A trajetória do câmbio nos últimos anos foi de forte e
persistente apreciação. Desde janeiro de 2006 até junho de 2008, o câmbio
sofreu uma valorização de 71% (considerando o câmbio médio do mês). Esse
comportamento pode ser explicado por, basicamente, três justificativas. A
primeira deriva da relação saldo comercial/ corrente de comércio. A teoria
econômica afirma que quanto menor a corrente de comércio maior o impacto que o
saldo comercial terá sobre a formação do câmbio e sua volatilidade. No caso
brasileiro, durante um longo (e recente) período, acumulou-se grandes
superávits comerciais relativos à corrente de comércio.
Em
2005, essa razão saldo/corrente era de 23%, em 2006 foi para 20%, para, por
fim, em 2007 registrar 14%. A diminuição
da relação saldo comercial/corrente de comércio traz indícios de que o processo
de valorização do câmbio sofrerá uma menor contribuição desse componente que,
certamente, foi o principal responsável por ele nos últimos anos.
A segunda razão é o movimento de
capitais das três naturezas: investimento direto, em bolsa e em renda fixa. No
primeiro caso, a estabilidade econômica e política do país, o imenso mercado
interno, o potencial de crescimento, e, obviamente, associado a isso, a grande
liquidez internacional, fizeram do Brasil um ambiente propício à recepção de
investimentos produtivos. As aplicações em bolsa, por sua vez, se justificam
diante da grande rentabilidade oferecida nos últimos anos e, as aplicações em
renda fixa, em resultado ao grande diferencial de juros da economia nacional em
relação à praticada nos demais países. Por fim, há o próprio movimento
internacional de desvalorização da meda americana, que agora o governo indica
que tomará medidas para evitar a manutenção desse cenário.
Será
que a valorização do câmbio continuará? Se sim. Pelo menos no curto prazo esse
movimento não será tão intenso quanto recentemente, apesar da obtenção do grau
de investimento. Por outro lado, afasta-se também as possibilidades de uma
crise do Balanço de Pagamentos motivada pelo déficit em Transações Correntes,
como se verificou no passado, que poderia levar a um processo de desvalorização
cambial. Os dados de maio já provaram que o ritmo de deterioração das Transações
Correntes diminuiu. Espera-se, atualmente, que as Transações Correntes encerrem
o ano com um déficit de R$ 25 bilhões. O déficit de mai/08 foi de US$ 650
milhões como resultado da recuperação do superávit comercial em US$ 4,1
bilhões. As remessas de lucros ao exterior são decrescentes desde março, e de
acordo com a sazonalidade da série, devem continuar esse movimento em junho.
Vale ressaltar que dois setores perderam capacidade de envio: automotivo e
financeiro (principais remetentes ao exterior no início do ano, com a intenção
de “tapar” os buracos causados pela crise do subprime nas matrizes). Os dados
de viagens internacionais, porém, continuam registrando fortes aumentos.
Se o
processo de deterioração das Transações Correntes não fará com que o Banco
Central opere vendendo dólares no mercado para evitar uma desvalorização do
câmbio, como alguns chegaram a sugerir, tampouco é de se esperar que a
autoridade monetária continue compondo reservas, pelo menos com o ritmo que
vinha tendo. Em 2006, o Banco Central comprou aproximadamente US$ 30 bilhões.
Em 2007, a composição de reservas incitou a aquisição de cerca de US$ 90
bilhões. Para esse ano, espera-se que o Banco Central compre cerca de apenas
US$ 15 bilhões. Novamente, várias são as razões para tal comportamento. A
primeira é que diferentemente de 2006 e 2007, em 2008 o Brasil passa por uma
situação de aperto monetário. Quando o país compõe reservas e está num processo
de controle inflacionário, vê-se obrigado a esterilizar a moeda nacional que disponibilizou
no mercado. Com a inflação crescente, o Banco Central retomou o processo de
aumento da taxa de juros e com isso encareceu o processo de esterilização. Em
um regime de câmbio flexível, em que se espera a estabilidade câmbio e
distancia-se as possibilidades de uma crise no Balanço de Pagamentos, associado
a um aumento do custo de composição das reservas, não é razoável se esperar um
comportamento de compra dólares por parte do Banco Central.
Nesse
cenário, pergunta-se: qual será a taxa de câmbio a vigorar no país no final do
ano? Atualmente, as expectativas de mercado são de que a taxa de câmbio encerre
o ano em R$ 1,65/US$. Porém, observa-se que desde 2004, as expectativas têm
sido sempre mais desvalorizadas que o câmbio efetivo. Fazendo-se um exercício
de comparação das expectativas, num horizonte de 6 meses antes, com o
realizado, verifica-se que a média de erros é de em torno 9%, isto é,o
realizado foi cerca de 9% mais valorizado que a expectativa previa. Com isso,
poderíamos esperar que em novembro, o câmbio esteja em torno de R$ 1,54/US$, ao
invés de R$ 1,65/US$ como as expectativas de mercado de meados de junho previam
para esse mês.
O que
se pode concluir é que devemos esperar no curto e médio prazo ainda um processo
de valorização cambial, porém menos intenso e com menores intervenções do Banco
Central. Todavia, a crise do subprime
não revelou ainda todas as suas perdas mundo a fora, e conforme as surpresas
forem surgindo, poderá haver uma maior volatilidade no câmbio.
Publicado no Informe Econômico de 14/07/2008
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