Em que pese o bom resultado da economia do Rio Grande
do Sul no ano de 2013, há poucos elementos a favor da tese de que trilhamos uma
trajetória de crescimento sustentado. Esse filme já é antigo e conhecido de
todos nós. A cada ciclo de queda acentuada na produção agrícola, que acaba por
dar bastante trabalho ao Governo do momento para justificar que rezou e fez
todo o possível, mas que, infelizmente, não foi atendido por São Pedro, segue-se
outro de euforia e discursos sobre o sucesso da política econômica do momento. Mas,
nessa última década o que se percebe é que mudamos várias vezes o lado da
política, mas nada fizemos para resolver o econômico e minimizar os impactos
negativos das oscilações no setor no Estado.
Tudo na mesma, apenas esperamos o ano ruim no campo
terminar para vir um bom. E os motivos também são os de sempre, culpa de São
Pedro, crise internacional, juro alto, câmbio, as restrições de importações da
Argentina ou até onde a imaginação se deixar levar.
Com isso vamos escondendo a realidade difícil de
admitir, nosso sucesso no PIB depende da soja ir bem ou não. Pode parecer
simples, mas é isso mesmo. Quando somos acometidos por uma seca o PIB do setor
despenca e carrega consigo não só as estatísticas, mas boa parte da economia.
Na recuperação da safra seguinte os números são revertidos, esquecemos o
passado recente e prometemos o céu a investidores, eleitores e etc.
Desde 2002 tivemos quatro ciclos importantes na
produção de soja. O primeiro foi na safra 2002/03 com o pico de 9,6 milhões de
toneladas e crescimento de 71% sobre a colheita anterior. Com a retração dos
dois períodos consecutivos o ano de 2006 prometia, a safra saltou para 7,7
milhões, fantásticos 172% que fizeram o PIB do setor alcançar os 36% ao fim do
ano de 2006, depois de bater os 56% no 2º trimestre do mesmo ano. O mesmo
comportamento se viu na safra 2007/08 e, mais recentemente, na última seca em
2011/12, que resultou em um crescimento de 92% na produção de soja e
perspectiva de que o PIB do Estado encerre o ano passado em 5,7%. Note que a magnitude
das perdas se diferenciou entre esses quatro ciclos, bem como da recuperação,
em comum o fato de que foram os anos em que o Estado mais cresceu.
A análise do passado recente permite fazer algumas
considerações acerca do futuro próximo. Nesse ritmo, não será em 2014 nem em
2015 que São Pedro voltará a atuar. Assim, o fim do atual e o primeiro ano do
próximo Governo podem experimentar uma trégua e, se é verdade que a política
regional sofreu mudanças, tal como apregoado, então nada mais natural que
acreditar em uma produção de soja bem maior na safra seguinte. Afinal,
finalmente promovemos mudanças estruturais e o Estado deve continuar a crescer
5% ao ano.
Infelizmente não combinaram com os produtores
agrícolas, com o setor industrial e demais agentes econômicos. As previsões de
safra de soja para o Rio Grande do Sul dão conta de aumento tímido, da ordem de
4% para essa safra. Sendo assim, infelizmente, não teremos a contribuição da
agropecuária para ver o PIB crescer em 2014. Restam os demais setores. Mas o
que esperar da indústria de transformação que cresceu entre 2003 e 2013 uma
média de 0,75% ao ano? Se o câmbio desvalorizar, a Argentina não complicar e a
crise passar, quem sabe uns 2%? Já o setor de serviços teve média de 3% no
período considerado, com destaque para transporte e comércio.
Infelizmente,
não foi dessa vez que promovemos mudanças estruturais e a expectativa é de
crescimento da ordem de 3%. Nada mal, o resultado está em linha com a previsão
para Brasil e também com nossa média desde 2003, que foi de 2,8% ao ano.
Infelizmente, a notícia ruim, para os contribuintes, é que esse desempenho fica
abaixo da média de expansão dos impostos, 3,44% ao ano.
Publicado no Jornal do Corecon janeiro 2014
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