Em março desse
ano foi aprovado na China o 11th FYP (Five
Year Plan), que traça as diretrizes de investimentos e ações políticas do
governo para os próximos cinco anos (2006-2010). O foco desse último projeto é
a redução das desigualdades no país, que se acentuaram na última década com o
crescimento assimétrico entre as diferentes regiões, seja quando se compara a
parte litorânea com a central, ou norte com sul. Como se sabe, a região
litorânea da China é a que apresenta a maior concentração de empresas, capital
humano e renda per capita, relegando ao centro do país e às regiões mais
remotas a uma situação econômica mais precária. Além de procurar reduzir essas
desigualdades, a orientação de crescimento no país será feita no sentido de
expandir o mercado interno e com uma política social mais populista, em
especial para o segmento da população rural e o migrante. O desafio será
grande, pois é necessário equacionar a entrada de cerca de 800 milhões de
pessoas nesse mercado sem que tal processo resulte em uma perda de bem-estar
para o restante da população, inche os centros urbanos e gere desequilíbrios
macroeconômicos.
Enquanto a
década de 1980 pode ser apontada como a “era de Shenzhen”, nome de uma cidade
localizada na província de Ghangdong, ao
sul do país e a primeira zona econômica especial da China, a década de 1990 foi
a “era de Shanghai”, conhecida como a maior cidade do país e o terceiro maior
centro financeiro do mundo, atrás apenas de Nova York e Londres. Agora, a nova
era para a economia chinesa contempla duas outras províncias, Tianjin e Chongqing,
que deverão receber maior atenção do governo central. Para se ter uma idéia
dessa nova orientação de política de desenvolvimento, estão previstos gastos da
ordem de US$ 43,5 bilhões em renovação industrial na região de Chongqing,
província que possui 99 milhões de habitantes e já tem uma economia pujante.
Segundo estimativas do governo, em cinco anos o PIB dessa província deverá
atingir US$ 174 bilhões, o dobro do valor atual.
Além de
priorizar o desenvolvimento dessas duas regiões nos próximos anos, o projeto
também traça diretrizes de investimento, em termos nacionais, para o setor de
infra-estrutura de transporte rodoviário: construir 38.000 km de rodovia em
cinco anos, ao custo total estimado de US$ 12,5 bilhões. Considerando que sejam
utilizados os sete dias da semana para trabalho durante esse período, então
pode-se esperar que, a cada dia, surja no país 20 quilômetros de novas rodovia
pavimentada.
Como
salientado anteriormente, o país tem uma grande desigualdade de renda e de
oportunidades entre as regiões, e o governo Chinês entende que, aumentar os
recursos de investimento em estradas é uma estratégia importante para minimizar
essas deficiências. E ele está certo. Diversos programas que foram avaliados
pelo ADB (Asian Development Bank),
importante agente financiador de projetos na região e que já aportou US$ 6,4
bilhões em construção de estradas na China de 1991 até hoje, totalizando 4,4
mil quilômetros.
Estudos
atestam que a infra-estrutura rodoviária tem contribuído para reduzir a pobreza
no país nos últimos anos não apenas por permitir de forma direta a melhoria da
camada mais pobre da população, que passa a ter acesso a diversos outros bens
disponíveis no mercado, mas também por diversificar suas fontes de renda, além
de contribuir para a melhora da produtividade das pequenas empresas locais e
dos produtores rurais.
O primeiro
sinal dessa ação pode ser visualizado em um projeto enviado no mês de junho
último pelo governo Chinês ao ADB, e que propõe a construção de 428 km de
estradas na província de Heilongjiang, localizada no nordeste do país e que faz
divisa com a Rússia. Destaca-se que tal região foi escolhida devido a sua
importante localização geográfica e o fato de já possuir uma infra-estrutura de
produção instalada, com destaque para os segmentos de petróleo, carvão,
metalurgia, aço e na produção de máquinas e equipamentos. Na verdade, a província de Heilongjiang era
uma base industrial do país nos anos 1980 mas, com os baixos investimentos
realizados pelo governo local e nacional em diversos ramos, em especial em
infra-estrutura, a província foi perdendo importância econômica relativa.
Agora, a região deverá se beneficiar da redução dos custos de logística, o que
deverá contribuir para aumentar a competitividade das empresas exportadoras ali
instaladas (a província tem uma área 1,8 vezes maior que o RS, população de 37
milhões de habitantes, PIB de US$ 53 bilhões e exporta cerca de US$ 4 bilhões
por ano).
Como pode ser visto, nesse
11th FYP, os responsáveis pelas diretrizes do crescimento e desenvolvimento do
país, cientes da necessidade de devolver a competitividade das indústrias ali
localizadas, em especial diante de uma redução dos custos de logísticas,
incluíram diversos projetos relacionados a investimentos em infra-estrutura. O
projeto do governo Chinês pode parecer ambicioso, mas representa o anseio dos
políticos de elevar o país à posição de maior potência econômica no mundo em um
espaço de 30 anos. E, para isso, sabem que é necessário planejamento,
disciplina e, acima de tudo, comprometimento.
Publicado no Informe
Econômico/FIERGS 14/08/2006
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