segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Petróleo: quando vem o reajuste no Brasil?

Diante de diversas notícias ruins no cenário internacional, em especial aquelas relacionadas e derivadas dos problemas do mercado de crédito subprime nos EUA, parece que a cotação do petróleo acima de US$ 100 o barril tornou-se apenas mais uma a piorar as avaliações e perspectivas dos economistas para o ano de 2008. Porém, muito mais do que uma simples contribuição, o petróleo e, de forma mais abrangente, o tema energia, deve vir a ser o grande desafio dos governos, empresas e consumidores nas próximas décadas. Juntamente com o rápido crescimento mundial, o custo da energia deve aumentar, gerando mais tensões no campo político e econômico.

No caso do mercado de petróleo, há um interessante jogo de forças que faz com que a cotação chegue a esse nível e apresente características de formação de uma bolha. Porém, nada garante que essa bolha estoure no curto prazo, em especial quando se analisa os componentes de formação do preço internacional. Vamos voltar ao ano de 2003, quando a cotação média do barril tipo Brent ainda estava em US$ 29. Aos olhos de hoje, diversos fatores corroboram com a tese de que esse nível de preços não era sustentável. Em destaque o forte crescimento econômico mundial que recém havia entrado em um ciclo que se estenderia por mais anos; os investimentos na produção, que não ocorriam na mesma velocidade que a expansão da demanda; e, as dificuldades encontradas com alguns importantes produtores, em especial no Iraque e na Nigéria.
Antecipando-se a esse cenário, as cotações no mercado futuro começaram a apontar tendência de alta, e constituiu-se em um importante fator na formação da cotação à vista. Diversos trabalhos acadêmicos em finanças, com o uso de dados reais, mostram a existência de causalidade entre as cotações de ativos no mercado futuro e à vista. Ou seja, preços persistentemente altos no mercado à vista, contribuem para mudar a perspectiva dos investidores, hoje, sobre o futuro da cotação e, por outro lado, uma persistente aposta de que o preço no futuro será maior, tem como resultado, a materialização, no presente, de maior cotação. Exatamente isso ocorreu no mercado de petróleo, bem como posteriormente, no preço de outros ativos classificados como commodities.
Em um processo de realimentação, os investidores acreditavam que o preço estava baixo, diante da evolução da demanda e oferta e, com isso, precificaram contratos futuros mais altos. Com o passar dos meses, a pequena diferença entre a capacidade de produzir e ofertar foi se materializando nos relatórios, e o preço à vista passou a refletir essa realidade. E o processo foi se realimentando. Desde então, são seis anos ininterruptos de crescimento do preço médio do barril tipo Brent. É claro que a demanda está pressionando os preços, mas também é verdade que, existe o componente de especulação, que contribui para pressionar o preço do produto no mercado à vista. Boa parte dos dólares retirados de ativos com rendimentos menores, como títulos de dívida do governo americano, passaram a procurar, mais recentemente, o retorno propiciado pelo petróleo, ouro, ações e demais ativos.
Assim, chegamos a 2007 com estatísticas que comprovam o temor dos investidores com a estreita relação entre oferta e demanda. De acordo com dados da International Energy Agency, a demanda mundial de petróleo no ano passado situou-se em 85,9 milhões de barris/dia, contra uma oferta de 85,6, diferença esta que, segundo previsões, deve perdurar durante o ano de 2008 e, com isso, impactar os estoques. Ressalta-se que, em 2005, a demanda mundial, de 83,7 milhões de barris/dia, era menor que a oferta de 84,4. Ou seja, havia uma relativa folga de cerca de 0,7 milhões de barris/dia que foi paulatinamente sendo engolida pelo crescimento mundial mais rápido que a oferta.
Ressalta-se que, entre 2005 e 2007, os países da OCDE chegaram, inclusive, a reduzir em 0,4 milhões de barris/dia a demanda. Por outro lado, os demais países, onde se incluem muitos dos emergentes, como Brasil, China e Índia, aumentaram sua demanda em 2,7 milhões de barris/dia. Porém, tal expansão não foi suficiente para evitar o desequilíbrio no mercado. Além disso, esse cenário é agravado pelo fato de os estudos revelarem que o crescimento da economia que ocorre em países mais pobres é relativamente mais intensivo em demanda por petróleo e com consumo menos eficiente do que o verificado nos países desenvolvidos. Em outras palavras, se fosse os países mais desenvolvidos a crescerem de forma acentuada, e não os emergentes, talvez o consumo de petróleo seria mais eficiente, representando menores pressões nos preços.
Outro fator de destaque é a redução dos estoques nos EUA, que se encontram na menor média histórica desde 2004. Porém, apesar da estreita relação entre oferta e demanda por petróleo no cenário mundial, a desaceleração da economia americana deve ser um importante limitador para a evolução do preço no futuro. Mas, tudo indica que esse impacto deva ocorrer apenas em 2009.
E no Brasil, o que podemos esperar? A despeito da valorização da taxa de câmbio, os dados mostram que existe uma grande defasagem de preço praticado nos derivados de petróleo no cenário internacional, vis-a-vis o verificado no mercado interno. De acordo com dados da ANP – Agência Nacional do Petróleo, e da IEA, a defasagem varia de cerca de 10% no caso da gasolina a 16% no caso do diesel. Se, e quando, o reajuste do preço dos derivados irá ocorrer no Brasil, é difícil dizer, pois parece que essa variável adquiriu componentes políticos mais fortes.


Publicado no Informe Econômico de 24/03/2008

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