Durante anos a região sul tem apresentado uma performance razoável de
crescimento frente a seus pares no país. De 1985 a 2003, o PIB dos três estados
do sul em conjunto cresceram 74% (último dado disponível), média de 3,1% a.a.,
ao passo que, para o mesmo período, o PIB do Brasil cresceu 55% (média de 2,5%
a.a.), contribuindo para a região aumentar a sua participação na riqueza
nacional, de 17,1% em 1985 para 18,6% em 2003. Nesse cenário, destaque para o
desempenho do PIB do Paraná, com expansão de 102% (média de 4% a.a.), enquanto
o Rio Grande do Sul cresceu apenas 51% (média de 2,3% a.a.).
Em alguns momentos, a região sofreu diretamente os efeitos negativos do
cenário nacional, como em 1988. Nesse ano, apesar de não ter ocorrido uma queda
conjunta no PIB dos três estados, o PIB da região caiu 0,6%, e a produção
agropecuária teve a segunda maior queda dos últimos 20 anos (-7%), com 14% de
retração no Paraná e 4,3% no Rio Grande do Sul. Vale ressaltar que nesse ano, o
PIB do setor, no Brasil, também se reduziu, contribuindo para agravar a crise
regional, por seus impactos sobre a produção industrial em Santa Catarina e no
Rio Grande do Sul.
Porém, o único momento da história econômica da região em que foi
possível presenciar uma combinação de queda do PIB nos três estados, foi em
1990, em meio a turbulências políticas e do forte ajuste macroeconômico que foi
imposto no país. A produção agrícola caiu 3,4% nos três estados do sul, com
destaque para a retração no Rio Grande do Sul (-9,2%). Na mesma linha, a
indústria de transformação também teve queda, com o Rio Grande do Sul
apresentando o pior resultado, -12,5%.
A partir de então, e em especial após o Plano Real, não se presenciou
mais um movimento conjunto de queda no PIB. Enquanto o setor agrícola
apresentava performance negativa em um estado, em outro era possível
identificar um crescimento vigoroso que amenizava esses impactos negativos.
Cenário idêntico presenciou-se no setor industrial e também relativamente ao
comportamento do PIB brasileiro.
Entretanto, os choques econômicos do biênio 2004-2006 podem contribuir
para quebrar esse jejum na região. Após um ciclo positivo de produção e preço
de soja no país, com impactos positivos na renda do campo (ressalta-se que a
região sul produz 33% da soja do Brasil), a seca que assolou o Rio Grande do
Sul e o Paraná e a valorização do câmbio, derrubaram não apenas o PIB agrícola,
mas também causou impactos negativos na indústria e no comércio. Além disso, o
ciclo de taxas de juros reais elevadas e a valorização do câmbio, atingiram em
cheio o desempenho da indústria de transformação.
O ano de 2005 encerrou com queda de 3,5% na produção industrial no Rio
Grande do Sul e, mesmo o crescimento de 1,3% do setor no Paraná e de 0,04% em
Santa Catarina, não foram suficientes para impedir uma nova retração da produção
industrial no sul do país. Os resultados dos primeiros cinco meses do ano
mostram uma piora nesse cenário. Novamente, os três estados do sul caminham
para uma retração conjunta na produção industrial. No acumulado do ano essa
encontra-se em -3,2% no Rio Grande do Sul, -2,9% no Paraná e -0,7% em Santa
Catarina, ao passo que para o Brasil verifica-se um crescimento de 2,97%.
Analisando os segmentos industriais, podemos identificar três gêneros que
na região estão em queda, enquanto que registram uma expansão no Brasil. São
eles: alimentos e bebidas, máquinas e equipamentos e montagem de veículos. No
caso de alimentos e bebidas, é a produção de conservas de peixe e biscoitos que
puxam a indústria, ao passo que, na região sul é a queda na produção de carnes
e miudezas de frango que contribui para um desempenho pior nesse segmento.
Para o caso de máquinas e equipamentos, a explicação ocorre no perfil de
produto fabricado. No país, é a produção de refrigeradores, congeladores e
motoniveladores que puxa o segmento, produtos que não fazem parte da pauta de
produção da região sul. Por outro lado, a queda na produção de máquinas e
implementos agrícolas e também da produção de máquinas para a indústria de
celulose derruba a produção industrial no sul. Por fim, a diferença de
performance na montagem de veículos se explica na queda da produção de
automóveis e autopeças, alicerçada na retração das exportações do produto por
parte do estado do Paraná.
Como
pode ser visto, o cenário de retração na produção dos estados do sul está
fortemente relacionado com aspectos conjunturais, que potencializam a perda
devido o perfil produtivo da região estar fortemente relacionado com o setor
agropecuário e do desempenho das exportações. Dada a dificuldade em se
modificar a estrutura produtiva no curto prazo, e como as variáveis
conjunturais que tem contribuído para esse impacto negativo devem perdurar para
os próximos meses, é possível que o ano de 2006 repita a queda conjunta no PIB
dos três estados, a exemplo do ocorrido em 1990. Porém, com menor turbulência
política e sem choques de natureza macroeconômica.
Publicado no Informe
Econômico/FIERGS 31/07/2006
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