O ano de 2006
foi mais um ano positivo em termos de crescimento mundial, sendo sua
performance mais uma vez desenhada pelo bom desempenho das economias americana,
chinesa e japonesa. A Europa também apresentou taxas de crescimento elevadas,
registrando os melhores resultados dos anos recentes. Nem mesmo os aumentos
insistentes do preço do petróleo nos primeiros sete meses do ano e o aumento
das taxas de juros internacionais foram suficientes para frear o crescimento da
economia mundial que termina o ano com uma expectativa de expansão do PIB de
5,1%. A única notícia ruim são as
pressões inflacionárias existentes nas principais áreas econômicas do mundo
(EUA, Europa e Japão) que colocam novamente sobre a dependência da dinâmica do
preço do petróleo a possibilidade de ajustamentos via novos aumentos das taxas
de juros.
Os países
emergentes também se saíram bem em 2006, com um crescimento de 7,3%. Nesse
cenário de renda mundial em expansão, e, portanto, de boas oportunidades, 2006
foi um tanto frustrante para os brasileiros, e especialmente para os gaúchos. A
economia brasileira, depois do soluço de crescimento no primeiro trimestre,
fortemente alicerçado no ajustamento de estoques, entrou numa trajetória de
estagnação explicada em parte pela combinação de câmbio valorizado e taxa de
juros alta, mas estruturalmente justificada pela ausência de reformas que
aprisionam o país num círculo de crescimento médio de 3,5%. Em 2006, apesar dos
resultados fartos da arrecadação federal, o governo perdeu uma boa oportunidade de ajustamento das contas
públicas e, com isso, novamente adiou-se investimentos importantes de
infra-estrutura, fundamentais para possibilitar que se o país tiver fôlego para
crescer 5% ao ano (o número mágico do governo), consiga de fato crescer 5% ao
ano.
Para a economia
gaúcha, o resultados foram estatisticamente positivos, em virtude de estarem
fortemente apoiados sobre bases de comparação muito baixas, frutos de um ano de
2005 marcado pela seca, pela restrição de créditos de ICMS, pelo aumento das
alíquotas e pela intensificação do forte processo de valorização cambial. Em
termos setoriais, a agropecuária gaúcha apresentou uma melhora intensa em 2006,
especialmente justificada pelo desempenho das lavouras. A safra de soja
aumentou 236,78% e a de milho, 261,17%. Apesar da soja não alcançar os
resultados aferidos em 2003, o resultado de 8,2 milhões de toneladas pode ser
considerado bastante positivo. Mesmo a queda de 18% no preço médio da safra
associada à valorização cambial, o produtor iniciará 2007 numa situação
diferente da 2006. Apesar de ainda endividado em virtude da seca 2004/2005, o
produtor conta com produto para a venda, algo fundamental para a dinâmica da
economia gaúcha em 2007. No caso do milho, o aumento da safra foi de 261,17%,
levando a safra a atingir a marca de 5,3 milhões de toneladas, marca superior à
verificada em 2003. Entretanto, a queda do preço médio foi acentuado, cerca de
32,4%. As demais culturas apresentaram ligeiro aumento, à exceção do trigo que
apresentou uma redução de 56,29% e do arroz com uma diminuição marginal de
0,24%. O caso trigo é apontado pelo IBGE como um problema nacional. As causas
assinaladas para a redução da safra são a queda no total das áreas plantadas em
todos os estados produtores, o preço baixo do produto no mercado interno e as
dificuldades de comercialização enfrentadas nas últimas safras. O IBGE também
destaca a descapitalização dos produtores, aliada à inadimplência e a
conseqüente restrição ao crédito, que resultaram numa implantação da safra com
baixo nível tecnológico. Para 2007, as expectativas são de que a safra gaúcha
sofra uma redução marginal comparada com a de 2006, porém não há perspectivas
de recuperação para a safra de trigo.
A indústria
gaúcha também patinou em 2006. O IDI alcançou a marca de 19 meses no negativo ,
vindo a reverter as taxas de crescimento mês contra mesmo mês do ano anterior
apenas em outubro. O ano foi marcado pela gripe aviária que prejudicou os
resultados da indústria alimentícia, pela crise da agricultura em 2004/2005 que
manteve seus efeitos sobre máquinas e equipamentos e pelo câmbio que prejudicou
o desempenho do setor coureiro-calçadista que, por sua vez, só conheceu aumento
nas exportações em virtude de aumento de preços. Na indústria, a destruição de empregos
foi de 10 mil postos em 2006, comparado-se
com o estoque no período de janeiro a setembro de 2005. Porém, as
perspectivas para 2007 são de consolidação do processo de reversão da crise
vivenciada nos dois últimos anos.
O comércio no
Rio Grande do Sul apresentou um desempenho razoável em 2006, segundo dados da
FEE, vindo a reverter seu processo de queda já em meados no ano. Os resultados
estão fortemente alicerçados no fato de que a crise vivenciada pela indústria
esteve muito vinculada ao setor exportador. As melhorias relacionadas à renda
real dos trabalhadores e a criação líquida de empregos na economia (no todo) também
amenizaram os efeitos sobre o setor.
Enfim, o Brasil e o Rio Grande
do Sul não viverão um “tão feliz Natal” como se esperava no início do ano,
porém talvez esse fim de dezembro seja o anúncio do início de um Ano Novo
melhor que 2006.
Publicado no Informe Econômico/FIERGS
18/12/2006
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