domingo, 10 de agosto de 2014

Chegou a conta da festa.

Na última quarta-feira o Banco Central
anunciou a elevação da taxa básica de juros em 50
pontos base (p.b.), passando esta para 11,75% a.a..
Esse aumento já era esperado pela maioria dos
analistas, que também já precificaram que a taxa de
inflação no final do ano ficará próxima ao limite
superior do intervalo de tolerância para a meta em
2011 (6,5% a.a.), sendo que, em algum momento do
segundo ou terceiro trimestre, ela romperá esse
limite, podendo aproximar-se de 7,5%. Mesmo a
elevação na taxa básica de juros e os cortes previstos
para os gastos do governo sobre o orçamento de
2011. Serão incapazes de evitar a escalada da
inflação. O aumento dos preços, que inicialmente
acreditava-se que seria temporário e concentrado no
segmento de alimentos, está se disseminando na
economia e já apresenta um caráter mais
permanente.

Para entender o cenário para os próximos
meses, devemos levar em conta os fatores que estão
atuando: (i) nível de consumo elevado das famílias e
do governo; (ii) produção da industria em
crescimento modesto; (iii) taxa de câmbio sob
pressão de mais valorização; (iii) incertezas quanto
ao processo de recuperação das economias
desenvolvidas (crise nos países do oriente médio e a
escalada no preço das commodities).
Ao analisar uma conjuntura, a autoridade
monetária certamente se deparou com um dilema:
combater a inflação num cenário de desaceleração
da produção. Ou seja, não existe uma tendência
comum entre o consumo e produção. Pelo lado do
consumo, a massa de salários efetivamente recebida
acumulou um crescimento de 8,6% nos últimos 12
meses (até dez/10), na esteira de uma taxa de
desemprego que atingiu 6,1% janeiro, o menor valor
para esse mês desde janeiro de 2003. É claro que a
tendência é de desaceleração, mas ainda temos
números fortes. Além disso, as concessões de
crédito, com crescimento de 15,4 % nos últimos 12
meses (até jan/11), sustentam o crescimento no
consumo.
Por outro lado, a produção industrial, que
mostrou crescimento acelerado até o primeiro
trimestre de 2010, tem desempenho modesto depois
disso, mantendo-se num nível abaixo do período
pré-crise. A valorização da taxa de câmbio e a
menor demanda externa explicam esse rebaixamento
de nível. A conseqüência foi um processo de
diminuição das exportações de produtos
manufaturados e aumento as importações, ambos
impactando negativamente a produção. Ainda é
preciso lembrar que, a quase totalidade do fim dos
incentivos tributários fez aumentar o preço desses no
mercado interno. Sendo que, em alguns casos foram
substituídos por similares importados.
Quanto à taxa de câmbio, toda vez que o
BACEN eleva os juros – dado que o cenário
internacional é de baixa aversão ao risco, elevada
liquidez e taxa de juros internacionais baixas – ele
contribui para o aumento do fluxo de capitais externos
para a economia brasileira impactando o câmbio no
sentido de uma maior valorização. Nos últimos meses,
o processo de valorização do Real foi um importante
aliado no controle dos preços internos. Porém, deverá
contribuir cada vez menos nos próximos meses, visto
que os esforços do BACEN vão na direção de evitar
uma maior valorização. Como claramente não é essa a
sua intenção, esperar-se que o BACEN utilize mais
assiduamente as ferramentas de controle do crédito
como aumento do compulsório, por exemplo.
Na economia internacional, o maior nível de
preços está gerando pressões inflacionárias em vários
países emergentes e colocando em risco a recuperação
da economia dos países desenvolvidos. O cenário
aponta para taxas de juros externa ainda muito baixas
no mundo, como forma de evitar apreciação das
moedas e a retomada do crescimento. Para o produtor
brasileiro, essa notícia é desagradável, pois prejudica
as exportações, tanto pela diminuição na demanda
externa, quanto pela manutenção da taxa de cambio
mais valorizada.
Se até o momento o nível de preços foi
impactado via alimentos, de agora em diante, a maior
a incerteza está concentrada nos conflitos do Oriente
Médio. A conseqüência sobre o preço do petróleo já
mostra impactos significativos (pressão inflacionária).
Novamente teremos dúvidas quanto à duração desse
movimento, ou seja, se o impacto será transitório ou
permanente. Acredita-se que, caso os preços
continuem se elevando por mais dois meses será
inevitável o repasse para os preços internos, jogando
mais lenha na fogueira da inflação.
Por fim, como o governo irá enfrentar essa
conjuntura? Observando as ações dos condutores da
política econômica, observa-se que governo ensaia
uma coordenação de políticas, mas sem nenhum
movimento muito brusco de parte das autoridades
monetária e fiscal. Ou seja, haverá um ajuste fiscal,
ainda que insuficiente para arrefecer a economia, e
haverá mais aperto na taxa de juros, ainda que,
igualmente, insuficiente trazer a inflação à meta. O
saldo dessas políticas será um ano em que o
crescimento do PIB ficará na média dos últimos anos
e taxa de inflação perto da banda superior da meta
estabelecida. Falando o bom economês, todos nós
pagaremos a conta, via imposto inflacionário. A conta
da festa de 2010 chegou apenas em 2011.

Publicado no Informe Econômico 09/março/2011

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