segunda-feira, 28 de julho de 2014

DESIGUALDADES REGIONAIS AINDA DEVEM PERDURAR NO PAÍS

A recente pesquisa do IBGE sobre as características sociodemográficas no Brasil, revelou aspectos importantes do que esperar em 20 anos. Em especial, a estrutura etária deve sofrer modificações, consolidando um processo que se iniciou em meados da década de 1980, com a redução da taxa de fecundidade e de mortalidade e uma maior expectativa de vida. Com isso, as projeções são de que o país deixe, aos poucos, de ser caracterizado como jovem, e passe a ter uma maior parcela da população adulta e idosa. Além disso, apesar da melhora de diversos indicadores, ainda devem persistir as desigualdades regionais.
Para se ter uma ideia de como esse processo avança, entre 1991 e o ano 2000, enquanto a população com idade entre 0 e 14 anos teve taxa de crescimento médio do Brasil de -0,16%, a parcela com idade acima de 65 anos aumentou 3,86%. Regionalmente, esse resultado se mostrou bastante distinto, com o sudeste, sul e nordeste do país apresentando queda na população mais jovem, relativamente às demais regiões, enquanto o norte e o centro-oeste com crescimento da população com mais de 65 anos, superior à média brasileira, 5,08% e 5,53% respectivamente.

Se por um lado a mudança na estrutura etária está em linha com o processo de desenvolvimento do país, por outro, revela novas oportunidades e dificuldades a serem enfrentadas. Como a mudança de um perfil jovem, para uma população em idade mais avançada (acima de 64 anos), ainda está em curso no Brasil, há um potencial demográfico extremamente favorável para um cenário de crescimento econômico, pois há uma maior participação da parcela da população em idade ativa (de 15 a 64 anos).
Porém, essa parcela tende a se reduzir nos próximos anos, na medida em que as projeções são de que a taxa de fecundidade passe dos atuais 2% para 1,6% em 2030. Por outro lado, a esperança de vida ao nascer, que hoje é de 72 anos, deve atingir os 78 anos no mesmo período. Tal cenário projeta que, nos próximos anos, o país não estará garantindo a reposição das gerações.
Dessa forma, considerando o potencial de oferta de mão-de-obra para o mercado, o país tem condições de atingir taxas de crescimento do PIB maiores que a atual sem que isso possa esbarrar em deficiência nesse fator de produção, como acontece em diversos países europeus, como Alemanha, Holanda e França. Vale destacar que esse ponto é particularmente importante na medida em que não é apenas a riqueza presente que se deve gerar, mas também a construção de uma estrutura futura que venha abarcar as necessidades sociais dessa geração.
É justamente nesse ponto que reside o grande desafio do país nos próximos anos, com destaque para a previdência social, cuja velocidade das reformas não têm acompanhado esse processo de mudança estrutural. A permanecer a atual estrutura, corremos o risco de onerar de forma demasiada a parcela da população em idade ativa nos próximos anos. Justamente em um período em que a parcela da população em idade ativa poderá ser um limitador do crescimento econômico. É importante ressaltar que esse cenário não se aplica apenas ao INSS, sendo estendido para os planos de previdência de funcionários do setor público.
Os números médios para o Brasil escondem uma realidade regional perversa. A taxa de fecundidade ainda deve ser mais elevada em 2030 na região norte (1,93%) e nordeste (1,88%), relativamente ao que se projeta para o sudeste (1,35%) e sul (1,33%) do país. Além disso, as desigualdades também perduram entre mulheres que pertencem a um segmento de renda maior e com maior grau de escolaridade (com uma média de 1,5 filhos), relativamente às que pertencem a camadas mais pobres e com menor escolaridade, cuja média é de 4 filhos.
Da mesma forma pode-se afirmar que a disparidade regional perdurar em relação a expectativa de via ao nascer, que será maior no sul (79,5 anos) e sudeste (79,2 anos), do que a região norte (77,1 anos) e nordeste (76,6 anos). Os estados do Maranhão e Alagoas terão as menores esperanças de vida ao nascer, ao passo que o Rio Grande do Sul e o Distrito Federal registrarão as maiores.
Um dado alarmante refere-se aos impactos que as mortes por causas externas podem gerar sobre o equilíbrio demográfico do país nos próximos anos. Nesse caso, são os jovens do sexo masculino os mais atingidos, e devendo ser mais grave no Distrito Federal e nos estados do Rio de Janeiro e de São Paulo. Nesses três, a taxa de sobremortalidade masculina poderá chegar a um índice de 6, contra uma média brasileira de 3,5.
Como pode ser visto, a transformação sociodemográfica identificada pela pesquisa do IBGE revela uma transição suave e gradual entre essa geração e a próxima. Tal processo só não é mais positivo devido as deficiências existentes no sistema de saúde pública no país e poucos investimentos feitos em infra-estrutura de saneamento básico, leia-se acesso à água encanada e rede de tratamento de esgoto. Mas, a melhora nesses sistemas deverá resultar em uma queda mais rápida dos índices de mortalidade infantil que hoje estão em 25 por 1.000 nascidos vivos. Se quisermos garantir um país melhor daqui 20 anos, é necessário adaptarmos os programas sociais hoje existentes a uma nova realidade, menos assistencialista.

Publicado no Informe Econômico/FIERGS 02/01/2007


Nenhum comentário:

Postar um comentário