segunda-feira, 28 de julho de 2014

AS MULTINACIONAIS DE PAÍSES EM DESENVOLVIMENTO AVANÇAM.....

Relatório recente da UNCTAD (Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento) relativo ao fluxo de investimentos no mundo mostra que ainda permanece forte a relação norte-norte. Em 2005, circularam US$ 916 bilhões na forma de investimento, o maior valor desde o recorde do ano 2000, que foi US$ 1,4 trilhão. A maior parte desses recursos tiveram como destino os países desenvolvidos (60%), destaque para o Reino Unido, com US$ 165 bilhões (influenciada por negociações da Shell com uma empresa petrolífera na Holanda). Entre os países em desenvolvimento, não é surpresa citar a China como o principal receptor, US$ 72,4 bilhões, acima do total destinado a outros países desenvolvidos como França, Holanda, Canadá e Alemanha. O Brasil aparece na 14a posição, atrás de Singapura e México. Ressalta-se que a origem desses recursos continua a ser, em sua grande maioria, os países desenvolvidos, no ano passado destacam-se a França, Reino Unido, Japão e Alemanha.
Da mesma forma que é possível notar uma intensificação das relações de investimento entre os países desenvolvidos, também é verdade que os países em desenvolvimento estão elevando a sua participação no total investido. Hoje, esse grupo já detém cerca de 17% do estoque de ativos investidos no exterior. Porém, o destino desses recursos tem seguido a relação sul-sul, com um detalhe importante: com concentração inter-regional, ou seja, empresas Latino-Americanas investindo na própria região e o mesmo acontecendo na Ásia e na África. Tal comportamento revela a intensificação do processo de globalização nos últimos anos, em especial nas empresas.

Do total movimentado no ano passado, US$ 644 bilhões foram destinados para a construção de novas fábricas e aquisições, com predominância de negócios para os setores de serviços, como finanças e telecomunicações. Nessa corrida por investimentos, algumas regiões têm saído na frente. Não bastasse o fato de que os novos países membros da União Européia (República Tcheca, Hungria, Polônia e Eslováquia), apresentarem custos trabalhistas cerca de 30% menores que os verificados nos demais países da União Européia, os governos locais continuam a fazer reformas importantes, como privatizações, redução de impostos sobre os lucros e criando incentivos para a atração de investimento estrangeiro. Tal iniciativa já tem surtido efeito, e esses países consolidaram a sua posição como local preferido para os investimentos europeus, em especial os destinados para a indústria automobilística. Atualmente, a produção de veículos nesses quatro países é de cerca de 1,6 milhão, e a previsão é que dobre nos próximos cinco anos.
Como pode ser visto, a aldeia global não é novidade no mundo dos negócios e, a cada ano que passa, os mercados ficam cada vez mais acessíveis, resultando em novas oportunidades da mesma forma que aumenta a concorrência em diversos setores. E tudo indica que esse movimento deve se intensificar. Vale destacar que, das 100 maiores empresas no mundo, 85 são originárias de países desenvolvidos. Para se ter uma idéia da importância da ação das multinacionais na economia, elas já são cerca de 77 mil companhias no mundo, gerando quase US$ 4,5 trilhões em valor adicionado (10% do PIB mundial), empregando mais de 62 milhões de pessoas e exportando um total de US$ 4 trilhões em bens e serviços, 33% do total mundial.
Apesar disso, as multinacionais de países em desenvolvimento estão conquistando seu espaço, mesmo que lentamente. Há cinco anos, a participação das empresas dos países em desenvolvimento nesse processo de globalização era pequena. Agora, não apenas as estratégias estão voltadas para o mercado internacional, aproveitando-se dos ganhos de competitividade presentes em custos de mão-de-obra mais baixo, como também os governo de diversos países na Ásia e África estão atuando de forma agressiva para permitir que suas empresas ocupem um lugar de destaque no mercado global. Atualmente, são pouco mais de 13.000 empresas multinacionais de países em desenvolvimento, mas que já respondem por US$ 1,9 trilhão em vendas e empregam cerca de 6 milhões de trabalhadores. Nesse conjunto, destaque para as multinacionais asiáticas, que somam 77 das 100 maiores dentre o grupo dos emergentes. O Brasil figura com apenas duas empresas nesse grupo, a Petrobrás e a Companhia Vale do Rio Doce. 
O movimento recente dos investimentos estrangeiros parece sinalizar para um “rearranjo” no mercado global. Países que apresentam taxas de crescimento elevadas, como é o caso da China e do leste e sul da Ásia, estão começando a constituir um conjunto de empresas com poder de mercado para se tornarem fortes concorrentes no mercado global. Além disso, a menor tributação sobre os lucros têm permitido que as empresas dessas regiões adquiram musculatura para fazer investimentos e atuar em pé de igualdade no mercado internacional. É verdade que muitas são estatais, mas a continuar o processo de reforma estrutural que esses países estão engajados, a perspectiva de privatização deverá resultar em um mercado mais competitivo ainda nos próximos anos. Setores como telecomunicações, informática, veículos partes e peças, serviços financeiros e produção de condutores e semi-condutores, estão encabeçando essa lista. Dado esse cenário, não será novidade que o Brasil comece a conviver cada vez mais com investimentos de empresas com capital de origem em países em desenvolvimento.

Publicado no Informe Econômico/FIERGS 30/10/2006


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