terça-feira, 29 de julho de 2014

VOCÊ SABE O QUE É VALOR ADICIONADO?

Freqüentemente escutarmos frases como: “devemos incentivar a produção e exportação de produtos com maior valor adicionado”. Mas, o que é valor adicionado? De acordo com a literatura econômica, o termo representa a diferença entre o valor de produção final e o consumo intermediário. Em outras palavras, uma empresa compra insumos, processa os mesmos, e depois vende. O valor adicionado está relacionado ao item “processa”. Ou seja, deve eliminar os efeitos do custo dos insumos, no início da cadeia.
Visto de outra forma, o valor adicionado representa o pagamento de salários, as contribuições sociais como FGTS, previdência social e privada e também a remuneração do capital investido na forma de juros, lucros e aluguéis, o chamado excedente operacional bruto (EOB). Ou seja, aumentar salários ou então o lucro é o que chamamos de adicionar valor ao produto. Uma marca de produto que se tornou famosa pode adicionar valor. Porém, com o maior lucro obtido pelo preço mais elevado. Mas, se os ganhos com o maior preço ficarem na etapa de comercialização, não será a empresa que produziu a perceber esse maior valor adicionado, e sim a que comercializou.

Da mesma forma podemos dizer que se uma empresa investir na aquisição de uma máquina mais moderna para produzir o mesmo produto, porém resultando em economia de mão-de-obra, pode estar, na verdade, reduzindo a participação do valor adicionado no produto final (se a parcela do lucro ficar constante). Mas não conclua que investir em máquinas mais modernas é pior para uma economia. Muito pelo contrário, irá resultar em aumento de produtividade, uma condição necessária para a sua sobrevivência no mercado e essencial para o crescimento de longo prazo de um país.
Vejamos o exemplo do Japão e a Coréia do Sul. A política comercial desses países durante muitos anos era importar insumos, pagar os trabalhadores e demais custos relacionados à mão-de-obra dentro do território nacional, acrescentar o EOB e, depois, exportar o produto final. Ou seja, a idéia de construir uma plataforma de exportação passa pela percepção de que fica o valor adicionado no país sob a forma de salários e outros tipos de rendimentos, como o lucro. Posteriormente, esses recursos irão compor o mercado consumidor interno, produzindo efeitos multiplicadores sobre toda a economia. Note que a substituição de trabalhadores por máquina nos últimos anos não teve como resultado o empobrecimento desses países.
O mesmo raciocínio deveria ser aplicado sobre as políticas de incentivo ao crescimento em determinadas regiões, estados ou municípios mais pobres e que não são capazes de dar suporte para o estabelecimento de uma empresa de alta tecnologia. Nesse caso, a saída é atrair os setores que mais adicionam valor. Ou seja, aqueles que irão pagar maiores remunerações sob a forma de salários e também rendimentos, como o lucro do empreendimento.
Por exemplo, a indústria de extração de petróleo e gás, reconhecida pelos elevados investimentos em máquinas e equipamentos, dá a impressão de ser muito importante para uma região. De fato, do ponto de vista fiscal resulta na transferência de royalties para as prefeituras e o estado, mas, dependendo do ponto de vista, talvez não seja tão importante quanto a indústria de calçados. A última estatística aberta sobre o valor adicionado para o Brasil, a matriz insumo-produto de 1996, mostra que a indústria de extração de petróleo e gás adiciona o dobro de valor que a indústria de calçados. Mas, por outro lado, as remunerações pagas sob a forma de salários e contribuições sociais na indústria de calçados, era o dobro do total pago no setor de extração de petróleo e gás. A diferença está centrada no EOB (lucro, juros e aluguéis), quatro vezes maior na indústria de extração de petróleo e gás. Dito de outra maneira, 50% do valor da produção da indústria de extração de petróleo e gás representam o EOB, que contém o lucro. Ao passo que essa relação cai para 14,7% na indústria de calçados. Já as remunerações, pagas sobre a forma de salários e contribuições sociais estão em 18% do valor da produção na indústria de calçados, e apenas 9% na indústria de extração de petróleo e gás.
Esse exemplo mostra como as diferentes estruturas de composição entre capital e trabalho e também de mercado, como monopólio e concorrência, podem gerar resultados distintos na composição do valor adicionado entre os setores.
Portanto, é importante ter em mente que a diferença na composição do valor adicionado produz impactos diversos sobre a economia. Podemos defender um setor que apenas gera EOB no valor adicionado e que, portanto, esses recursos não necessariamente ficam circulando na região. Ou então a defesa de um maior “valor adicionado” pode ser entendida como a inclinação para os setores que pagam mais salários.
De qualquer maneira, é importante separar a idéia de incentivar a exportação ou produção daqueles setores que mais adicionam valor daqueles que mais agregam tecnologia. Como colocado por um dos maiores economistas contemporâneos, Paul Krugman, em uma análise dos dados dos EUA, a batatinha frita adiciona mais valor que um chip de computador.


Publicado no Informe Econômico/FIERGS 26/03/2007

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