terça-feira, 29 de julho de 2014

TUDO CRESCE, ATÉ OS PREÇOS

Uma das principais fontes de risco à continuidade do ciclo de crescimento mundial, e que foi apontada no recente estudo elaborado pelo IMF(2007), é a pressão inflacionária de diversas commodities. É comum analisar o preço de produtos no mercado internacional a partir de uma divisão do que vem a ser os que estão relacionados a energia dos não-energia. No primeiro caso, destaque para o comportamento do preço do petróleo. As análises de mercado deixam claro que as maiores fontes de pressão sobre o preço do barril de petróleo são provenientes do desequilíbrio entre capacidade de oferta e a evolução do consumo. Se de um lado, os países da OCDE apresentam um arrefecimento da demanda, o que ajuda a controlar os preços, por outro, a rápida expansão das economias emergentes, em especial a da China, Índia e Rússia, reverte esse impacto.
        Apesar dos diversos investimentos de expansão da capacidade de extração que foram anunciados, e estão em andamento no mundo, é importante considerar a existência de um período de maturação para que os mesmos tenham efeito. Esse aparente desequilíbrio esperado para os próximos anos, materializa-se nos contratos futuros do produto. Em todo caso, quaisquer que sejam as projeções feitas, o preço do barril sinaliza uma cotação acima do patamar de US$ 70. Para complementar esse cenário, é importante citar os problemas de refino de petróleo nos EUA, que vem de longa data, na Europa e no Japão, e que resultam em uma maior dependência da importação de gasolina. No caso dos EUA, desde 1970 que não é construída uma nova refinaria. Todos os investimentos feitos até então são de adequação ou de ampliação das já existentes.

       Uma alternativa muito anunciada para compensar a menor capacidade de oferta de derivados de petróleo, é o uso de biocombustível. Porém, essa não é uma solução de curto prazo e ainda carece de regulação mais eficaz, além de uma política de longo prazo que priorize a concorrência, com a redução de impostos, e mais investimentos em pesquisas. Somente assim será possível ter uma produção mais eficiente e com menores impactos no meio-ambiente.
       Além disso, de um ponto de vista global, a capacidade instalada de processamento, seja de etanol ou de biodiesel, é muito baixa para conseguir amenizar o aumento recente do consumo. E, acima de tudo, é importante que se considere toda a cadeia de produção e de consumo envolvida, que vai desde o plantio até a adaptação dos veículos, o que prolonga sensivelmente os impactos positivos da implementação dessa política de substituição do produto. Dessa forma, o que se tem verificado no curto prazo é muito mais um custo de aumento de preços nos produtos básicos, como milho e soja, devido o desvio de produção, do que os benefícios de uma redução do preço dos combustíveis no mercado internacional. Dessa forma, a reversão desse quadro irá depender do sucesso da implantação dos biocombustíveis na matriz energética mundial, o que ainda deve ser um cronograma com atrasos.
       Outra fonte de risco inflacionário tem sido a evolução dos preços das commoditites agrícolas. Aqui, vários fatores podem ser citados, como a própria demanda por biocombustíveis. Para se ter uma idéia do impacto desse item, as projeções feitas são de que somente a produção de etanol nos EUA em 2007 deverá representar 60% do aumento da demanda mundial por milho, e os impactos sobre os preços já se fazem sentir na curva de contratos futuros. Resultados semelhantes têm sido notados na demanda por soja.
       Por fim, é importante citar um segundo fator de pressão sobre o preço dos alimentos, que é o forte crescimento dos países emergentes. A evolução da renda per capita, juntamente com a redução dos custos de transporte, tem permitido que cada vez mais pessoas tenham acesso à alimentação. As estimativas são de que somente a China represente cerca de 35-40% de todo o crescimento na demanda por soja e carne. Porém, destaca-se que esse aumento da demanda por alimentos segue uma tendência iniciada em 1990 e que, portanto, não é uma fonte de pressão recente, apenas contribui para complementar as demais.
       Estamos caminhando para mais um ano de forte crescimento econômico, o que deve encerrar um ciclo de seis anos. Os indicadores de diversos países indicam que há fôlego e condições macroeconômicas para que esse ciclo seja prolongado. Porém, uma fonte importante de risco de deterioração nesse cenário é a evolução do preço das commodities que ditam a inflação em diversas economias, sejam desenvolvidas ou emergentes. O ano de 2008 irá colocar à prova a capacidade dos governos e, em especial, nos Banco Centrais, em equilibrar a relação PIB e inflação, como forma de consolidar o recente ciclo de expansão.
       No Brasil já é possível sentir a parcela de pressão dos preços, do grupo alimentos, sobre a inflação, o que certamente contribuiu para uma parada técnica nas decisões de Política Monetária do COPOM. Dadas as projeções para 2008, essa fonte de risco ainda deve se fazer presente, e as implicações desse cenário vão desde as influências fiscais, até o processo de negociações salariais do próximo ano.

IMF – Global Prospects and Policies, WEO, October, 2007.


Publicado no Informe Econômico/FIERGS 12/11/2007

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