Diversos fatores ajudam a explicar a
recuperação da atividade industrial no Rio Grande do Sul a partir do final do
ano de 2006. É fato que a baixa base de comparação, após um biênio de crise que
foi o mais intenso e longo da história do setor no Estado, contribuiu para a
concretização do cenário de elevado crescimento. Porém, não podemos
negligenciar a importância da estabilidade de preços que melhora o horizonte de
previsibilidade e, com isso, as vendas do segmento de bens de capital, da mesma
forma que os juros em queda contribuíram para a alavancagem dos financiamentos
para investimento e consumo.
Mas, em meio a esse ambiente de
fundamentos macroeconômicos consistentes, o desempenho do agronegócio
brasileiro foi determinante para os resultados industriais no Rio Grande do
Sul. É importante destacar que a atividade voltada para o campo, classificada
como agronegócio, abarca desde a produção de lavouras temporárias, como por
exemplo, soja, milho e arroz, as lavouras permanentes como laranja, maçã e café
até produtos mais elaborados como carne e bebidas, uma lista que possui mais de
2,2 mil produtos.
Os números do setor impressionam. Entre
2002 e 2006, as exportações do agronegócio brasileiro avançaram a uma taxa
média de 18,8% ao ano, elevando o total exportado para US$ 49,4 bilhões ao
final de 2006. Tal resultado representa um adicional de pouco mais de US$ 24
bilhões sobre o valor exportado em 2002. Mesmo com a valorização do câmbio para
o período, é possível identificar um avanço das receitas em reais da ordem de
14%.
A taxa de crescimento das exportações
do agronegócio brasileiro foi o dobro dos 9,9% das importações globais,
indicando que o País está ocupando maior espaço no mercado internacional.
Ressalta-se que o complexo da soja, carnes, produtos florestais e o complexo
sucroalcooleiro representam 68% das exportações do segmento brasileiro. Porém,
chama atenção a recente expansão das exportações de lácteos, animais vivos e
cereais e farinhas. Além disso, o mais interessante nesses resultados é que
metade desse total tem como destino os países desenvolvidos, indicando que os
produtos do agronegócio brasileiro também apresentam boa competitividade com
seus pares em países em desenvolvimento.
Esse bom desempenho conjuntural tem
seus impactos ampliados sobre a economia na medida em que a atividade do agronegócio
representa cerca de 33% do PIB brasileiro e emprega 37% dos trabalhadores, além
de movimentar diversas indústrias na cadeia produtiva. De fato, os efeitos
multiplicadores sobre a riqueza nas cidades de menor porte, muitas das quais
dependentes de apenas uma única cultura, e também sobre os diversos segmentos
produtivos, são perceptíveis nos últimos anos. Seguindo a expansão do PIB
agrícola acima da média nacional entre 2006 e 2007, a indústria que fabrica
produtos para a agricultura reverteu uma queda de produção de 12% no primeiro
trimestre de 2006 para uma expansão de 19% ao final de 2007, refletindo o bom
desempenho dos fornecedores de adubos e fertilizantes quanto nos produtores de
máquinas e equipamentos. Duas importantes atividades presentes no Rio Grande do
Sul e que, além disso, são determinantes na composição da produção do setor no
Brasil. Resultado também semelhante pôde ser verificado dentre o grupo de
empresas que fabricam produtos para a pecuária, como rações, suplementos
vitamínicos e produtos veterinários, esses com menor presença na indústria
gaúcha.
Muito mais do que um resultado
conjuntural, os números recentes colocam à prova a tese de que os ciclos de
produção no setor agrícola são muito acentuados, atingindo picos elevados seguidos
de quedas bruscas. Ou seja, gerando momentos de euforia seguidos de profunda
depressão. É claro que, analisando apenas um tipo de produto e ainda, uma única
região, isso ainda é verdade. A produção de soja da região “x” oscila muito
mais do que a produção de grãos brasileira. Mas, um ponto positivo identificado
no segmento nos últimos anos foi a diversificação da pauta e também da sua
localização espacial, o que contribui para reduzir os sustos nos indicadores
agregados. Além disso, o avanço da tecnologia no campo, seja com o
monitoramento do clima, seja com o controle de doenças ou a prevenção de
pragas, além de maquinário ligado ao plantio, colheita e comercialização, tem
ajudado a modificar esse quadro de grandes incertezas no setor.
Mas ainda não estamos livres dos
movimentos cíclicos das tradicionais correções de preços, que acabam se
ajustando à oferta e demanda. Muitos são os especialistas que afirmam ser ainda
duradouro o ciclo de alta no preço das commodities no cenário internacional.
Mesmo que os reajustes de preços não continuem, pelo menos o patamar elevado
deve se manter. Porém, a despeito desses, a constante expansão da produção
verificada no Brasil ajuda a estabilizar a receita final e, com isso, a
capacidade de investimento no setor. Da mesma forma, o desenvolvimento do
mercado de derivativos agropecuários ajuda os participantes, tanto produtores
quanto comerciantes e consumidores, a evitarem surpresas durante o processo de
negociação desses contratos. Diante do que assistimos no agronegócio
brasileiro, as projeções e pela sua importância na geração de riqueza na
cadeia, pode-se afirmar que estamos plantando o crescimento futuro.
Publicado no Informe Econômico de 25/02/2008
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