segunda-feira, 28 de julho de 2014

OS ASIÁTICOS SÃO MELHORES QUE NÓS?

O rápido crescimento econômico da Ásia nas três últimas décadas contribui para reduzir a diferença de renda per capita da região em relação aos países desenvolvidos, ao contrário do cenário verificado na América Latina. Em 1970, a renda per capita da Ásia representava apenas 15% da renda per capita dos EUA, enquanto a América Latina tinha uma renda equivalente a 26% da americana. Desde então essa relação veio se invertendo. Enquanto a região asiática investia nas reformas estruturais com foco na melhoria do ambiente institucional e no processo de “incentivo às exportações”, a América Latina debatia a importância de se integrar ao mundo e se fechou no falido modelo de “substituição de importações”. Como resultado, a participação da região asiática no comércio mundial mais do que dobrou entre 1970 e 2005, ao passo que a participação da América latina caiu. Tal estratégia de intensificar relações comerciais com o resto do mundo, não fazendo distinção de cor, sexo, raça e religião, resultou em ganhos de renda para a região. Em 2005 a renda per capita da Ásia atingiu a 26% da verificada nos EUA, enquanto a América Latina experimentou o empobrecimento relativo, com sua renda per capita hoje representando apenas 20% da verificada nos EUA.
A performance asiática pode ser analisada a partir do comportamento da produtividade na região, em especial a que está relacionada ao trabalho. A literatura econômica coloca o fator produtividade como variável importante na determinação do crescimento de longo prazo nos países. Porém, apesar da dificuldade em mensurá-la, não obstante, é possível encontrar relações de quão produtivo está a economia, seja do ponto de vista global, setorial ou então desagregando a mesma em outros fatores.

Assim, a análise das diferenças de crescimento da produtividade entre países no período de 1965-2005, ajuda a compreender melhor seus fatores determinantes. De uma maneira geral, os países que tiveram maior crescimento da produtividade nesse período, também apresentaram melhora relativa nas instituições, com aumento da transparência no setor público, constituição de regras mais claras e críveis de investimento e de relação entre o setor público e privado e entre os agentes privados; um sistema financeiro mais desenvolvido (concorrência e segurança jurídica nos contratos); um clima mais favorável aos investimentos, seja do ponto de vista de redução de custos para se começar um negócio seja na receptividade da participação do capital privado na economia; melhor infra-estrutura, menores restrições a políticas de comércio, onde a China, Índia e o Chile são bons exemplos de intensificação dos acordos comerciais bilaterais e, também, um maior nível educacional, com investimento em qualidade de ensino.
Os números revelam que a Ásia teve uma performance melhor que as demais regiões, em especial a América Latina, em muitos desses indicadores. Destaque para a melhora no ambiente institucional, na abertura comercial e no desenvolvimento do setor financeiro. É claro que há muita disparidade dentro da região, com a China apresentando melhores resultados no que diz respeito à facilidade na abertura de empresas, na qualidade das instituições e nos anos de escolaridade. Por outro lado, a América Latina peca por apresentar deficiências na abertura comercial, qualidade institucional e desenvolvimento do setor financeiro. Não é para menos, os governantes Latino-Americanos ainda não se convenceram dos benefícios de maior comércio, e a região se vê com dificuldades em respeitar contratos (vide exemplos recentes da Argentina, Venezuela e Bolívia). Além disso, muitos países da América Latina relutam em tornar as suas instituições públicas mais transparentes, e se sentem bem quando combatem os investimentos privados. É uma escolha, que tem o seu preço. Sempre vai ter um outro país que irá querer receber investimentos privados, sem hostilidade.
O crescimento recente da Ásia não é repentino e surgiu sobre bases bastante sólidas. É o resultado de um esforço concentrado da região nas últimas décadas em ocupar um lugar de destaque no mundo dos negócios. Eles sabem que tem potencial em função de disponibilidade de mão-de-obra e, mesmo possuindo uma menor quantidade de recursos naturais, souberam explorar suas vantagens comparativas, e investiram em capital humano e na atração do capital físico, reduzindo as barreiras ao investimento e ao desenvolvimento de mercados. Analisando o passado, temos boas lições a aprender com os asiáticos.
Olhando para o futuro, podemos traçar um cenário onde a competição para os investimentos será mais acirrada. A Ásia conhece as deficiências que se afloram diante de uma economia que se desenvolve rapidamente, e já discute diversas reformas estruturais como estratégia para manter a sua competitividade na atração de investimentos privados. Mas, oportunidades sempre existirão, e se a América Latina conseguir se livrar das propostas econômicas da década de 1970, do populismo e do paternalismo, que se materializa no exemplo de programas de transferência de renda, como o bolsa-família, e voltar os olhos para o investimento em educação, teremos a oportunidade de, pelo menos, recuperar parte do terreno perdido.


Publicado no Informe Econômico/FIERGS 23/10/2006

Nenhum comentário:

Postar um comentário