Não é novidade, para quem acompanha a economia do Rio
Grande do Sul, escutar que a atividade exportadora desempenha papel de destaque
na criação de empregos, renda e impulsiona a cadeia produtiva com impactos
sobre a geração de impostos no Estado. São quase 3.000 produtos destinados ao
exterior, a partir de 2.785 empresas, das quais 535 de grande porte e 755 de
médio porte, e que obtiveram receitas com essas transações da ordem de US$ 15
bilhões no ano passado. Desse total, US$ 1,6 bilhão apenas com os embarques de
grão de soja.
Porém,
desde o início do processo de valorização da taxa de câmbio em 2003, o
faturamento em reais obtido pelos exportadores está aquém de sua capacidade de
gerar receitas em dólares. Mas, em que medida esse cenário tem prejudicado
essas empresas, em especial as indústrias? Será que o crescimento do valor
exportado encontra respaldo nos indicadores de desempenho daquelas que
realmente estão nessa atividade? E o emprego, como tem reagido quando
comparamos essas com aqueles cuja receita está voltada preferencialmente para o
mercado interno?
Até o
presente momento, falar de exportações no Rio Grande do Sul representava uma
discussão sobre valores, destino e tipos de produtos, não sendo possível fazer
inferência sobre a saúde econômica das empresas que exercem essa atividade.
Porém, a partir desse mês, a FIERGS irá divulgar, junto com os dados do IDI,
que retratam a atividade industrial total, uma segmentação que possa
representar o desempenho das indústrias que são mais intensivas na atividade de
exportação. Nesse grupo, foram
selecionadas mais de 120 indústrias cujo impacto das vendas externas, sobre seu
faturamento total, ultrapassa os 20%. Dessa forma, será possível comparar
variáveis como emprego, salários e faturamento entre os diferentes grupos de
indústrias, ou seja, entre aquelas que sentem de forma mais contundente os
impactos da relação com o mercado internacional com as que atuam de forma mais
acentuada no cenário interno.
Indubitavelmente,
era de se esperar que a dinâmica das indústrias exportadoras fosse ditada, em
grande parte, pelo comportamento de uma variável importante como a taxa de
câmbio. De fato, a análise retrospectiva não deixa dúvidas de que, desde o
início da década de 1990, a atividade dessas indústrias acompanha de perto a
evolução cambial. Da mesma forma que os primeiros anos do Plano Real
representaram um entrave para a evolução do comércio exterior do Brasil e,
também do Rio Grande do Sul, o mesmo pode-se dizer da mudança de uma taxa de
câmbio administrada, para flutuante em 1999. Muito mais do que ser entendida
como um movimento de desvalorização da moeda nacional, a ação representou uma
nova forma de se atuar no mercado de câmbio.
Em um
primeiro momento, tanto o mercado financeiro quanto as empresas, encontraram
dificuldades em se adaptar a um cenário de incerteza na cotação. A procura pela
chamada “taxa de câmbio de equilíbrio” levou a movimentos bruscos na moeda, com
impactos significativos na estrutura produtiva nacional. No Rio Grande do Sul
não foi diferente. De 1999 a 2002, as indústrias exportadoras aumentaram seu
faturamento em 40%, contra uma evolução de apenas 18% da média da indústria.
Esse cenário estava em linha com a estrutura de crescimento da economia brasileira
naquele período, cujo setor externo era o principal vetor de dinâmica do País.
Os
impactos sobre o mercado de trabalho no Estado foram nítidos. Os empregos
expandiram-se em 19% nas indústrias mais voltadas ao mercado externo, acima da
expansão de 11% da média. É difícil dizer quantos dos 102 mil empregos criados
na indústria gaúcha entre 1999 a 2002 devem-se às contratações para atender a
uma maior demanda por exportações. Mas, certamente, a contribuição para esse
desempenho foi ímpar na história econômica do Rio Grande do Sul. Se o ano de
2002 pode ser citado como o pico de faturamento das indústrias exportadoras,
2004 pode ser lembrado como o melhor momento no nível de emprego para elas.
Porém,
desde então, diversas intempéries econômicas, como a rápida e intensa
valorização da taxa de câmbio, as dificuldades na obtenção de créditos de
exportação, que criou insegurança nos contratos e a elevação dos custos de
comercialização, atingiram o segmento. Em quatro anos, a despeito da expansão
das exportações quando medidas em dólares, o faturamento das mais intensivas em
exportação recuou em 31% e, ao final de 2006, encontrava-se no mesmo patamar de
1996.
Os números levantados nessa nova pesquisa
retratam uma realidade já conhecida, o fato de que dentre todos os fatores a
determinar o desempenho do comércio exterior da indústria do Rio Grande do Sul,
o câmbio é, sem dúvida, o mais importante. Porém, não podemos negligenciar
outros aspectos que também são determinantes desse resultado, como a insegurança
no cumprimento de regras tributárias, a burocracia e os elevados custos de
comercialização. Mudar o cenário conjuntural, também demanda que se tenha um
projeto estrutural de longo prazo pró-exportação de abrangência nacional.
Publicado no Informe Econômico de 17/03/2008
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