Nos últimos cinco anos o preço médio
dos imóveis nos EUA aumentou em cerca de 56%, ao passo que o índice de inflação
ao consumidor, para o mesmo período, foi de 14%. Diversos fatores contribuíram
para essa pressão, em destaque, o menor custo do crédito de longo prazo, devido
as baixas taxas de juros vigentes, as modificações demográficas no país, (com
boa parte da população demandando a compra de um segundo imóvel para férias ou
então para aposentadoria, a rápida imigração) e, como não podia deixar de ser,
o processo especulativo. Assim, dada a dificuldade em se expandir a oferta no
curto prazo, esses movimentos em conjunto contribuíram para desequilibrar o
mercado imobiliário.
Porém, o aumento de preços verificado
não foi homogêneo no país. Em algumas regiões como a Flórida e a Califórnia,
por exemplo, o valor dos imóveis dobrou nesse período. Nesse cenário, era comum
que relatórios sobre a economia americana abordassem os riscos associados ao
rápido crescimento do preço dos imóveis. Apontava-se que, com um ativo
importante como a residência valendo mais a cada ano, poderíamos ter um efeito
riqueza nas famílias que poderia ser revertido em consumo presente, e com
potencial para desequilibrar o mercado de ativos.
De fato, tal cenário esteve presente no
processo de crescimento econômico do país nos últimos anos, e ainda se faz
sentir de maneira contundente em determinadas regiões. É importante ressaltar
que o risco nesse mercado estava associado à possibilidade de uma reavaliação
desses preços de forma abrupta, colocando as finanças das famílias em
dificuldades e resultando em impactos negativos na qualidade do crédito no
país, o que poderia comprometer o crescimento econômico.
Porém, tal como verificado em
diferentes mercados de ativos em uma economia, era natural supor que o ciclo de
ajuste do preço dos imóveis apontasse para uma acomodação. E isso é o que têm
acontecido nos últimos meses. Os preços dos imóveis ainda crescem, mas a uma
taxa menor do que verificada em outros períodos. É o primeiro sinal de
acomodação.
Em todo caso, vale ressaltar que esse
processo não tem se verificado de maneira uniforme em todo o país. Em algumas
regiões, como por exemplo, naquelas afetadas pelo furacão Katrina e no Texas
(área de riqueza do petróleo), o preço dos imóveis continua a crescer de forma
acentuada. O último relatório do instituto responsável pela coleta de
informações sobre a qualidade do crédito e do preço dos imóveis no país
(www.ofheo.gov), mostra que o preço dos imóveis aumentaram 10,6% no segundo
trimestre desse ano em relação ao mesmo período do ano passado. Em relação ao
primeiro trimestre, o crescimento é de apenas 1,17%. A boa notícia é que essa é
a menor taxa de crescimento já verificado desde o último trimestre de 1999.
A justificativa para essa acomodação
nos preços está na política monetária restritiva aplicada pelo Fed nos últimos
dois anos – a taxa de juros básica nos EUA está em 5,25% a.a., uma menor
atuação dos especuladores e também o maior número de lançamentos, que tem
contribuído para elevar a oferta de imóveis.
A experiência presenciada com a
reavaliação de preço dos imóveis em países como a Austrália e no Reino Unido,
sugere que esse processo é lento e gradual. Esses podem ser visualizados a
partir da queda dos gastos dos consumidores, queda da taxa de juros de longo
prazo e redução da taxa de crescimento do PIB, mas longe de se configurar uma
recessão. Se essa for a realidade para os EUA, podemos inferir que seus
impactos no PIB ainda estão longe do fim. Porém, ressalta-se que existe uma
diferença importante no mercado imobiliário dessas economias. Enquanto que esse
mercado no Reino Unido trabalha, preponderantemente, com taxas de juros
flutuantes para empréstimos, nos EUA o refinanciamento é feito com taxas de
juros fixas.
As projeções para a economia americana
são de que o preço dos imóveis deve continuar o processo de desaceleração nos
próximos meses, crescendo a taxas menores que os demais preços. Isso é o que os
economistas denominam de ajuste nos preços relativos. É claro que tal processo
não deverá ocorrer sem produzir impactos sobre a renda dos consumidores, seus
gastos e o desempenho do PIB. É nesse sentido que se projeta uma acomodação do
crescimento da economia americana a taxas próximas a 3% para os próximos 12
meses.
É importante ressaltar que, no curto
prazo, a redução no preço do petróleo e também da gasolina, deve amenizar esses
impactos negativos. Porém, a trajetória da inflação e o comportamento do PIB
potencial ainda são temas centrais do debate nos EUA, quando o assunto for
política monetária. A próxima reunião do Fed será apenas no dia 12 de dezembro.
As projeções são de que os juros devem permanecer em 5,25%, à espera dos
indicadores de desempenho do PIB para o último trimestre do ano. Para o resto
do mundo e, em especial para o Brasil, o melhor é que o preço dos imóveis nos
EUA tenham um processo de ajuste gradual, sem choques, cenário que começa a se
materializar para 2007.
Publicado no Informe Econômico/FIERGS
13/11/2006
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