O PAC, programa
de aceleração do crescimento, é composto de cinco grandes temas. Considerando o
tópico relacionado aos investimentos em infra-estrutura, é possível identificar
pontualmente as ações propostas pelo governo para o período de 2007-2010, tanto
no que diz respeito a áreas de interesse por tópico, como produção e
comercialização de petróleo e derivados, construção de estradas e melhorias no
saneamento básico quanto pela regionalização desses investimentos. Nesse
aspecto, o programa é interessante, e representa uma evolução no processo de
transparência de ações do setor público e na relação com a sociedade. Porém, há
elementos que devem ser considerados nessa análise, e que reduzem a importância
do programa como promotor de um crescimento econômico em um patamar mais
elevado.
Como se sabe, do
total de recursos previstos para os próximos quatro anos, R$ 503 bilhões,
apenas R$ 67 bilhões devem vir do orçamento da União. Tais números revelam o
quanto é restrita a disponibilidade de recursos para investimento por parte da
União, a despeito da desvinculação de receitas (DRU) e do constante aumento da
arrecadação de impostos e contribuições que se verificou nos últimos anos.
Uma parcela significativa
dos investimentos seria de responsabilidade das estatais federais, além de
fontes de financiamento e também da disponibilidade do setor privado. Nesse
ponto, o PAC mostra uma de suas mais importantes fragilidades. O governo
pretende aumentar os recursos para financiamento aos investimentos de longo
prazo, para o setor de habitação e também para saneamento. Só que está se
esquecendo de combinar com os demais participantes. Ou seja, nada garante que a
simples disponibilidade de recursos venha a atrair os investidores, que
demandam regras claras nesse processo, segurança jurídica em relação a
contratos e também um ambiente institucional propício. Aspectos esses que
estiveram ausentes no PAC.
É importante
ressaltar que, no caso dos investimentos de responsabilidade do setor público,
seja de origem do orçamento da União ou então das empresas estatais, há uma
série de ações apresentadas no âmbito do PAC, que já haviam sido definidas na
aprovação do orçamento para 2007. Ou seja, o governo fez do limão, uma limonada
ao repetir diversos projetos de investimento. Mais especificamente, a Região
Sul está claramente definida como coadjuvante no cenário nacional, uma vez que
deverá participar com apenas 11% do total de investimentos em infra-estrutura.
Uma representação pequena se comparada com a sua importância econômica de 18%
do PIB, relativamente à sua população, que representa 14,7% do total do Brasil e
também em relação às exportações, onde a região responde por 20% do que o país
exporta.
No caso do Rio
Grande do Sul as projeções traçam um cenário ainda mais distorcivo. De todos os
projetos apresentados como estratégicos para o governo federal no Rio Grande do
Sul, para os próximos quatro anos, apenas quatro não estavam presentes no
orçamento de 2007.
No item
transporte, o orçamento da União já previa R$ 350 milhões para o estado do RS
em 2007, e os mesmos empreendimentos foram posteriormente apresentados no PAC.
Dois dos quais são demandas antigas e emergenciais, como a duplicação da BR 101
no trecho Osório-Torres (R$ 223 milhões) e a ampliação dos molhes e dragagem no
porto de Rio Grande (R$ 22 milhões). Na parte de geração de energia elétrica,
dos oito empreendimentos apresentados no PAC, três já constavam do orçamento da
União, em especial a ampliação da UTE Canoas (R$ 127 milhões) e a UTE Candiota
III com R$ 421 milhões. Destaca-se que está previsto um investimento de R$ 79
milhões por parte da Petrobrás para a ampliação da capacidade de escoamento de
petróleo. Porém, dentro do PAC, o Rio Grande do Sul ficou de fora do projeto
nacional dos investimentos em gás natural, bem como na construção de metrô, que
beneficiam as cidades de Fortaleza, Recife, Salvador, Belo Horizonte e São
Paulo. Nesse item, o Ministério das Cidades reservou apenas R$ 4,2 milhões para
modernização do sistema de trens urbanos de Porto Alegre.
Assim, no
total, o orçamento da União já previa, em seu conjunto, que as empresas
estatais federais deveriam investir no Rio Grande do Sul R$ 1 bilhão em 2007. A
princípio esse número pode parecer grande. Porém, é apenas 2% do total previsto
por todas as estatais para o Brasil (R$ 49 bilhões). Ressalta-se que um dos
poucos projetos contemplados pelo RS no PAC é a implantação do novo complexo
logístico do aeroporto de Porto Alegre e ampliação da pista de pouso e de
decolagem. Porém, não há referência a datas de início das obras e muito menos
de valores.
Diante do
exposto, parece claro que, ou o governo federal acredita que não há necessidade
de maiores somas de investimento em solo gaúcho, que já contamos com uma
infra-estrutura de rodovias, portos, aeroportos, fornecimento de energia, gás e
de saneamento e habitação, ou então que nossa economia não tem papel
estratégico no processo de aceleração do crescimento do país. Qualquer das duas
alternativas, deveria fazer ecoar dos gaúchos que participam do governo federal
a frase: o que é isso companheiro?
Publicado no Informe Econômico/FIERGS
21/02/2007
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