A economia brasileira conseguiu aproveitar–se do
cenário internacional positivo dos últimos anos, com os fundamentos atestando
esse movimento de mudança nos indicadores macroeconômicos. Apesar disso, a
única medida tomada foi a de não implementar o que se defendia em campanha.
Porém, a liquidez de capitais e o apetite pelo risco foram tão elevados nesse
período que até países em situação de default
recente, conseguiram captar recursos. Assim, de alguma forma, os
investidores fecharam os olhos para o fato do Brasil não ter completado algumas
reformas estruturais importantes e, nem sequer, iniciado outras e apostaram na
economia do País.
No início desse ciclo de prosperidade, a demanda
externa era a maior responsável pelo nosso desempenho. Em 2003, a expansão do
PIB foi de 1,16%, com uma contribuição negativa por parte da demanda interna em
-0,99 p.p. A compensação por essa retração veio com a melhor demanda externa,
que teve contribuição de 2,15 p.p. Reflexo dos bons resultados das exportações,
e um movimento ainda pequeno nas importações. Porém, na medida que as condições
internas foram ficando mais favoráveis, essa composição foi se modificando e,
em 2004, a demanda interna já era responsável pela maior contribuição para o
PIB, a despeito da ainda positiva contribuição do setor externo.
Ressalta-se que a queda continuada da
taxa de juros, juntamente com a melhora nas condições de crédito, foram
elementos determinantes para alavancar a demanda interna. Adiciona-se a esse
cenário, o bom momento vivido pelo mercado de trabalho, com a expansão dos
empregos e do salário real e a valorização do câmbio, que pressionou para baixo
o preço dos produtos importados. Consolidou-se, então, as condições para um
maior consumo das famílias. Ressalta-se que esse se tornou o principal vetor do
crescimento interno e, as projeções indicam que, em 2007 devem ter uma expansão
de 5,8%, a maior desde a implementação do Plano Real.
Para completar esse quadro, vale
destacar os maiores gastos públicos, que cresceram nos últimos anos a uma
velocidade maior que a arrecadação de impostos, a ponto de ter se constituído em
uma pedra no sapato da política econômica. Hoje a taxa de juros só não é menor
por conta dos maiores gastos públicos.
Tanto o maior consumo das famílias,
quanto do governo, estão pressionando a demanda interna e contribuindo para a
redução do gap do produto, ou seja, a
distância entre o produto potencial e efetivo. A boa notícia é que a Formação
Bruta de Capital Fixo, os investimentos, também estão se expandindo. Na esteira
de taxas de juros menores, os investimentos devem crescer cerca de 10% em 2007,
o maior avanço em um único ano desde o controle inflacionário. A absorção de
bens de capital no mercado doméstico bateu recorde nesse ano, sinalizando que
está ocorrendo um elevado nível de investimento no País. Os indicadores revelam
a coordenação de um forte movimento de importação de máquinas e equipamentos
com a expansão da produção interna de bens de capital. Tal cenário sinaliza
melhores níveis de investimento no ano da mesma forma que deve resultar em uma
melhor composição da estrutura produtiva setorial no futuro. Elemento
importante, em um ambiente de câmbio valorizado, para gerar fôlego para uma
maior competição, tanto no mercado interno quanto no mercado externo.
Apesar disso, a taxa de investimento
sobre o PIB ainda estará aquém da necessária para garantir a sustentabilidade
do crescimento da economia brasileira no patamar de 5% no médio prazo. Da mesma
maneira que o País apresenta uma relação investimento/PIB bem menor do que a
verificada em outros países. Dessa forma, aumentar essa relação constitui em um
dos maiores desafios para a economia brasileira nos próximos anos, e a ausência
de reformas importantes, como a tributária, trabalhista e previdenciária,
reduzem as chances de se alcançar esse objetivo.
O cenário que
se coloca para a economia brasileira no ano de 2008 deve permanecer positivo.
Apesar das pressões inflacionárias advindas de um preço do petróleo mais
elevado e de não se configurar no horizonte uma interrupção na tendência de
aumento no valor das diversas commodities metálicas e de alimentos, o peso da
balança pendeu mais para os riscos de recessão do que de inflação nas economias
desenvolvidas. Em especial, depois dos impactos financeiros do mercado subprime. Apesar disso, as sinalizações
são de que a economia mundial caminha para o sexto ano consecutivo de
crescimento acentuado. E as projeções feitas para o Brasil nesse ambiente,
permanecem positivas, e são potencializadas pelo fato de adentrarmos no ano de
2008 com indicadores macroeconômicos saudáveis.
Porém,
nunca é cedo demais para lembrar que os investidores ainda avaliam o Brasil
como um País que oferece riscos no médio e longo prazo. E não é por ter menor
dependência de capitais externos, boas reservas de petróleo, potencial no
mercado de biocombustível e a perspectiva de atingir o grau de investimento em
2008, que estaremos imunes a mudanças no ambiente financeiro. Se houver maior
aversão ao risco, o País será alvo de discussões. E seria como se nos
dissessem: “eu sei o que vocês não fizeram no ano passado”.
Publicado no Informe Econômico/FIERGS
10/12/2007
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