O cenário econômico conjuntural sofreu pequenas
modificações após as turbulências do mercado de crédito subprime nos EUA. Os países emergentes permanecem com a maior
contribuição para o crescimento mundial, com China, Índia e Rússia respondendo
por cerca da metade desse desempenho. A inflação ainda apresenta uma fonte de
risco, porém, se por um lado o núcleo da inflação permanece moderado nas
economias desenvolvidas, o mesmo não se pode dizer dos resultados para os
índices de preços nos mercados emergentes, que sentem a elevação dos preços dos
alimentos. Nesse caso, temos tanto choques de demanda, em especial devido ao
maior consumo de milho para a produção de biocombustível, quanto choques de
oferta, com as dificuldades climáticas em determinadas regiões. Acrescenta-se
também o fato de que o gap do produto (a diferença entre a produção potencial e
a realizada) está pequeno, e com tendência a diminuir. Tal resultado sinaliza
que a economia mundial apresenta uma expansão da demanda que não está sendo
correspondida na mesma medida pela oferta.
De
qualquer maneira, a balança da política monetária pesou mais para os riscos de
desaquecimento econômico, e mesmo diante de uma volatilidade ainda elevada no
preço do petróleo e dos problemas nos mercado de crédito, o Federal Reserve
promoveu um aumento de liquidez na economia americana. Esses eventos recentes
apenas contribuíram para reforçar a tendência de perda de valor do dólar frente
as principais moedas no mundo. Ressalta-se que tal comportamento é o resultado
não apenas da existência de um déficit em conta corrente ainda elevado nos EUA,
da ordem de 6% do PIB, mas também da projeção de menor crescimento econômico
para o biênio 2007/2008. Ressalta-se que as expectativas são de uma correção
lenta e gradual do déficit em conta corrente até o ano de 2012. Porém, uma
condição necessária para a consolidação desse ajuste é a manutenção de um dólar
mais fraco.
Nos
mercados emergentes, a crise do subprime
representou uma espécie de “soluço” nos indicadores de mercado. Depois dos
ajustes de curto prazo, os spreads
dos títulos soberanos e de empresas voltaram a cair, as taxas de juros
sinalizam continuidade na tendência de queda, em especial na América Latina e o
crédito privado permanece com taxas de expansão de dois dígitos.
Apesar dos
riscos de crescimento ainda existentes, a revisão das projeções feitas pelo
IMF(2007) indicam que a economia mundial caminha para o sexto ano consecutivo
de forte desempenho. Em todo caso, esse resultado deve ser um pouco menor do
que o projetado antes da assinalada crise no mercado de crédito. Assim, as
expectativas são de crescimento do PIB de cerca de 5,2% em 2007 e 4,8% em 2008.
Os principais motivos apontados no estudo para a revisão para baixo, estão nos
EUA e nos países que mais sentiram os efeitos da piora financeira no mercado de
crédito, como Canadá, México e parte da Ásia emergente. No primeiro caso, de
uma expectativa no início do ano de crescimento da ordem de 2% do PIB, agora
espera-se que a economia americana tenha resultado próximo a 1,9%. As projeções
também assinalam que tanto a Europa quanto o Japão devem sentir os efeitos da
apreciação do Euro e do Yen, da mesma forma que a redução do comércio mundial,
e a expectativa é a de que a região do Euro cresça cerca de 2,5% em 2007 e o
Japão 2%.
Mas, os
maiores impactos parecem estar mesmo reservados para o ano de 2008. Se por um
lado a crise do subprime não foi o
suficiente para descarrilar o crescimento mundial, por outro representou um
duro golpe para a economia americana. As revisões do FMI colocam um desempenho
de 1,9% para 2008 nos EUA, resultado que é 1 ponto percentual menor do que a
expectativa anterior. Ressalta-se que essa projeção já embute mais um corte de
0,5 p.p. na taxa básica de juros dos EUA em 2007, atualmente os fed funds estão em 4,75%. A previsão do
PIB para 2008 para a região do Euro (+2,1%), para o Japão (+1,7%), também foram
revistas para baixo. Com isso, espera-se que as economias desenvolvidas cresçam
em torno de 2,2% no próximo ano.
Por outro
lado, esse menor crescimento deve ser compensado pela boa performance dos
países emergentes, cuja expectativa é de expansão da ordem de 7,4% do PIB.
China (+10%), Índia (+8,4%) e Rússia (+6,5%), devem ser os personagens mais
importantes nesse cenário. Ressalta-se que a intensificação do comércio internacional
tem sido a grande responsável pelo atual ciclo. Para 2008, os países emergentes
devem aumentar em cerca de 9% o volume de suas exportações, ao passo que as
importações devem crescer 11,3%.
Mesmo com
a revisão para baixo das perspectivas de 2007 e 2008 e dos riscos ainda
presentes, em especial nos índices de preços, a economia internacional caminha
para completar um ciclo de seis anos de crescimento. Nesse cenário, as
projeções feitas são de que o Brasil continue e ter um desempenho abaixo da média
mundial. Nunca na história desse país ventos tão favoráveis foram tão pouco
aproveitados.
IMF – Global Prospects and Policies, WEO, October, 2007.
Publicado no Informe Econômico/FIERGS 22/10/2007
Nenhum comentário:
Postar um comentário