segunda-feira, 28 de julho de 2014

O PREÇO DAS COMMMODITIES NÃO-PETROLIFERAS DEVERÃO CONTINUAR ELEVADOS

A elevação do preço de diversas commodities não-petrolíferas nos últimos cinco anos, acima do aumento verificado no preço do petróleo, contribuiu para alavancar o crescimento econômico de países cujas exportações dependem desses produtos. Porém, tal comportamento não é homogêneo, com os metais aumentando de preço em 180% desde 2002, ao passo que os produtos alimentares apenas 20% e os agrícolas 5%. Vale lembrar que muito dessa evolução está relacionada ao baixo nível de investimento que foi feito no mundo na produção de metais durante a década de 1990 e início da de 2000, quando então os preços ainda apresentavam tendência de declínio.
Outra fonte importante de pressão tem sido o crescimento econômico dos países emergentes, em especial da China. De 2002 a 2005 o consumo mundial de alumínio aumentou em 7,6%, e somente a China contribuiu com metade desse crescimento na demanda. Da mesma forma, é possível notar essa influência no aumento da demanda por cobre, níquel, aço e zinco. O mesmo pode-se dizer em relação ao aumento da demanda por banana, algodão, carne e milho. Uma outra fonte de pressão nos preços que tem sido muito citada é o movimento especulativo de investidores no mercado futuro. Porém, a comparação entre os dados de preços correntes com o comportamento do mercado futuro não valida essa afirmação.

Dada a significativa exposição de alguns países a flutuações do preço dessas commodities, o comportamento futuro desse mercado tem importantes implicações políticas. Afinal de contas, em cerca de 36 países as exportações de commodity não-petrolíferas representa mais de 10% do total exportado pelo país. Em alguns casos, como no Suriname com o alumínio e o Chile com o Cobre, essa dependência ultrapassa os 30%.
O primeiro aspecto a considerar em projeções nesse mercado está relacionado ao comportamento cíclico desses preços. Estudos recentes – ver IMF(2006), mostram uma alta correlação entre o crescimento econômico mundial e a elevação do preço desses produtos, em especial das commoditites metálicas. Destaca-se que as agrícolas também apresentam esse comportamento, porém, menos acentuado. Tal resultado deve-se à capacidade de resposta da produção nesse setor ser mais rápida que na produção de metais e também pela menor elasticidade renda-demanda dos produtos agrícolas. Ou seja, na medida em que aumenta a renda mundial, seus impactos são maiores sobre a demanda de produtos metálicos do que nos produtos agrícolas. Além disso, vale destacar que os países que se encontram em processo de industrialização, costumam ter uma demanda maior por produtos metálicos, como forma de atender a uma demanda crescente de uma indústria em expansão e nos investimentos que são feitos em infra-estrutura. Tal comportamento verificou-se no processo histórico de crescimento do Japão, Coréia, EUA e da Região do Euro, e mais recentemente como ocorre na China e na Índia.
Porém, na medida em que se atinge um determinado patamar de renda per capita, entre US$ 15 mil e US$ 20 mil por ano, essa taxa de crescimento da demanda por metais é menor. Como a China encontra-se no patamar de renda de US$ 6 mil dólares/ano – quando medida pela paridade do poder de compra – pode-se concluir que ainda há muito espaço para o crescimento da demanda por metais, o que deve influenciar seu preço no futuro. Segundo estimativas feitas pelo IMF(2006) a expansão da demanda por alumínio e cobre, em especial, deve crescer. Porém, a projeção de aumento da capacidade instalada desses produtos, irá contribuir para reduzir a pressão sobre os preços. Mesmo assim, até 2010, a expectativa é que o nível médio de preço desses dois produtos ainda estará em um patamar elevado, em relação à média histórica.
No caso dos produtos agrícolas, dois fatores deverão influenciar o comportamento futuro dos preços mais do que a expansão da demanda: a produtividade e os custos de produção. No primeiro caso, o avanço tecnológico e em pesquisas na área deve contribuir para manter os preços baixos. Porém, a perspectiva de manutenção do preço do petróleo em patamares elevados deverá influenciar os custos de produção do setor, em especial pelo uso de fertilizantes. No médio prazo, outro fator que pode contribuir para elevar o preço de alguns produtos agrícolas no cenário internacional é a eliminação dos subsídios concedidos a esses setores. Destaca-se que cerca de 30% dos rendimentos recebidos por agricultores nos países desenvolvidos, provém de tarifas de importação, subsídios à exportação e pagamento direto feitos pelos governos.
Essas variáveis podem não fazer o preço dos produtos agrícolas aumentarem na mesma magnitude que o preço dos metais e do petróleo, (estimativas apontam aumento de 5,1% no preço da carne, 5,8% no preço do açúcar e 13% no algodão), mas deverão contribuir para a manutenção nível de preços desses produtos, o que irá se constituir em um fator positivo para alguns países em desenvolvimento, como o Brasil. Se esses países souberem aproveitar essa fonte de recursos, como tem feito o Chile, estarão criando as condições para saltar da linha de pobreza.

IMF, The Boom in nonfuel commodity: can it last? WEO, September, 2006.


Publicado no Informe Econômico/FIERGS 25/09/2006

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