segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Plantando o crescimento

Diversos fatores ajudam a explicar a recuperação da atividade industrial no Rio Grande do Sul a partir do final do ano de 2006. É fato que a baixa base de comparação, após um biênio de crise que foi o mais intenso e longo da história do setor no Estado, contribuiu para a concretização do cenário de elevado crescimento. Porém, não podemos negligenciar a importância da estabilidade de preços que melhora o horizonte de previsibilidade e, com isso, as vendas do segmento de bens de capital, da mesma forma que os juros em queda contribuíram para a alavancagem dos financiamentos para investimento e consumo.
Mas, em meio a esse ambiente de fundamentos macroeconômicos consistentes, o desempenho do agronegócio brasileiro foi determinante para os resultados industriais no Rio Grande do Sul. É importante destacar que a atividade voltada para o campo, classificada como agronegócio, abarca desde a produção de lavouras temporárias, como por exemplo, soja, milho e arroz, as lavouras permanentes como laranja, maçã e café até produtos mais elaborados como carne e bebidas, uma lista que possui mais de 2,2 mil produtos.

Os números do setor impressionam. Entre 2002 e 2006, as exportações do agronegócio brasileiro avançaram a uma taxa média de 18,8% ao ano, elevando o total exportado para US$ 49,4 bilhões ao final de 2006. Tal resultado representa um adicional de pouco mais de US$ 24 bilhões sobre o valor exportado em 2002. Mesmo com a valorização do câmbio para o período, é possível identificar um avanço das receitas em reais da ordem de 14%.
A taxa de crescimento das exportações do agronegócio brasileiro foi o dobro dos 9,9% das importações globais, indicando que o País está ocupando maior espaço no mercado internacional. Ressalta-se que o complexo da soja, carnes, produtos florestais e o complexo sucroalcooleiro representam 68% das exportações do segmento brasileiro. Porém, chama atenção a recente expansão das exportações de lácteos, animais vivos e cereais e farinhas. Além disso, o mais interessante nesses resultados é que metade desse total tem como destino os países desenvolvidos, indicando que os produtos do agronegócio brasileiro também apresentam boa competitividade com seus pares em países em desenvolvimento.
Esse bom desempenho conjuntural tem seus impactos ampliados sobre a economia na medida em que a atividade do agronegócio representa cerca de 33% do PIB brasileiro e emprega 37% dos trabalhadores, além de movimentar diversas indústrias na cadeia produtiva. De fato, os efeitos multiplicadores sobre a riqueza nas cidades de menor porte, muitas das quais dependentes de apenas uma única cultura, e também sobre os diversos segmentos produtivos, são perceptíveis nos últimos anos. Seguindo a expansão do PIB agrícola acima da média nacional entre 2006 e 2007, a indústria que fabrica produtos para a agricultura reverteu uma queda de produção de 12% no primeiro trimestre de 2006 para uma expansão de 19% ao final de 2007, refletindo o bom desempenho dos fornecedores de adubos e fertilizantes quanto nos produtores de máquinas e equipamentos. Duas importantes atividades presentes no Rio Grande do Sul e que, além disso, são determinantes na composição da produção do setor no Brasil. Resultado também semelhante pôde ser verificado dentre o grupo de empresas que fabricam produtos para a pecuária, como rações, suplementos vitamínicos e produtos veterinários, esses com menor presença na indústria gaúcha.
Muito mais do que um resultado conjuntural, os números recentes colocam à prova a tese de que os ciclos de produção no setor agrícola são muito acentuados, atingindo picos elevados seguidos de quedas bruscas. Ou seja, gerando momentos de euforia seguidos de profunda depressão. É claro que, analisando apenas um tipo de produto e ainda, uma única região, isso ainda é verdade. A produção de soja da região “x” oscila muito mais do que a produção de grãos brasileira. Mas, um ponto positivo identificado no segmento nos últimos anos foi a diversificação da pauta e também da sua localização espacial, o que contribui para reduzir os sustos nos indicadores agregados. Além disso, o avanço da tecnologia no campo, seja com o monitoramento do clima, seja com o controle de doenças ou a prevenção de pragas, além de maquinário ligado ao plantio, colheita e comercialização, tem ajudado a modificar esse quadro de grandes incertezas no setor.
Mas ainda não estamos livres dos movimentos cíclicos das tradicionais correções de preços, que acabam se ajustando à oferta e demanda. Muitos são os especialistas que afirmam ser ainda duradouro o ciclo de alta no preço das commodities no cenário internacional. Mesmo que os reajustes de preços não continuem, pelo menos o patamar elevado deve se manter. Porém, a despeito desses, a constante expansão da produção verificada no Brasil ajuda a estabilizar a receita final e, com isso, a capacidade de investimento no setor. Da mesma forma, o desenvolvimento do mercado de derivativos agropecuários ajuda os participantes, tanto produtores quanto comerciantes e consumidores, a evitarem surpresas durante o processo de negociação desses contratos. Diante do que assistimos no agronegócio brasileiro, as projeções e pela sua importância na geração de riqueza na cadeia, pode-se afirmar que estamos plantando o crescimento futuro.

Publicado no Informe Econômico de 25/02/2008

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