terça-feira, 29 de julho de 2014

SOMOS COMPETITIVOS?

O termo competitividade é um dos que mais tem recebido definições diversas nos últimos anos. A despeito das defesas apaixonadas e das tentativas de se padronizar essa expressão, a verdade é que ainda estamos longe de homogeneizar a definição do que vem a ser competitividade. Para alguns ela se resume ao comportamento da taxa de câmbio, ou ao nível dos juros ou dos preços relativos, outros acreditam que ela esteja apenas relacionada a questões de logística e a relação que as empresas mantém com fornecedores e consumidores, e também há os que abordam a questão do ponto de vista da estrutura de mercado.
Uma coisa é certa, abordar o tema sob apenas um prisma é simplificar o problema. Há espaço para todas essas definições quando o assunto é competitividade. E, dada a dificuldade em se abordar todas a partir de um único modelo, o mais sensato é dizer que se têm indícios de perda ou ganho de competitividade.

A literatura de economia regional e urbana aborda a distância de uma região de centros consumidores e a influência sob o processo de desenvolvimento de suas empresas. Na mesma ciência é possível identificar termos como ganhos de escala, oferta de mão-de-obra qualificada, acesso à tecnologia, proximidade de fornecedores que auxiliam na formação de clusters, a disponibilidade de infra-estrutura de logística dentre outros.
Na microeconomia, é possível identificar as discussões acerca das diferenças de estrutura de mercado e suas influências sobre o poder das empresas de determinar preços e quantidades. Competição perfeita e imperfeita, monopólio, oligopólio e duopólio, são alguns dos modelos mais comuns. A macroeconomia também agrega o termo nas discussões que envolvem o comportamento da taxa de câmbio e sua influência sobre o balanço de pagamentos do país, nos índices de preços e no crescimento e desenvolvimento.
A despeito de todas essas questões, e ainda sob o risco de estar sendo simplista, nesse artigo abordamos um ponto importante nessa imensa literatura para apontar como questões tributárias e de política salarial, por exemplo, podem afetar a competitividade das empresas de maneira diferente nos estados. Para tanto, recorremos à pesquisa industrial anual do IBGE, que traz informações importantes sobre o setor no país. Nela, é possível verificar a participação dos custos das operações industriais, representados pelos custos de matérias-primas, matérias auxiliares e componentes, sobre o valor bruto da produção industrial. Em síntese, o que essa relação mostra, é o quanto representam os insumos no processo de transformação.
De uma maneira agregada, os custos de insumos representam 52% do total do valor da transformação industrial no Brasil. No Rio Grande do Sul essa relação sobe para 60%. Tal diferença pode estar associada a diversos aspectos: custos de transporte devido à distância dos fornecedores, estrutura de mercado, impostos locais, problemas de logística, dentre outros. Mas, tal relação guarda proporções distintas quando é feita entre os diferentes sub-setores.
Dentre os dez segmentos com maior participação no PIB industrial no Rio Grande do Sul, apenas quatro apresentam custos de matéria-prima menores que seus pares no Brasil. Apesar disso, é importante ressaltar que tal diferença não é tão significativa. O setor de fabricação de produtos de metal é o que guarda a maior diferença. Enquanto a média no Brasil é de uma participação do custo dos insumos de 46%, no Rio Grande do Sul essa está em 43%. Com certeza um diferencial de competitividade, mas que pode ser anulado nas demais etapas da cadeia produtiva se os custos de transporte e impostos no Rio Grande do Sul não corresponderem à realidade brasileira.
O segundo setor com maior diferença nesse conjunto é a fabricação de calçados, couros e artefatos. Em média, no Brasil os insumos participam com 54% no total da transformação industrial. No Rio Grande do Sul essa relação cai para 52%. As questões estruturais que cercam essa indústria no Estado devem contribuir de forma positiva para essa relação, mas a diferença é muito pequena para representar um ganho suficiente para reverter fatores regionais adversos, como custo de mão-de-obra, impostos e câmbio, muito mais importante para o setor no Rio Grande do Sul do que na média brasileira.
Os setores de fabricação e montagem de veículos automotores e de fabricação de móveis apresentam custos de matérias-primas menores que a média do Brasil, mas também de pequenas proporções, 1,3 e 0,9 ponto percentual a menos. Por outro lado, químicos, alimentos e bebidas e máquinas e equipamentos, que juntos representam cerca de 41% do PIB industrial no Rio Grande do Sul, apresentam um significativo diferencial de custo de matéria-prima em relação a seus pares no Brasil. 
Com certeza a competitividade de um setor não representa a realidade de uma empresa, e muito menos se reduz a uma simples relação entre custo de matéria-prima e valor da produção. Porém, é um indício de que as questões de infra-estrutura, impostos, preços e custos de transação tornam-se mais importantes para uma economia como a do Rio Grande do Sul, que se encontra longe dos maiores mercados consumidores do país.


Publicado no Informe Econômico/FIERGS 26/02/2007

Nenhum comentário:

Postar um comentário