domingo, 10 de agosto de 2014

A indústria nacional nos últimos doze anos.

O IBGE divulgou, recentemente, a PIA -
Pesquisa Industrial Anual de 2008. Esse é um
importante instrumento para compreender como é
distribuída a riqueza produzida pelo setor industrial no
Brasil, a incidência de custos de produção, a receita
obtida e os investimentos realizados. Em uma
avaliação preliminar sobre os resultados globais, o ano
de 2008 revela aspectos interessantes relacionados aos
custos quando comparados com os números
históricos.

Primeiramente, (i) os benefícios concedidos
aos empregados cresceram de forma sistemática nos
últimos 12 anos. Em 1996, esses representavam 8,2%
do total de gastos com pessoal. Ou seja, eram
transferidos aos trabalhadores o equivalente a R$ 12
bilhões/ano (valores de 2008 corrigidos pelo IPCA).
Considerando que na época tinha-se um universo de
5,1 milhões de trabalhadores na indústria então, o
gasto era de R$ 2.482/ano por trabalhador. Destaca-se
que, nesse grupo, estão os gastos com auxíliorefeição,
transporte, despesas médicas e hospitalares,
creches, auxílio-educação dentre outras. Na última
pesquisa, em 2008, o percentual de benefícios havia
atingido os 10% do total de gastos com pessoal, ou
seja, um valor de R$ 22 bilhões no ano. O setor
aumentou o número de pessoal empregado para 7,8
milhões, o que resulta em uma transferência, sob a
forma de benefícios, de R$ 2.819/ano por trabalhador.
Um crescimento de 13,5% em termos reais.
Mesmo diante da afirmação que esses
benefícios são importantes para dar mais segurança e
conforto ao trabalhador, o mesmo não irá representar
maior custo para as empresas e, portanto, perda de
competitividade, se houver a contrapartida de aumento
de produtividade. Outro ponto importante refere-se ao
comportamento dos custos desses benefícios. Como
pode ser visto, esses estão relacionados a
determinados tipos de serviços que acabam por ter um
comportamento inflacionário diferente dos produtos
comercializáveis. Ou seja, como a competição nos
serviços é menor que nos produtos industriais, é de se
esperar que os custos dos benefícios aumentem mais
ao longo do tempo, em especial diante de crescimento
da renda, e devem pressionar os gastos futuros das
empresas com essa rubrica.
Porém, há outros recursos que a indústria
direciona aos trabalhadores e que também deveriam
entrar nessa conta, como por exemplo, FGTS, INSS e
previdência privada. De alguma forma, o trabalhador
irá ter acesso a esses recursos no futuro, seja em
situações adversas no mercado de trabalho como, por
exemplo, desemprego, ou então na aquisição de casa
própria e aposentadoria. Em 2008, a indústria gastou
com esses itens o equivalente a R$ 45,5 bilhões, ou
então, R$ 5.789/ano por trabalhador. Somando esses
aos benefícios anteriores, teremos um total de R$
8.608/ano por trabalhador em 2008. Note que os
benefícios diretos, percebidos automaticamente no
salário e, portanto, mais sujeitos a demanda nas
negociações coletivas, representam apenas uma fração
daqueles benefícios que não são sentidos na conta
corrente e que constituem uma reserva futura. E esse
adicional não é desprezível. Para um salário médio de
R$ 19.091/ano, os benefícios transferidos resultam em
um adicional de 45% sobre os salários dos
trabalhadores. Ou seja, o trabalhador ganha R$
27.699/ano mas, no curto prazo, recebe apenas R$
19.091.
O segundo ponto de destaque são (ii) os
excessivos gastos com indenizações trabalhistas. Há
doze anos, as indenizações representavam 2,8% do total
gasto com pessoal, cerca de R$ 4,3 bilhões no ano
(considerando valores deflacionados pelo IPCA).
Apesar da pequena participação sobre o gasto com
pessoal, o valor não é desprezível. Durante esse
período, essa relação se reduziu, atingindo os 2% do
gasto com pessoal em 2008. Porém, ainda é um valor
exageradamente elevado, da ordem de R$ 4,5
bilhões/ano. Para se ter uma ideia da importância dessa
soma de recursos, basta ver que o gasto anual com
indenizações chega a representar o dobro do que é
destinado à previdência privada todo ano pelas
indústrias. Um absurdo em uma economia que precisa
constituir poupança doméstica para financiar seu
crescimento.
O terceiro elemento de destaque é: (iii) o
expressivo aumento dos gastos com energia. A energia
utilizada para acionar as máquinas é um insumo muito
importante para a atividade industrial. Nesse caso, a
pesquisa relaciona duas importantes fontes, a energia
elétrica e os combustíveis. Em 1996, o gasto total com
esse insumo era da ordem de R$ 17,5 bilhões. Desde
então, cresceu cerca de 9% ao ano em termos reais e,
em 2008, atingiu o total de R$ 49 bilhões. Uma taxa de
expansão superior a verificada na receita líquida de
vendas, que foi de 7,1% o que, por si só, já é um
indicativo de perda de competitividade setorial. Como
se sabe, há segmentos que são mais intensivos no
consumo de energia o que significa que esse aumento
pode representar uma perda de competitividade maior
em determinados segmentos relativamente a outros. Por
outro lado, esse aumento pode estar refletindo o
processo de mecanização do setor, em um cenário de
elevações contínuas dos custos do fator trabalho. O
modelo brasileiro de produção industrial não se sustenta
no médio prazo.

Publicado no Informe Econômico 19/julho/2010

Nenhum comentário:

Postar um comentário