O termo
competitividade é um dos que mais tem recebido definições diversas nos últimos
anos. A despeito das defesas apaixonadas e das tentativas de se padronizar essa
expressão, a verdade é que ainda estamos longe de homogeneizar a definição do
que vem a ser competitividade. Para alguns ela se resume ao comportamento da
taxa de câmbio, ou ao nível dos juros ou dos preços relativos, outros acreditam
que ela esteja apenas relacionada a questões de logística e a relação que as
empresas mantém com fornecedores e consumidores, e também há os que abordam a
questão do ponto de vista da estrutura de mercado.
Uma coisa é
certa, abordar o tema sob apenas um prisma é simplificar o problema. Há espaço
para todas essas definições quando o assunto é competitividade. E, dada a
dificuldade em se abordar todas a partir de um único modelo, o mais sensato é
dizer que se têm indícios de perda ou ganho de competitividade.
A literatura de
economia regional e urbana aborda a distância de uma região de centros
consumidores e a influência sob o processo de desenvolvimento de suas empresas.
Na mesma ciência é possível identificar termos como ganhos de escala, oferta de
mão-de-obra qualificada, acesso à tecnologia, proximidade de fornecedores que
auxiliam na formação de clusters, a disponibilidade de infra-estrutura de
logística dentre outros.
Na
microeconomia, é possível identificar as discussões acerca das diferenças de
estrutura de mercado e suas influências sobre o poder das empresas de
determinar preços e quantidades. Competição perfeita e imperfeita, monopólio,
oligopólio e duopólio, são alguns dos modelos mais comuns. A macroeconomia
também agrega o termo nas discussões que envolvem o comportamento da taxa de
câmbio e sua influência sobre o balanço de pagamentos do país, nos índices de
preços e no crescimento e desenvolvimento.
A despeito de
todas essas questões, e ainda sob o risco de estar sendo simplista, nesse
artigo abordamos um ponto importante nessa imensa literatura para apontar como
questões tributárias e de política salarial, por exemplo, podem afetar a
competitividade das empresas de maneira diferente nos estados. Para tanto,
recorremos à pesquisa industrial anual do IBGE, que traz informações
importantes sobre o setor no país. Nela, é possível verificar a participação
dos custos das operações industriais, representados pelos custos de
matérias-primas, matérias auxiliares e componentes, sobre o valor bruto da produção
industrial. Em síntese, o que essa relação mostra, é o quanto representam os
insumos no processo de transformação.
De uma maneira
agregada, os custos de insumos representam 52% do total do valor da
transformação industrial no Brasil. No Rio Grande do Sul essa relação sobe para
60%. Tal diferença pode estar associada a diversos aspectos: custos de
transporte devido à distância dos fornecedores, estrutura de mercado, impostos
locais, problemas de logística, dentre outros. Mas, tal relação guarda proporções
distintas quando é feita entre os diferentes sub-setores.
Dentre os dez
segmentos com maior participação no PIB industrial no Rio Grande do Sul, apenas
quatro apresentam custos de matéria-prima menores que seus pares no Brasil.
Apesar disso, é importante ressaltar que tal diferença não é tão significativa.
O setor de fabricação de produtos de metal é o que guarda a maior diferença.
Enquanto a média no Brasil é de uma participação do custo dos insumos de 46%,
no Rio Grande do Sul essa está em 43%. Com certeza um diferencial de
competitividade, mas que pode ser anulado nas demais etapas da cadeia produtiva
se os custos de transporte e impostos no Rio Grande do Sul não corresponderem à
realidade brasileira.
O segundo setor
com maior diferença nesse conjunto é a fabricação de calçados, couros e
artefatos. Em média, no Brasil os insumos participam com 54% no total da
transformação industrial. No Rio Grande do Sul essa relação cai para 52%. As
questões estruturais que cercam essa indústria no Estado devem contribuir de
forma positiva para essa relação, mas a diferença é muito pequena para
representar um ganho suficiente para reverter fatores regionais adversos, como
custo de mão-de-obra, impostos e câmbio, muito mais importante para o setor no
Rio Grande do Sul do que na média brasileira.
Os setores de
fabricação e montagem de veículos automotores e de fabricação de móveis
apresentam custos de matérias-primas menores que a média do Brasil, mas também
de pequenas proporções, 1,3 e 0,9 ponto percentual a menos. Por outro lado,
químicos, alimentos e bebidas e máquinas e equipamentos, que juntos representam
cerca de 41% do PIB industrial no Rio Grande do Sul, apresentam um
significativo diferencial de custo de matéria-prima em relação a seus pares no
Brasil.
Com certeza a
competitividade de um setor não representa a realidade de uma empresa, e muito
menos se reduz a uma simples relação entre custo de matéria-prima e valor da
produção. Porém, é um indício de que as questões de infra-estrutura, impostos,
preços e custos de transação tornam-se mais importantes para uma economia como
a do Rio Grande do Sul, que se encontra longe dos maiores mercados consumidores
do país.
Publicado no Informe
Econômico/FIERGS 26/02/2007
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