Freqüentemente
escutarmos frases como: “devemos incentivar a produção e exportação de produtos
com maior valor adicionado”. Mas, o que é valor adicionado? De acordo com a
literatura econômica, o termo representa a diferença entre o valor de produção
final e o consumo intermediário. Em outras palavras, uma empresa compra
insumos, processa os mesmos, e depois vende. O valor adicionado está
relacionado ao item “processa”. Ou seja, deve eliminar os efeitos do custo dos
insumos, no início da cadeia.
Visto de outra
forma, o valor adicionado representa o pagamento de salários, as contribuições
sociais como FGTS, previdência social e privada e também a remuneração do
capital investido na forma de juros, lucros e aluguéis, o chamado excedente
operacional bruto (EOB). Ou seja, aumentar salários ou então o lucro é o que
chamamos de adicionar valor ao produto. Uma marca de produto que se tornou
famosa pode adicionar valor. Porém, com o maior lucro obtido pelo preço mais
elevado. Mas, se os ganhos com o maior preço ficarem na etapa de
comercialização, não será a empresa que produziu a perceber esse maior valor
adicionado, e sim a que comercializou.
Da mesma forma
podemos dizer que se uma empresa investir na aquisição de uma máquina mais
moderna para produzir o mesmo produto, porém resultando em economia de
mão-de-obra, pode estar, na verdade, reduzindo a participação do valor
adicionado no produto final (se a parcela do lucro ficar constante). Mas não
conclua que investir em máquinas mais modernas é pior para uma economia. Muito
pelo contrário, irá resultar em aumento de produtividade, uma condição
necessária para a sua sobrevivência no mercado e essencial para o crescimento
de longo prazo de um país.
Vejamos o
exemplo do Japão e a Coréia do Sul. A política comercial desses países durante
muitos anos era importar insumos, pagar os trabalhadores e demais custos
relacionados à mão-de-obra dentro do território nacional, acrescentar o EOB e,
depois, exportar o produto final. Ou seja, a idéia de construir uma plataforma
de exportação passa pela percepção de que fica o valor adicionado no país sob a
forma de salários e outros tipos de rendimentos, como o lucro. Posteriormente,
esses recursos irão compor o mercado consumidor interno, produzindo efeitos
multiplicadores sobre toda a economia. Note que a substituição de trabalhadores
por máquina nos últimos anos não teve como resultado o empobrecimento desses
países.
O mesmo
raciocínio deveria ser aplicado sobre as políticas de incentivo ao crescimento
em determinadas regiões, estados ou municípios mais pobres e que não são
capazes de dar suporte para o estabelecimento de uma empresa de alta
tecnologia. Nesse caso, a saída é atrair os setores que mais adicionam valor.
Ou seja, aqueles que irão pagar maiores remunerações sob a forma de salários e
também rendimentos, como o lucro do empreendimento.
Por exemplo, a
indústria de extração de petróleo e gás, reconhecida pelos elevados
investimentos em máquinas e equipamentos, dá a impressão de ser muito
importante para uma região. De fato, do ponto de vista fiscal resulta na
transferência de royalties para as
prefeituras e o estado, mas, dependendo do ponto de vista, talvez não seja tão
importante quanto a indústria de calçados. A última estatística aberta sobre o
valor adicionado para o Brasil, a matriz insumo-produto de 1996, mostra que a
indústria de extração de petróleo e gás adiciona o dobro de valor que a
indústria de calçados. Mas, por outro lado, as remunerações pagas sob a forma
de salários e contribuições sociais na indústria de calçados, era o dobro do
total pago no setor de extração de petróleo e gás. A diferença está centrada no
EOB (lucro, juros e aluguéis), quatro vezes maior na indústria de extração de
petróleo e gás. Dito de outra maneira, 50% do valor da produção da indústria de
extração de petróleo e gás representam o EOB, que contém o lucro. Ao passo que
essa relação cai para 14,7% na indústria de calçados. Já as remunerações, pagas
sobre a forma de salários e contribuições sociais estão em 18% do valor da
produção na indústria de calçados, e apenas 9% na indústria de extração de
petróleo e gás.
Esse exemplo
mostra como as diferentes estruturas de composição entre capital e trabalho e
também de mercado, como monopólio e concorrência, podem gerar resultados
distintos na composição do valor adicionado entre os setores.
Portanto, é
importante ter em mente que a diferença na composição do valor adicionado
produz impactos diversos sobre a economia. Podemos defender um setor que apenas
gera EOB no valor adicionado e que, portanto, esses recursos não
necessariamente ficam circulando na região. Ou então a defesa de um maior
“valor adicionado” pode ser entendida como a inclinação para os setores que
pagam mais salários.
De qualquer
maneira, é importante separar a idéia de incentivar a exportação ou produção
daqueles setores que mais adicionam valor daqueles que mais agregam tecnologia.
Como colocado por um dos maiores economistas contemporâneos, Paul Krugman, em
uma análise dos dados dos EUA, a batatinha frita adiciona mais valor que um chip de computador.
Publicado no Informe Econômico/FIERGS
26/03/2007
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