Diante de diversas notícias ruins no cenário
internacional, em especial aquelas relacionadas e derivadas dos problemas do
mercado de crédito subprime nos EUA,
parece que a cotação do petróleo acima de US$ 100 o barril tornou-se apenas
mais uma a piorar as avaliações e perspectivas dos economistas para o ano de
2008. Porém, muito mais do que uma simples contribuição, o petróleo e, de forma
mais abrangente, o tema energia, deve vir a ser o grande desafio dos governos,
empresas e consumidores nas próximas décadas. Juntamente com o rápido
crescimento mundial, o custo da energia deve aumentar, gerando mais tensões no
campo político e econômico.
No caso do mercado de petróleo, há um interessante
jogo de forças que faz com que a cotação chegue a esse nível e apresente
características de formação de uma bolha. Porém, nada garante que essa bolha
estoure no curto prazo, em especial quando se analisa os componentes de
formação do preço internacional. Vamos voltar ao ano de 2003, quando a cotação
média do barril tipo Brent ainda estava em US$ 29. Aos olhos de hoje, diversos
fatores corroboram com a tese de que esse nível de preços não era sustentável.
Em destaque o forte crescimento econômico mundial que recém havia entrado em um
ciclo que se estenderia por mais anos; os investimentos na produção, que não
ocorriam na mesma velocidade que a expansão da demanda; e, as dificuldades
encontradas com alguns importantes produtores, em especial no Iraque e na
Nigéria.
Antecipando-se a esse cenário, as cotações no mercado
futuro começaram a apontar tendência de alta, e constituiu-se em um importante
fator na formação da cotação à vista. Diversos trabalhos acadêmicos em
finanças, com o uso de dados reais, mostram a existência de causalidade entre
as cotações de ativos no mercado futuro e à vista. Ou seja, preços
persistentemente altos no mercado à vista, contribuem para mudar a perspectiva
dos investidores, hoje, sobre o futuro da cotação e, por outro lado, uma
persistente aposta de que o preço no futuro será maior, tem como resultado, a
materialização, no presente, de maior cotação. Exatamente isso ocorreu no
mercado de petróleo, bem como posteriormente, no preço de outros ativos
classificados como commodities.
Em um processo de realimentação, os investidores
acreditavam que o preço estava baixo, diante da evolução da demanda e oferta e,
com isso, precificaram contratos futuros mais altos. Com o passar dos meses, a
pequena diferença entre a capacidade de produzir e ofertar foi se
materializando nos relatórios, e o preço à vista passou a refletir essa
realidade. E o processo foi se realimentando. Desde então, são seis anos
ininterruptos de crescimento do preço médio do barril tipo Brent. É claro que a
demanda está pressionando os preços, mas também é verdade que, existe o
componente de especulação, que contribui para pressionar o preço do produto no
mercado à vista. Boa parte dos dólares retirados de ativos com rendimentos
menores, como títulos de dívida do governo americano, passaram a procurar, mais
recentemente, o retorno propiciado pelo petróleo, ouro, ações e demais ativos.
Assim, chegamos a 2007 com estatísticas que comprovam
o temor dos investidores com a estreita relação entre oferta e demanda. De
acordo com dados da International Energy
Agency, a demanda mundial de petróleo no ano passado situou-se em 85,9
milhões de barris/dia, contra uma oferta de 85,6, diferença esta que, segundo
previsões, deve perdurar durante o ano de 2008 e, com isso, impactar os
estoques. Ressalta-se que, em 2005, a demanda mundial, de 83,7 milhões de
barris/dia, era menor que a oferta de 84,4. Ou seja, havia uma relativa folga
de cerca de 0,7 milhões de barris/dia que foi paulatinamente sendo engolida
pelo crescimento mundial mais rápido que a oferta.
Ressalta-se que, entre 2005 e 2007, os países da OCDE
chegaram, inclusive, a reduzir em 0,4 milhões de barris/dia a demanda. Por
outro lado, os demais países, onde se incluem muitos dos emergentes, como
Brasil, China e Índia, aumentaram sua demanda em 2,7 milhões de barris/dia.
Porém, tal expansão não foi suficiente para evitar o desequilíbrio no mercado.
Além disso, esse cenário é agravado pelo fato de os estudos revelarem que o
crescimento da economia que ocorre em países mais pobres é relativamente mais
intensivo em demanda por petróleo e com consumo menos eficiente do que o
verificado nos países desenvolvidos. Em outras palavras, se fosse os países
mais desenvolvidos a crescerem de forma acentuada, e não os emergentes, talvez
o consumo de petróleo seria mais eficiente, representando menores pressões nos
preços.
Outro fator de destaque é a redução dos estoques nos
EUA, que se encontram na menor média histórica desde 2004. Porém, apesar da
estreita relação entre oferta e demanda por petróleo no cenário mundial, a
desaceleração da economia americana deve ser um importante limitador para a
evolução do preço no futuro. Mas, tudo indica que esse impacto deva ocorrer
apenas em 2009.
E
no Brasil, o que podemos esperar? A despeito da valorização da taxa de câmbio,
os dados mostram que existe uma grande defasagem de preço praticado nos
derivados de petróleo no cenário internacional, vis-a-vis o verificado no
mercado interno. De acordo com dados da ANP – Agência Nacional do Petróleo, e
da IEA, a defasagem varia de cerca de 10% no caso da gasolina a 16% no caso do
diesel. Se, e quando, o reajuste do preço dos derivados irá ocorrer no Brasil,
é difícil dizer, pois parece que essa variável adquiriu componentes políticos
mais fortes.
Publicado no Informe Econômico de 24/03/2008
Nenhum comentário:
Postar um comentário