domingo, 10 de agosto de 2014

A Europa sacudida

mundo e, principalmente, dos membros da
União Européia, estão voltadas para a Grécia. O país
enfrenta uma severa crise econômica desde o ano
passado, em função da deterioração de suas finanças
públicas. Caso essa situação se agrave, os efeitos
dessa turbulência podem se alastrar para outros
integrantes do bloco, como Portugal, Irlanda e Itália
colocando em risco a credibilidade do Banco Central
Europeu e piorando as condições necessárias para
investimentos internacionais na área do Euro.
Como principal causa da tragédia grega,
pode-se apontar a irresponsabilidade fiscal do
governo na última década. Nesse período, a elevação
dos gastos públicos – que, entre outros efeitos,
resultaram na duplicação do salário dos servidores
públicos – foi financiada através da emissão de
dívida. Conseqüentemente, houve uma majoração
significativa em um importante indicador de
solvência dos países: a razão dívida/PIB. A partir
desse aumento, a Grécia começou a enfrentar
dificuldades para a obtenção de empréstimos junto
ao mercado, pois os juros exigidos pelos
financiadores da dívida eram cada vez mais altos
devido à possibilidade de default. O esgotamento
dessa fonte obrigou a Grécia a recorrer ao FMI e a
União Européia.

Em maio de 2010, um pacote de ajuda de
US$ 160 bilhões foi aprovado com o intuito de
reduzir o custo da tomada de empréstimo,
condicionado ao cumprimento de metas fiscais.
Todavia, o governo grego continuou acumulando
sucessivos déficits no resultado primário (receita
menos despesa, excluindo o pagamento dos juros da
dívida). A relação dívida/PIB chegou a 147,3% ao
final de 2010, sendo que o nível considerado
saudável pelas agências de classificação de risco,
bem como o estipulado pelo Tratado de Maastricht,
é 60%.
Diante disso, um novo pacote foi oferecido à
Grécia, no valor de US$ 80 bilhões. Recentemente,
as medidas de austeridade fiscal – que incluem
aumentos nos impostos, demissão de funcionários
públicos, aumento na idade para aposentadoria e
privatizações – foram aprovadas pelo parlamento
grego, deflagrando uma onda de protestos da
sociedade civil.
Os planos de resgate da economia grega
tentam evitar a moratória da dívida. Caso isso
ocorra, os bancos que possuem títulos da dívida
grega no seu portfólio podem quebrar, já que o
calote provocaria um reajuste negativo no valor
desses ativos – estima-se que os bancos gregos
detêm 25% do total desses títulos. Ademais, a crise
pode se espalhar para os outros países do mundo
através dos chamados CDS (Credit Default Swaps).
Nessa modalidade, o vendedor do título se protege da
possibilidade de default do comprador pagando um
prêmio a quem estiver disposto a arcar com o risco. O
evento “calote” serviria para “disparar o gatilho",
fazendo com que os segurados cobrassem as
indenizações. Como esse tipo de contrato é firmado
em operações ditas “de balcão”, sem divulgação
pública, várias instituições financeiras ao redor do
mundo poderiam arcar prejuízos.
O governo da Alemanha já manifestou-se
favorável à aceitação, por parte dos bancos, da
reestruturação da dívida em termos mais favoráveis à
Grécia. Entretanto, o Banco Central Europeu e o
governo francês fizeram um alerta: se a dívida for
reformulada nessas condições, os bancos podem
interpretar esse fenômeno como um calote, e a Grécia
continuaria a ter dificuldades para a obtenção de
dinheiro.
O logro grego também abre espaço para o
contágio de outros países altamente endividados na
zona do Euro, como Irlanda, Portugal e Itália. Essas
nações teriam mais dificuldades em obter recursos
junto ao mercado, e poderiam necessitar resgates
semelhantes. Ademais, a Grécia está em 4º lugar no
ranking do ajuste necessário no resultado primário
para alcançar uma relação dívida/PIB de 60% até
2026, entre 20 países bastante endividados, conforme
a revista The Economist.
A situação na Grécia já apresenta reflexos
negativos na Itália. Na última sexta-feira, a taxa de
juros dos títulos da dívida soberana italiana alcançou
um patamar recorde com o movimento de venda
maciça desses papéis, mesmo após o parlamento ter
aprovado um plano de austeridade fiscal de 47 bilhões
de euros para conter o endividamento público – da
ordem de 120% do PIB. Além disso, as ações dos
maiores bancos italianos amargaram perdas
significativas. O nervosismo no mercado financeiro
foi deflagrado a partir dos rumores de que o primeiroministro
Sílvio Berlusconi estaria se opondo ao
pacote. Esses eventos foram classificados pela mídia
do país como “sexta-feira negra”.
No atual momento, o olhar de todos os
analistas se volta para avaliar o cumprimento das
medidas de controle dos gastos na Grécia é
fundamental para reverter a expectativa negativa do
mercado e desobstruir o canal de financiamento da
dívida grega via títulos, bem como para evitar uma
crise na zona do Euro e em escala global.

Publicado no Informe Econômico 11/julho/2011

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