O rápido
crescimento econômico da Ásia nas três últimas décadas contribui para reduzir a
diferença de renda per capita da região em relação aos países desenvolvidos, ao
contrário do cenário verificado na América Latina. Em 1970, a renda per capita
da Ásia representava apenas 15% da renda per capita dos EUA, enquanto a América
Latina tinha uma renda equivalente a 26% da americana. Desde então essa relação
veio se invertendo. Enquanto a região asiática investia nas reformas
estruturais com foco na melhoria do ambiente institucional e no processo de
“incentivo às exportações”, a América Latina debatia a importância de se
integrar ao mundo e se fechou no falido modelo de “substituição de
importações”. Como resultado, a participação da região asiática no comércio
mundial mais do que dobrou entre 1970 e 2005, ao passo que a participação da
América latina caiu. Tal estratégia de intensificar relações comerciais com o
resto do mundo, não fazendo distinção de cor, sexo, raça e religião, resultou
em ganhos de renda para a região. Em 2005 a renda per capita da Ásia atingiu a
26% da verificada nos EUA, enquanto a América Latina experimentou o
empobrecimento relativo, com sua renda per capita hoje representando apenas 20%
da verificada nos EUA.
A performance
asiática pode ser analisada a partir do comportamento da produtividade na
região, em especial a que está relacionada ao trabalho. A literatura econômica
coloca o fator produtividade como variável importante na determinação do
crescimento de longo prazo nos países. Porém, apesar da dificuldade em
mensurá-la, não obstante, é possível encontrar relações de quão produtivo está
a economia, seja do ponto de vista global, setorial ou então desagregando a
mesma em outros fatores.
Assim, a
análise das diferenças de crescimento da produtividade entre países no período
de 1965-2005, ajuda a compreender melhor seus fatores determinantes. De uma
maneira geral, os países que tiveram maior crescimento da produtividade nesse
período, também apresentaram melhora relativa nas instituições, com aumento da
transparência no setor público, constituição de regras mais claras e críveis de
investimento e de relação entre o setor público e privado e entre os agentes
privados; um sistema financeiro mais desenvolvido (concorrência e segurança
jurídica nos contratos); um clima mais favorável aos investimentos, seja do
ponto de vista de redução de custos para se começar um negócio seja na
receptividade da participação do capital privado na economia; melhor
infra-estrutura, menores restrições a políticas de comércio, onde a China,
Índia e o Chile são bons exemplos de intensificação dos acordos comerciais
bilaterais e, também, um maior nível educacional, com investimento em qualidade
de ensino.
Os números
revelam que a Ásia teve uma performance melhor que as demais regiões, em
especial a América Latina, em muitos desses indicadores. Destaque para a
melhora no ambiente institucional, na abertura comercial e no desenvolvimento
do setor financeiro. É claro que há muita disparidade dentro da região, com a
China apresentando melhores resultados no que diz respeito à facilidade na
abertura de empresas, na qualidade das instituições e nos anos de escolaridade.
Por outro lado, a América Latina peca por apresentar deficiências na abertura
comercial, qualidade institucional e desenvolvimento do setor financeiro. Não é
para menos, os governantes Latino-Americanos ainda não se convenceram dos
benefícios de maior comércio, e a região se vê com dificuldades em respeitar
contratos (vide exemplos recentes da Argentina, Venezuela e Bolívia). Além
disso, muitos países da América Latina relutam em tornar as suas instituições
públicas mais transparentes, e se sentem bem quando combatem os investimentos
privados. É uma escolha, que tem o seu preço. Sempre vai ter um outro país que
irá querer receber investimentos privados, sem hostilidade.
O crescimento
recente da Ásia não é repentino e surgiu sobre bases bastante sólidas. É o resultado
de um esforço concentrado da região nas últimas décadas em ocupar um lugar de
destaque no mundo dos negócios. Eles sabem que tem potencial em função de
disponibilidade de mão-de-obra e, mesmo possuindo uma menor quantidade de
recursos naturais, souberam explorar suas vantagens comparativas, e investiram
em capital humano e na atração do capital físico, reduzindo as barreiras ao
investimento e ao desenvolvimento de mercados. Analisando o passado, temos boas
lições a aprender com os asiáticos.
Olhando para
o futuro, podemos traçar um cenário onde a competição para os investimentos
será mais acirrada. A Ásia conhece as deficiências que se afloram diante de uma
economia que se desenvolve rapidamente, e já discute diversas reformas
estruturais como estratégia para manter a sua competitividade na atração de
investimentos privados. Mas, oportunidades sempre existirão, e se a América
Latina conseguir se livrar das propostas econômicas da década de 1970, do
populismo e do paternalismo, que se materializa no exemplo de programas de
transferência de renda, como o bolsa-família, e voltar os olhos para o
investimento em educação, teremos a oportunidade de, pelo menos, recuperar
parte do terreno perdido.
Publicado no Informe Econômico/FIERGS
23/10/2006
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