da economia, não sendo suficiente para impedir a recuperação da
atividade produtiva que já se encontra em curso. Deixando claro que a
contribuição da crise internacional para a desaceleração por aqui é muito menor
do que os impactos negativos do esgotamento do modelo macroeconômico adotado,
baseado no incentivo ao consumo.
Assim,
como era natural esperar que a economia brasileira tivesse uma desaceleração pós-crescimento
fora da média de 2010, também é natural esperar que se tenha uma recuperação
nos próximos meses diante da forte queda da atividade. Ambos são extremos de
uma oscilação da produção em torno da nossa capacidade de crescimento média ao
longo das últimas décadas, que fica entre 2,7% e 3,2% ao ano.
A
despeito dos números, o que preocupa nas projeções para 2013 não é a magnitude
da recuperação, mas, o contexto em que ela deve ocorrer. A combinação de
crescimento baixo em 2012 com taxa de desemprego pequena e inflação elevada,
assumindo a hipótese de que inflação de 5% deve ser considerada alta, não é
boa. Com a recuperação da atividade produtiva para 2013, é natural esperar a
retomada das contratações. E, como o mercado de trabalho está pressionado, o
aumento do emprego será concomitante a um nível de salário real maior, o que
também deve ser mais um combustível para os preços. A equação não fecha e
podemos ter surpresas macroeconômicas no próximo ano, seja com a política de
juros, no comportamento da taxa de câmbio ou até em relação aos incentivos
fiscais já concedidos.
O
crescimento econômico do Brasil em 2013 deve se dar a uma taxa acima de 2012,
porém, em linha com a média histórica. Ainda não conseguimos nos desvencilhar
da maldição do país do futuro.
Publicado no Contexto
Econômico, Ano XVIII, nº 73, fevereiro de 2013.
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