Uma recessão nos EUA somente é
registrada formalmente depois do “referendo” dos economistas do National Bureau
of Economic Research (NBER). Segundo eles, “a recessão é um declínio significativo na atividade da totalidade da
economia, durando mais que alguns meses, visível na produção industrial, no
emprego, no PIB real, na renda real e no comércio (atacado e varejo).”A
última recessão que os EUA vivenciaram foi de março a novembro de 2001. Naquele
ano, o PIB americano cresceu 0,8%. No mesmo período a economia mundial cresceu
2,5%. Assim, é importante ter claro que recessão, para os americanos, não significa
necessariamente desempenho negativo da economia.
Os EUA cresceram em 2007 o equivalente
a 2,2%. A expectativa para 2008, segundo o FMI, é que o país cresça
aproximadamente 1,5%. Isto é, depois de ter expandido fortemente por um longo
período, a economia americana ensaia uma desaceleração. Entretanto, vale
ressaltar que os períodos de recessão, ao longo do tempo, tem ficado cada vez
mais breves e os períodos de expansão mais longos. Assim, se a desaceleração
virar recessão, sua duração deverá ser menor do que fora no passado e com isso,
os efeitos nas demais economias deverão perdurar menos.
Porém, se não há consenso sobre se a economia
americana entrará ou não em recessão, uma dúvida tão grande quanto essa surge a
respeito da resposta asiática a essa crise na maior economia do mundo. A Ásia
ocupa hoje (bem diferente do que ocorria no passado) posição fundamental na
definição do crescimento mundial. É a Ásia, mais especificamente a China, com
sua demanda crescente que sustenta a expansão dos preços das commodities alimentícias e de metais no
mundo, que tem grande influência sobre as economias de grande parte dos
emergentes exportadores desses produtos. Portanto, a sustentação do crescimento
asiático frente à desaceleração americana será fundamental para ditar a dinâmica
do crescimento mundial: se a Ásia sucumbir à crise, o mundo “afunda junto”.
Entretanto, não é essa a aposta do FMI que, apesar das incertezas, manteve suas
expectativas de crescimento para a Ásia nos mesmos patamares definidos
anteriormente ao aumento da probabilidade de crise na economia americana.
Apesar da Ásia não estar ilesa de uma
recessão nos EUA que pode atingi-la por dois lados (comercial e financeira) de
forma significativa, não se pode ignorar que a Ásia viu nos últimos anos no
advento de seu mercado interno, a construção de uma sustentação de suas taxas
de expansão. O aumento do poder de compra do consumidor asiático, associado ao
gasto massivo em infra-estrutura tem tornado a região cada vez menos dependente
da demanda dos países da OCDE para a definição das suas taxas de
crescimento. Isto é, apesar não estar livre
de ter sua dinâmica de crescimento definida pelas exportações, o seu grau de
dependência tem se reduzido significativamente. Com isso, as expectativas de
crescimento mundial ainda são bastante positivas: cerca de 4,1%, segundo o FMI.
A economia brasileira também apresenta muito
mais estável e sólida do que tinha em outros períodos em que a economia
americana havia entrado em recessão. Por
exemplo, em 2001, o Brasil ainda vivenciava um ciclo intenso de crises iniciadas
em 1994. Nesse período, a manutenção do Plano Real se via “à prova” a todo
momento, a volatilidade financeira era intensa, as reservas internacionais eram
baixíssimas (comparadas com atualmente) e os saldos comerciais ainda eram
negativos. Hoje, a situação é outra. O Brasil acumula reservas que beiram US$ 180
bilhões, apresenta uma inflação anual abaixo dos 5%, um câmbio (em regime flexível) em torno de US$
1,75, uma divida externa/ exportações muito baixa e os superávits primários são
contínuos desde 1998. Além disso, o país expandiu suas exportações e diversificou
bastante os mercados de destino. Enquanto em 2001, as exportações para os EUA
representavam 24% da pauta, hoje esse número é de cerca de 16%.
Enfim, os fundamentos da economia
brasileira estão melhores e o crescimento ditado pela expansão da demanda
interna deverão ser determinantes para passarmos por esse momento de
turbulência de uma maneira mais suave.
Como o PIB é muito mais dependente das ligações da economia brasileira
com o exterior via comercial, do que por via financeira, é bastante provável
que uma possível recessão americana venha a reduzir a taxa de crescimento
brasileira para aproximadamente 4,2% a 4,7% a.a. em 2008, o que ainda é
bastante significativo para o Brasil.
Pelo lado financeiro, porém, a maior
ligação entre os mercados faz com que as bolsas reajam de maneira mais rápida.
Dado os bons resultados da bolsa brasileira recentemente, é de se esperar que
os investidores realizem os lucros “aqui” para pagar os prejuízos “lá fora”.
Dessa forma, as oscilações estarão presentes enquanto o clima de incerteza prevalecer.
Porém, não há dúvidas que os investidores deverão se acostumar a taxas de
rentabilidade menores.
O
trânsito de capitais estrangeiros deverá ser um importante definidor da
dinâmica do câmbio, e com isso, da inflação e, conseqüentemente, dos juros. No
entanto, tudo isso, por enquanto, são só especulações, de previsível, somente é que a incerteza está
no ar.
Publicado no Informe Econômico de 11/02/2008
Nenhum comentário:
Postar um comentário