Uma das principais fontes de risco à continuidade do
ciclo de crescimento mundial, e que foi apontada no recente estudo elaborado
pelo IMF(2007), é a pressão inflacionária de diversas commodities. É comum
analisar o preço de produtos no mercado internacional a partir de uma divisão
do que vem a ser os que estão relacionados a energia dos não-energia. No
primeiro caso, destaque para o comportamento do preço do petróleo. As análises
de mercado deixam claro que as maiores fontes de pressão sobre o preço do
barril de petróleo são provenientes do desequilíbrio entre capacidade de oferta
e a evolução do consumo. Se de um lado, os países da OCDE apresentam um
arrefecimento da demanda, o que ajuda a controlar os preços, por outro, a
rápida expansão das economias emergentes, em especial a da China, Índia e
Rússia, reverte esse impacto.
Apesar dos diversos investimentos de expansão
da capacidade de extração que foram anunciados, e estão em andamento no mundo,
é importante considerar a existência de um período de maturação para que os
mesmos tenham efeito. Esse aparente desequilíbrio esperado para os próximos
anos, materializa-se nos contratos futuros do produto. Em todo caso, quaisquer
que sejam as projeções feitas, o preço do barril sinaliza uma cotação acima do
patamar de US$ 70. Para complementar esse cenário, é importante citar os problemas
de refino de petróleo nos EUA, que vem de longa data, na Europa e no Japão, e
que resultam em uma maior dependência da importação de gasolina. No caso dos
EUA, desde 1970 que não é construída uma nova refinaria. Todos os investimentos
feitos até então são de adequação ou de ampliação das já existentes.
Uma
alternativa muito anunciada para compensar a menor capacidade de oferta de
derivados de petróleo, é o uso de biocombustível. Porém, essa não é uma solução
de curto prazo e ainda carece de regulação mais eficaz, além de uma política de
longo prazo que priorize a concorrência, com a redução de impostos, e mais
investimentos em pesquisas. Somente assim será possível ter uma produção mais
eficiente e com menores impactos no meio-ambiente.
Além
disso, de um ponto de vista global, a capacidade instalada de processamento,
seja de etanol ou de biodiesel, é muito baixa para conseguir amenizar o aumento
recente do consumo. E, acima de tudo, é importante que se considere toda a
cadeia de produção e de consumo envolvida, que vai desde o plantio até a
adaptação dos veículos, o que prolonga sensivelmente os impactos positivos da
implementação dessa política de substituição do produto. Dessa forma, o que se
tem verificado no curto prazo é muito mais um custo de aumento de preços nos
produtos básicos, como milho e soja, devido o desvio de produção, do que os
benefícios de uma redução do preço dos combustíveis no mercado internacional.
Dessa forma, a reversão desse quadro irá depender do sucesso da implantação dos
biocombustíveis na matriz energética mundial, o que ainda deve ser um
cronograma com atrasos.
Outra
fonte de risco inflacionário tem sido a evolução dos preços das commoditites
agrícolas. Aqui, vários fatores podem ser citados, como a própria demanda por
biocombustíveis. Para se ter uma idéia do impacto desse item, as projeções
feitas são de que somente a produção de etanol nos EUA em 2007 deverá
representar 60% do aumento da demanda mundial por milho, e os impactos sobre os
preços já se fazem sentir na curva de contratos futuros. Resultados semelhantes
têm sido notados na demanda por soja.
Por fim, é
importante citar um segundo fator de pressão sobre o preço dos alimentos, que é
o forte crescimento dos países emergentes. A evolução da renda per capita,
juntamente com a redução dos custos de transporte, tem permitido que cada vez
mais pessoas tenham acesso à alimentação. As estimativas são de que somente a
China represente cerca de 35-40% de todo o crescimento na demanda por soja e
carne. Porém, destaca-se que esse aumento da demanda por alimentos segue uma
tendência iniciada em 1990 e que, portanto, não é uma fonte de pressão recente,
apenas contribui para complementar as demais.
Estamos
caminhando para mais um ano de forte crescimento econômico, o que deve encerrar
um ciclo de seis anos. Os indicadores de diversos países indicam que há fôlego
e condições macroeconômicas para que esse ciclo seja prolongado. Porém, uma
fonte importante de risco de deterioração nesse cenário é a evolução do preço
das commodities que ditam a inflação em diversas economias, sejam desenvolvidas
ou emergentes. O ano de 2008 irá colocar à prova a capacidade dos governos e,
em especial, nos Banco Centrais, em equilibrar a relação PIB e inflação, como
forma de consolidar o recente ciclo de expansão.
No Brasil
já é possível sentir a parcela de pressão dos preços, do grupo alimentos, sobre
a inflação, o que certamente contribuiu para uma parada técnica nas decisões de
Política Monetária do COPOM. Dadas as projeções para 2008, essa fonte de risco
ainda deve se fazer presente, e as implicações desse cenário vão desde as
influências fiscais, até o processo de negociações salariais do próximo ano.
IMF – Global Prospects and Policies, WEO, October, 2007.
Publicado no Informe Econômico/FIERGS
12/11/2007
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